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Mostrando postagens com o rótulo MPB

Entre sujeiras e miolos XIX

 Jura Secreta. Você se Lembra. Caravana. As músicas se revezam na playlist aleatória. Eu tento resolver problemas de conciliação bancária da NEO Benefícios. Lá fora, outras músicas, outras vidas,, outros sofrimentos, outras alegrias em stand by.  O vento me revela tudo, até os desejos que ficam pelo caminho.  E tudo o que penso são ansiedades (descobertas recentemente) por uma vida que me absorve, mastiga, rumina e cospe de volta.  E o que eu quero? O que eu gosto de fazer?  Passou da hora de fazer a minha própria felicidade, da forma mais egoísta que posso encontrar - limitada a mim mesmo.  Porque, olhando bem, reconhecendo o que gosto, quero e preciso vivenciar, o medo de não ser quem preciso ser é tão pequeno que chega a ser vergonhoso negar-me a mim mesmo esse direito.  Always Remember Us This Way. Miragens. Hallelujah. 

Pétalas e velas

Quem nunca ouviu uma pessoa sem criatividade ou que ama o clichê querer fazer de um quarto um jardim infernal, espalhando pétalas de rosas no chão, na cama, nas roupas e iluminando tudo com velos "aromáticas" sufocantes? E quando isso é em casa há o amadorismo ridículo que transforma a cena ideal, vista em filme ou série, em um arremedo de lixo de floricultura. Todo ano tem sempre alguém que pense nisso.  Alguns homens até levam suas mulheres para motéis baratos em alguma promoção só porque terá as benditas pétalas de rosas e as tais velas.  A mistura absurda que fazem entre sexo e amor chega a ser enervante de tão ignorante. Desenvolvemos tecnologias e não compreendemos a diferença entre amor e sexo. Considerando que o que essas pessoas que amam destruir rosas e sufocar-se no "cheiro" dessas velas aromáticas querem é apenas sexo à cinema, o que elas têm, no máximo, é uma rapidinha que sempre acaba em algum desentendimento - ou porque o sexo nunca é sem b...

"Se ficar de 4 é 4 anos de pau dentro"

Um hit que parece que vai ser o jingle natalino na periferia não está sendo atacado por ser "vulgar" ou de mal gosto, mas por prometer o que os homens não podem cumprir - quatro horas de sexo direto na mesma posição. A velha mania de falar mais do que fazer parece ser uma característica nata do brasileiro, da periferia à Capital Federal. Na periferia os lekes e os malandros prometem fodas homéricas enquanto que a verdadeira trepada, que arreganha e assa o povo, ocorre em Brasília. Robinho Destaky,  Abalo e Fernandinho Problema, ícones da Música Popular Brasileira, popularizaram o Brasil, que ficou de quatro nas eleições 2018 e agora vai levar pau durante quatro anos - porque o tempo, numa foda, depende do tamanho do rabo de quem está, alegremente, de quatro. Isso, sem sombras de dúvidas, é o Brasil: uma novinha de quatro levando pau do macho que canta funk, ou de que quem cita o famoso slogan "O Brasil acima de Tudo. Deus acima de Todos".

A seca do carcará

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Foto: Palmeira dos Índios- AL. Dez/2016. Rafael Rodrigo Marajá Caminhar pelo interior na primavera chega a ser irônico. E, quase sempre, dá para fazer referência ao escritor Graciliano Ramos e o seu Vidas Secas, principalmente quando a região do passeio é Palmeira dos Índios. É um calor sem medidas, é uma vegetação seca que arranha as canelas e uma poeira sem limites. Caminhando por aí é provável que se encontre uma revoada de urubus ou outras aves de rapina esperando a próxima morte ou o próximo cadáver jogado à beira das estradas de terra batida. Essas aves são verdadeiros presentes para quem vai caminhando sob o sol escaldante de fim da primavera, rasgando as canelas e engolindo a poeira nossa de cada dia.  Quando abrem suas asas  e alçam voos vorazes sobre os transeuntes pode-se, até, lembrar da saga de Fabiano pelo sertão brabo de Palmeira dos Índios de outrora. E agora que a água está definitivamente acabando e o verão se aproximando é capaz de ter mais carni...

A canção mais linda

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Uma das canções mais lindas que já ouvi é surpreendentemente atemporal. Do repertório do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, A vida quis assim é simplesmente bela, emocionante e rica – um exemplo da beleza da poesia brasileira e da sonoridade das palavras. Com um arranjo à altura da poesia, através da voz ímpar de Montenegro, essa canção é capaz de arrebatar qualquer um que esteja sensível ao belo e ao sublime. A primeira vez que a ouvi foi por obra do acaso quando elaborava uma apresentação para uma aula na pós-graduação. Em meio aos princípios pedagógicos que seriam ensinados, e pensando seriamente sobre eles e sua aplicabilidade em sala de aula, acabei esbarrando em A vida quis assim no youtube e foi encanto à primeira vista. Já a reproduzi dezenas de vezes e continuo ouvindo sem cansaço porque ela é simplesmente inspiradora. Há quem não goste de alguns ramos da Música Popular Brasileira – e prefira exclusivamente, quase sempre, o funk (que eu também gosto) ou alguns hits d...

Padres Catra

A modinha religiosa dos últimos tempos sofreu um revés que se parece muito com a contra-reforma católica – os padres saíram com fervor para arrebanhar as ovelhas (não carneiros, só ovelhas), tomando o espaço dos cantores gospéis  e ridicularizando a vanguarda católica do show business. Quem assiste a programação da TV aberta não consegue mais, e isso já tem um tempo, ficar cinco minutos sem ouvir a gritaria lamuriosa de um padre ou outro. E tal qual a classe protestante, apareceram padres cantores da mpb, do sertanejo e, se deixarmos, logo logo o Funk católico aparece por aí também para completar a quebra e mais um selo apocalíptico. E não entenda que há preconceito em um padre vestir uma calça tão apertada que dá para notar cada ruga peniana ou que um padre não possa pregar no além-igreja. Muito pelo contrário. Na vanguarda do movimento católico tínhamos músicas que frequentavam os corais das igrejas e que despertavam bons sentimentos em crianças, adolescentes e adultos sem ...

Nara Leão: A Musa dos Trópicos

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Não é difícil ouvir, por aí, uma confusão entre os conceitos de Bossa Nova e Música Popular Brasileira. E da mesma maneira comum, não é fácil ouvir falar de Nara Leão, Elis Regina, da Bossa Nova e da história brasileira através da música, da boa música. Também não é razoavelmente encontrável uma obra que tenha tudo isso, raridades, e que ainda pareça um romance, que embala o leitor na vida e obra de quem é alicerce. Capa da Obra É assim que é Nara Leão: A Musa dos Trópicos , do escritor e jornalista Cássio Cavalcante . Na obra, Cavalcante torna a Nara, cantora, a companheira do leitor amante da música; torna Nara, a pessoa particular, um exemplo de querer o melhor, mesmo pagando os custos da fama ou do autoritarismo; torna Nara, a amiga, em um exemplo de amizade. Torna Nara em Musa, ou melhor, evidencia este fato. Nara Leão: A Musa dos Trópicos pode se entendida como meio biografia meio romance; meio Brasil meio Mundo; meio partitura meio letra – sempre canção. De tudo ...

Mandinga #12

"...pra ter seu amor fiz mandinga ..."       Verdade - Zeca Pagodinho Mandinga talvez seja a característica mais peculiar do povo brasileiro, isto é, do povo afro-brasileiro desta região do globo sem etnia e religião definidas, sem cultura única, sem, como cita Mário de Andrade em Macunaíma, sem caráter, com som exclusivo. É um ato de uso particular dos filhos do candomblé herdados de nossos ancestrais africanos e utilizado por todos, mesmo que inconscientemente. Por amor, ódio, paixão, riquezas, conhecimento; em todas as buscas o ato de mandingar faz-se presente. Nem sempre a mandinga propriamente dita mas sim uma sutil que, não raro, aparece na rotina de homens e mulheres dados ao verdadeiro conhecimento popular e de suas raízes mais afastadas. Rústica e de efeito quase garantido pela força do pensamento e das divindades do panteão negro, a mandinga deveria ser ensinada desde as séries de base na escola com...

A música no Brasil #10

A música popular, criada e apreciada pelas diferentes classes sociais, tornou-se um modelo de mau gosto sem precedentes no Brasil. Em todos os estilos musicais a mediocridade tem se tornado o elemento essencial à produção dessa arte inigualavelmente superior, tornando o ambiente individual e/ou coletivo, público ou privado, insuportável àqueles que apreciam a boa música ou que possuem o mínimo de bom gosto. Perdido definitivamente o senso do ridículo essas novas produções radiofônicas enchem o nosso cotidiano de imbecilidade e idiotice respaldadas no canto de todos os seus fiéis apreciadores, que, diga-se de passagem, são tão cultos quanto uma pedra. Produções sem melodia, sem letra, sem contexto, sem razão de existência. O mais incrível é que existem aparelhos de som que reproduzem esse tipo de lixo inundando vielas e avenidas de um veneno tão mortal quanto os de serpentes. É inadmissível que nossas comemorações sejam abraçadas por esse tipo de produto sem que aja a devida  a...

Esquecimento esquecido

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Quem nunca disse não vou esquecer e esquecendo-se do que disse, esqueceu? Dizem que nunca vai esquecer aquela ou essa pessoa, aquele ou esse acontecimento, esse ou aquele bichinho de estimação e acabam esquecendo tudo e todos que disseram um dia que não esqueceriam. Talvez seja por ter esquecido que disse que não esqueceria, ou por força de vontade muito tempo trabalhada, que os elementos inesquecíveis tornaram-se esquecidos. Tornaram-se renegados a um canto empoeirado de coisas inúteis que serviram em um passado, próximo ou distante, e que agora, no presente, futuro desse passado, não têm mais lugar para nenhum deles. As pessoas esquecem facilmente do que foi bom e que, por que foi bom causa dor no presente, gerou o inesquecível. Todos gostam do momento e do caminho eterno que as coisas boas causam, mas rejeitam todas as lembranças boas que delas originam-se apenas porque não sabem lidar ou com a dor da perda ou com a infinitude de risos e nostalgia que elas geram, nesse pr...

O Sempre da matemática e do amor

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Nunca se teve tanto medo, ou receio, de usar uma palavra na exata matemática ou naquilo que chamam de amor como quando alguém diz Sempre. Na matemática, as coisas não são Sempre. Não é Sempre que a integral disso é aquilo, que um método pode ser utilizado, que a convergência de uma função é teimosa demais para ser generalizada. No amor, o atrevimento de exclamar o Sempre em tudo faz com que haja a dramaticidade do momento, a efemeridade dos sentimentos, a discrepância entre o que realmente se quer e o que se pode ter de verdade. No amor, ou naquilo que isso classifica, Sempre é muito perigoso, muito incerto, ou certo demais que acaba terminando uma hora frustrando toda a noção da ideia de Sempre. Impossível usar esse termo sem que haja a confusão das coisas, sem que a ideia de fim se propague entre as ondas eletromagnéticas que passam de um equipamento modelado por uma Equação Diferencial Ordinária e um coração modelado pelo desgosto de seus quereres que sempre – veja só - ...

Um conto para Melissa

No corredor cinza-e-branco o tempo não podia ser medido apenas por um relógio digital, na tela de um aparelho celular, cujo plano de fundo sempre lembrava o mais lindo sorriso que já viu. Também não podia ser aprisionado durante aqueles breves instantes em que a luz do visor se mantém acesa e seus olhos buscaram, naquele rosto, todo o amor que emanavam dos núcleos das minhas células para aquele corpo, tão distante e tão perto, que era retratado ali, na única forma de segurar brevemente o tempo – a fotografia. O tempo, imensurável, transformou-se em bits, que enviaram por meio das micro-ondas, uma simples mensagem de texto que chegou atrasada no celular de destino simplesmente por que a operadora de telefonia móvel oferecia mais linhas e promoções do que sua estrutura podia suportar. Mesmo assim, talvez a mensagem tenha cumprido sua missão – já que a pessoa pode ter caído de emoção ao recebê-la – ou não. Só que outra mensagem nunca chegou de volta, dizendo o que quer que fosse. N...

Agora, enquanto dorme o sono

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Por que você dorme durante a madrugada? Se é de insônia que se compõe meus pensamentos e de multiplicações que não se fazem, dos nossos dizeres tão sem sentido! Por que tem que ir embora? Se é de chegada que é feita a nossa estadia! Por que complica tanto o incomplicável? Se é de simplicidade que é feito o nosso estável querer, nossa sólida mentira, nosso quadro em preto e branco! Por quê? Certamente existe afirmação que guie a madrugada e discorde o português, que destoe entre duas notas musicais de partituras diferentes e que, entre o sal do mar e a praia, exista um disco voador esperando por uma nova abordagem afirmativa.  Afirmação que muda a cada madrugada e a cada estação, cuja constelação sempre mostra uma nova estrela de superstição. E, então, por quê? Por que é tão distante o outro lado da cama? Por que é tão perto o outro lado do planeta? Por que é tão interessante a janela aberta e o coração fechado? Por que é tão mau olh...

O Ninguém

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Ninguém verá os meus sonhos nem todas aquelas necessidades que surgem quando a luz apaga, a febre ataca, a chuva cai e todos dormem. Ninguém ouvirá as necessidades que saem de debaixo da cama quando a bateria descarrega e a mente passa a funcionar obstinadamente para alcançar um único ponto no passado. Ninguém manda mensagens no meio da madrugada, depois de anos-luz separados por um silêncio provocado pelas mais ousadas expressões. Ninguém manda beijos via fibra óptica, que levam dados pelo mundo. De repente, Ninguém ganha um nome, um rosto e um baú de recordação e motivos para permanecer na obscuridade da saudade, do anonimato que faz tanto bem à sanidade de um estado que só floresce na madrugada. Então, não de repente, não sem as amenidades que rugem na memória dentro do tal baú, a noite deixa de ser fria, esquecida e isolada, e passa para seu estado de constante metamorfose em que a distância e o tempo são elementos que só existem na pequenez de um cronograma rigidamente seguid...

A tirania do calendário

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As datas não mentem. Elas são mudas, surdas, mas não cegas, não esquecidas, nãos insanas. A numerologia do calendário guarda a corrente vital que passa por nós e leva entes, ela, ele, nós, vós, aquilo, tudo. Leva o querer que não era pensando em outro momento. Leva. Apenas. Quantas dezenas, ou unidades, ficaram gravadas na mente e na insônia quando o resto apagou-se em meio àquelas explicações desnecessárias que queria, ou que inventou. Há de lembrar-se, você que pensa que voa, mas sequer tira os pés do chão, da realidade, da feiúra do mundo sem verdadeiras entregas? Não. Certamente ninguém se lembra de promessas que foram feitas em uma época em que o degelo das calotas não tinha tornado gélido esse coração que finge pulsar. E, evidentemente, não lembrará das desfatezes cometidas sem medidas, da brutalidade do silêncio imposto, da gratuidade com que comprou a indiferença, cujo caminho foi regado com as lágrimas que um dia jurou não fazer derramar. Não. É claro que não lembrará. ...

Ainda é possível

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Às vezes, é possível que exista uma letra de música que martela na cabeça durante a noite, ou um poema que surge com rosto definido. É possível que apareça olhos sorridentes entre vírgulas e pontos, letras e rimas, acordes e melodias. É possível que esteja partido o sentido íntimo que faz surgir tais coisas, sem restar nada além de pedaços, folhas rasgadas, cores desbotadas. E esse é um estado em que ocorre o verdadeiro autoconhecimento, aquele que faz você não chorar por mágoas passadas, mas entende-las e cuidar das suas próprias feridas como um animal inocentemente agredido por facínoras. É nesse estado que ódios oriundos de amores são extintos, que a poesia deixa de ser melancólica e o ar mais leve. Nesse espaço em que só cabe um, você mesmo, o mundo começa a sua longa e demorada reconstrução, mais experiente, mais vivo, mais limpo. E quando a face há muito conhecido atravessa o tempo e ultrapassa seu querer, surge uma nova arte: a de gostar sem a passionalidade do amor-ódio de...

Do outro lado da parede

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Arte Abstrata As pessoas têm o hábito de esperar aquilo que, talvez, não se pode esperar e acabam se decepcionando. Ah!, essas decepções são apenas frutos da imaginação de quem só espera. E isso é um dom de muitos! Entretanto, contrapondo-se a esse movimento gerador de desilusão está a curiosidade, ou melhor, a forma de pessoas inquietas olharem, de longe e sem interesse, a vida alheia. Pois é assim que se desenvolve a vida de muita gente, ou pouca se comparar com aquelas que se decepcionam. Imagine então que os indivíduos que moram em casas alugadas sabem que o imóvel nunca será seu e, portanto, seus vizinhos podem ter uma vida tão inconstante quanto a sua. E de mudanças na casa do lado, todos sabemos um pouco da vida alheia. Em uma dessas mudanças – apenas mais uma na rede finita de mudanças possíveis já feitas – acabei dividindo uma parede com um casal bem à moda década de 80, quando a mulher era apenas a dona de uma casa não dela, nos anos iniciais de sua adolescê...