Esquecimento esquecido
Quem nunca disse não vou esquecer e esquecendo-se do que
disse, esqueceu?
Dizem que nunca vai esquecer aquela
ou essa pessoa, aquele ou esse acontecimento, esse ou aquele bichinho de
estimação e acabam esquecendo tudo e todos que disseram um dia que não
esqueceriam. Talvez seja por ter esquecido que disse que não esqueceria, ou por
força de vontade muito tempo trabalhada, que os elementos inesquecíveis
tornaram-se esquecidos. Tornaram-se renegados a um canto empoeirado de coisas
inúteis que serviram em um passado, próximo ou distante, e que agora, no
presente, futuro desse passado, não têm mais lugar para nenhum deles.
As pessoas esquecem facilmente do
que foi bom e que, por que foi bom causa dor no presente, gerou o inesquecível.
Todos gostam do momento e do caminho eterno que as coisas boas causam, mas
rejeitam todas as lembranças boas que delas originam-se apenas porque não sabem
lidar ou com a dor da perda ou com a infinitude de risos e nostalgia que elas
geram, nesse presente tão distante e tão estranho. Estranho justamente pela
falta de seres e objetos que fizeram, lá atrás, a felicidade.
Quem nunca esqueceu,
deliberadamente?
Quem nunca esqueceu, sem querer?
O problema de esquecer, de uma
forma ou de outra, não é o fato em si. Mas a espera e as expectativas de todos
que acreditaram que não seriam esquecidos. São nessas expectativas e nessa
espera que o esquecimento causa suas dores, suas revoltas e suas tristezas.
Deveríamos, jamais, dizer que não
vamos esquecer quando sabemos, previamente, que isso será impossível de ser
cumprido.
Então, nesse momento em que
possivelmente está lembrando-se de algo ou alguém (ou o que é mais terrível
ainda, lembrando-se de algum animal de estimação), esqueça!
É infinitamente melhor continuar
fingindo que esqueceu e provar parte do amargo que provocou do que tentar
fingir que a vida não deu oportunidade, porém sempre lembrou.
Na mesma velocidade que lembrou,
esqueça. É mais saudável.
Quem nunca fez isso também?
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