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Mostrando postagens com o rótulo Música

Anestésico musical

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Warrior and Attendants. Séc. 16-17. Metmuseum.   O plano de destruir a cultura popular, não exclusiva apenas dos governos de centro e extrema direita, parece estar seguindo o caminho do sucesso. Entre músicas fáceis de decorar e reproduzir e subcelebridades instrumentalizadas no desmonte institucionalizado, nos diversos níveis de governança, não há mais letristas que retratem a vida do pobre e a hipocrisia de uma sociedade doentemente religiosa, como se sabe em Construção e Geni e o Zepelim de Chico Buarque ou Faraó, eternizada na voz potente de Margareth Menezes.  Não querem que o pobre pense e reflita sobre si e suas condições de vida. Não é interessante para os políticos que se mantém no poder no planalto central ou nas casas de poder "popular" dos governos subnacionais. Não se ouve mais nada semelhante a 2 de junho, de Adriana Calcanhotto, Bichos Escrotos, dos Titãs, ou O tempo não para, do Cazuza, nos meios de comunicação e na boca do povo. Em meio a tragédias ambientais...

Os heróis de live

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As lives de cantores sertanejos, que saíram na vanguarda da quebra de recordes de acessos simultâneos e toneladas arrecadadas para ajudar os mais necessitados durante o atual período pandêmico são tudo o que a falsa moralidade religiosa prega nos obscuros templo (neo)pentecostais. Não é estranho que em um momento em que o populacho, naturalmente pobre, esteja sendo direcionado a fazer doações por meio da indulgência de Pocket-shows de seus artistas favoritos, que enriqueceram às custas desses mesmos pobres? Não é estranho que essa classe de "artistas" não saiba nem onde fica o próprio bolso quando o assunto é ajudar os próprios fãs? Patrocínios, poder de influência, quebra de recordes de acessos simultâneos - é só o que as lives dos cantores sertanejos são. Nada mais. Onde estão as doações? Alguém sabe para onde e quando elas foram direcionadas? Os próprios cantores doaram quanto? Nada mais que massagem ao próprio ego e pão mofado em um circo virulento são essas lives...

Bicha feia, pobre, burra e do interior

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Arte: Reclining Male Nude. 1907. Henri Matisse. MET. Quando se é bicha de interior há um mundo estabilizado em que existem aqueles que não toleram e nem suporta os atos homossexuais e escandalosos, que a maioria dos gays do interior costumam cometer, e aqueles que fingem que não estão vendo a não-tão-bela-flor desabrochando entre pelos e pernas masculinas. Fugindo do preconceito controlado, esses gays buscam refúgio na capital, especificamente na universidade, pública ou particular, onde podem fingir que estudam cursos como teatro, música, pedagogia... Com ilusões debaixo do braço, um rosto bexiguento provocado pela acne e uma sede por sexo e álcool, esses pobres, magros e indecentes seres creem terem o mundo a seus pés e todos os outros indivíduos como seus serviçais quando na realidade bicha pobre, feia e burra do interior não consegue nada além de sexo pago ou do estigma proveniente do coitadismo de gênero. A universidade está lotada de gays desse tipo, que são repudiado...

Repensando a Música e o Teatro

Não é querer ser preconceituoso com determinados cursos de graduação e, paradoxalmente, parecendo ser preconceituoso, mas não há como não se questionar como cursos como Teatro e Música recebem a chancela de graduação, porque o resultado deles é tão insignificante nas universidades - ao menos em algumas nordestinas - que seria o caso de avaliar o produto gerado por esses cursos. Geralmente, nas apresentações teatrais, quando há apresentações, a temática é sempre o generalismo misto sobre homofobia, violência e pobreza. Particularmente, essas apresentações são chatas, sem sentido e desnecessárias. Discentes que não conseguem uma articulação mínima oral e escrita e sempre perpetuando arremedos de orgias e relacionamentos com pessoas, drogas e objetos de forma bem duvidosa. A Música não tem nem o que falar. Ninguém consegue nem saber o que eles fazem - se fazem alguma coisa durante a "graduação. O Projeto Político Pedagógico desses cursos e de outros que podem ser colocados no ...

Letra de pobre

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Depois do jogo do CSE, onde a derrota é mais uma constante que uma exceção no grande time interiorano, fui ouvir o astro incandescente do momento, o Wesley Safadão, e estava pensando justamente na relevância das composições contemporâneas que nos fazem tanto bem (ou ao menos gostamos de assim pensar) quando a letra de uma determinada música começou a ser interpretada pelo Safadão - "Vem ser feliz com eu". Numa sociedade onde o povo tem um nível de alfabetização mínimo - na maioria das vezes as pessoas só reconhecem o desenho das letras e não sabem interpretar -, ter uma letra de música da qualidade de "Vem ser feliz com eu" é no mínimo normal. À parte o fenômeno que a interpreta, "Vem ser feliz com eu" é o reflexo do que o povo gosta e canta o dia todo, todos os dias da semana, nas quatro semanas do mês, e que perpetua os erros mais grosseiros da língua portuguesa, que já não é fácil de ser entendida pelos nativos. A mídia que o povo consome é um ref...

Oh Maria do Socorro!

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A Maria do Socorro que conheço, que é registrada de fato, não tem pernas lindamente torneadas e não é legal - é chata e velha, para ser sincero com a realidade. Mas conheço outras tantas Marias do Socorro que namora o Zé Cachorro e que arrasta uma perna para o Zé Galinha. Essas Marias são uma comédia de domínio público! Só  o samba, bem feito e com uma letra muito particular, poderia imortalizar a mulher que vai ao auge de sua beleza e decai momentaneamente até ser só mais uma igual a tantas outras do morro ou do asfalto.  Fico refletindo o quanto uma Maria do Socorro dessa pode fazer, de estrago, na vida de um pobre coitado mal avisado sobre os perigos de umas pernas torneadas pelas ladeiras ou pelo desejo. Acredito fortemente que se não fosse o morro, as paredes finas - da favela ou dos condomínios -, as mulheres suadas que sobem e descem, imaginam e persistem, nem mesmo a literatura seria capaz de salvar-nos da desgraça de um mundo em preto e branco, sob a luz o...

Um dia algum

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The Star. Milo Manara Quem não conhece alguém que foi viver novas experiências e que, por algum motivo, esqueceu de mandar mensagem avisando que não voltaria mais? Estava ouvindo Capital Inicial quando me dei conta que muitas pessoas entram em nosso circulo para, depois, ir-se, tal qual como chegou. O problema é que há pessoas que vão como se ficássemos esperando-as voltar, pacientemente sentados sobre o amor próprio. Talvez devêssemos parar de procurar o melhor em criaturas que não possuem um melhor, apenas um bom que é incapaz de suprir as necessidades mais básicas de uma convivência social. O mundo é grande, ou pequeno - depende do quanto viaja-, e não se pode esperar que todas as pessoas sejam diferentes, com pensamentos e atitudes globalizadas, pois há pessoas que simplesmente são incapazes de demonstrar suas incapacidades emocionais. Se alguém foi embora, sem avisos, sem motivos ou sem um "até logo" hipócrita o que resta é viver paralelamente a esse ...

Nara Leão: A Musa dos Trópicos

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Não é difícil ouvir, por aí, uma confusão entre os conceitos de Bossa Nova e Música Popular Brasileira. E da mesma maneira comum, não é fácil ouvir falar de Nara Leão, Elis Regina, da Bossa Nova e da história brasileira através da música, da boa música. Também não é razoavelmente encontrável uma obra que tenha tudo isso, raridades, e que ainda pareça um romance, que embala o leitor na vida e obra de quem é alicerce. Capa da Obra É assim que é Nara Leão: A Musa dos Trópicos , do escritor e jornalista Cássio Cavalcante . Na obra, Cavalcante torna a Nara, cantora, a companheira do leitor amante da música; torna Nara, a pessoa particular, um exemplo de querer o melhor, mesmo pagando os custos da fama ou do autoritarismo; torna Nara, a amiga, em um exemplo de amizade. Torna Nara em Musa, ou melhor, evidencia este fato. Nara Leão: A Musa dos Trópicos pode se entendida como meio biografia meio romance; meio Brasil meio Mundo; meio partitura meio letra – sempre canção. De tudo ...

Mandinga #12

"...pra ter seu amor fiz mandinga ..."       Verdade - Zeca Pagodinho Mandinga talvez seja a característica mais peculiar do povo brasileiro, isto é, do povo afro-brasileiro desta região do globo sem etnia e religião definidas, sem cultura única, sem, como cita Mário de Andrade em Macunaíma, sem caráter, com som exclusivo. É um ato de uso particular dos filhos do candomblé herdados de nossos ancestrais africanos e utilizado por todos, mesmo que inconscientemente. Por amor, ódio, paixão, riquezas, conhecimento; em todas as buscas o ato de mandingar faz-se presente. Nem sempre a mandinga propriamente dita mas sim uma sutil que, não raro, aparece na rotina de homens e mulheres dados ao verdadeiro conhecimento popular e de suas raízes mais afastadas. Rústica e de efeito quase garantido pela força do pensamento e das divindades do panteão negro, a mandinga deveria ser ensinada desde as séries de base na escola com...

Esquecimento esquecido

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Quem nunca disse não vou esquecer e esquecendo-se do que disse, esqueceu? Dizem que nunca vai esquecer aquela ou essa pessoa, aquele ou esse acontecimento, esse ou aquele bichinho de estimação e acabam esquecendo tudo e todos que disseram um dia que não esqueceriam. Talvez seja por ter esquecido que disse que não esqueceria, ou por força de vontade muito tempo trabalhada, que os elementos inesquecíveis tornaram-se esquecidos. Tornaram-se renegados a um canto empoeirado de coisas inúteis que serviram em um passado, próximo ou distante, e que agora, no presente, futuro desse passado, não têm mais lugar para nenhum deles. As pessoas esquecem facilmente do que foi bom e que, por que foi bom causa dor no presente, gerou o inesquecível. Todos gostam do momento e do caminho eterno que as coisas boas causam, mas rejeitam todas as lembranças boas que delas originam-se apenas porque não sabem lidar ou com a dor da perda ou com a infinitude de risos e nostalgia que elas geram, nesse pr...

O Sempre da matemática e do amor

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Nunca se teve tanto medo, ou receio, de usar uma palavra na exata matemática ou naquilo que chamam de amor como quando alguém diz Sempre. Na matemática, as coisas não são Sempre. Não é Sempre que a integral disso é aquilo, que um método pode ser utilizado, que a convergência de uma função é teimosa demais para ser generalizada. No amor, o atrevimento de exclamar o Sempre em tudo faz com que haja a dramaticidade do momento, a efemeridade dos sentimentos, a discrepância entre o que realmente se quer e o que se pode ter de verdade. No amor, ou naquilo que isso classifica, Sempre é muito perigoso, muito incerto, ou certo demais que acaba terminando uma hora frustrando toda a noção da ideia de Sempre. Impossível usar esse termo sem que haja a confusão das coisas, sem que a ideia de fim se propague entre as ondas eletromagnéticas que passam de um equipamento modelado por uma Equação Diferencial Ordinária e um coração modelado pelo desgosto de seus quereres que sempre – veja só - ...

Um conto para Melissa

No corredor cinza-e-branco o tempo não podia ser medido apenas por um relógio digital, na tela de um aparelho celular, cujo plano de fundo sempre lembrava o mais lindo sorriso que já viu. Também não podia ser aprisionado durante aqueles breves instantes em que a luz do visor se mantém acesa e seus olhos buscaram, naquele rosto, todo o amor que emanavam dos núcleos das minhas células para aquele corpo, tão distante e tão perto, que era retratado ali, na única forma de segurar brevemente o tempo – a fotografia. O tempo, imensurável, transformou-se em bits, que enviaram por meio das micro-ondas, uma simples mensagem de texto que chegou atrasada no celular de destino simplesmente por que a operadora de telefonia móvel oferecia mais linhas e promoções do que sua estrutura podia suportar. Mesmo assim, talvez a mensagem tenha cumprido sua missão – já que a pessoa pode ter caído de emoção ao recebê-la – ou não. Só que outra mensagem nunca chegou de volta, dizendo o que quer que fosse. N...

Agora, enquanto dorme o sono

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Por que você dorme durante a madrugada? Se é de insônia que se compõe meus pensamentos e de multiplicações que não se fazem, dos nossos dizeres tão sem sentido! Por que tem que ir embora? Se é de chegada que é feita a nossa estadia! Por que complica tanto o incomplicável? Se é de simplicidade que é feito o nosso estável querer, nossa sólida mentira, nosso quadro em preto e branco! Por quê? Certamente existe afirmação que guie a madrugada e discorde o português, que destoe entre duas notas musicais de partituras diferentes e que, entre o sal do mar e a praia, exista um disco voador esperando por uma nova abordagem afirmativa.  Afirmação que muda a cada madrugada e a cada estação, cuja constelação sempre mostra uma nova estrela de superstição. E, então, por quê? Por que é tão distante o outro lado da cama? Por que é tão perto o outro lado do planeta? Por que é tão interessante a janela aberta e o coração fechado? Por que é tão mau olh...

O Ninguém

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Ninguém verá os meus sonhos nem todas aquelas necessidades que surgem quando a luz apaga, a febre ataca, a chuva cai e todos dormem. Ninguém ouvirá as necessidades que saem de debaixo da cama quando a bateria descarrega e a mente passa a funcionar obstinadamente para alcançar um único ponto no passado. Ninguém manda mensagens no meio da madrugada, depois de anos-luz separados por um silêncio provocado pelas mais ousadas expressões. Ninguém manda beijos via fibra óptica, que levam dados pelo mundo. De repente, Ninguém ganha um nome, um rosto e um baú de recordação e motivos para permanecer na obscuridade da saudade, do anonimato que faz tanto bem à sanidade de um estado que só floresce na madrugada. Então, não de repente, não sem as amenidades que rugem na memória dentro do tal baú, a noite deixa de ser fria, esquecida e isolada, e passa para seu estado de constante metamorfose em que a distância e o tempo são elementos que só existem na pequenez de um cronograma rigidamente seguid...