De vez em chuva
Vez em quando a chuva cai de
repente e a falta de um guarda-chuva causa o maior transtorno. É correria para
a próxima marquise, é um desespero para não molhar o cabelo, a roupa, o
celular. É o furdúncio que toma conta das pessoas e dos automóveis, todos
procurando livra-se das inocentes gotas de água.
Nesses momentos em que não há o
que fazer e que não existe uma luta previamente ganha contra a chuva que cai do
imenso céu antes azul, deveríamos aproveitar as gotas que lavam nossos rostos e
levam, de volta às nuvens, nossas sujeiras e nossas formas primitivas de
expressão, nossas desgraças e graças exageradas, nossos amores hereditários e
nossas causas mais que justas – sempre justas, não é?
Deveríamos não correr, mas ficar
parados sob as nuvens cinza que nos faz o favor de demonstrar que a humanidade
está sempre submissa aos desejos da natureza e, para esta, seremos eternamente
parte de sua composição real.
É quando o favor de banhar-nos se
concretiza que é possível perceber que estamos ocupados e temerosos de fatos e
eventos sem importância e de cuja presunção somos apenas parte de um todo
sempre maior e mais complexo que a nossa vaidade habitual.
Quando a falta de um guarda-chuva
é sentida pode-se notar o quanto deixamos as coisas realmente importantes e
essenciais de lado para cultivar um estilo de vida vazio e sem perspectivas
concretas de mudança e de valorização da alegria de um banho de chuva, por
exemplo.
Correndo, acabamos chegando na
solidão dos dias de chuva. Parados, encontramos a quem mais gostamos molhados
pela água que lava, encharca, umedece e renova.
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