Detalhe Palmeiríndio: pós 124



No último 20 de agosto, a chamada Princesa do Sertão (Palmeira dos Índios-AL) completou cento e vinte e quatro anos de muita adversidade. E é evidente que como qualquer outro município brasileiro ela tem lá seus problemas. E mais que qualquer outra cidade, ela tem as disparidades mais bizarras que só a literatura consegue fazer analogia, como em Incidente em Antares.
 Nos 124 anos, a Princesa, que não é lá tão sertaneja assim, não teve muitos motivos para comemoração. Mas isso é notícia velha. Ela quase nunca teve o que comemorar. Talvez a única comemoração realmente expressiva tenha sido a libertação de Graciliano Ramos, lá pela década de 1930. Fora isso, não se tem o que comemorar.
Os buracos continuam, sempre e cada vez maiores. O Hospital Regional é tido como um açougue pelos palmeiríndios. A gestão Municipal é igualmente vista como o Hospital. O comércio vai de mal a pior, e com os maiores preços do mercado – para qualquer mercadoria. Não há obras públicas significativas e a corrupção envergonha até mesmo a estátua da Índia nua, que fica em uma das principais praças do Município. Mas isso também é notícia velha (o povo sempre elegeu pessoas que ou não possuíam qualificação para ocupar a Prefeitura ou se vendeu por qualquer cesta básica – ou pior, por qualquer promessa de “emprego” fácil).
No entanto, nesse aniversário o que houve de diferente foi uma manifestação de servidores públicos municipais, parte da população e sindicatos. Manifestação desviada do rumo pela força policial. Estranho que isso aconteça no dia em o povo comemora sua própria libertação. Só é normal pela razão simples que esse mesmo povo não é livre: elegeram pessoas (Prefeitura e Câmara de Vereadores) que prometeram facilidades, não trabalho. E isso é uma prisão quase indestrutível nos quatros anos subsequentes.
Aliás, para ser sincero, o povo realmente não tem o direito de manifestação: elegeram duas vezes o mesmo Prefeito, mesmo com todas as denúncias (comprovadas publicamente) de corrupção, mesmo vivenciando a incompetência administrativa no primeiro mandato e os desmandos na máquina pública. Elegeram vereadores submissos e igualmente ineficientes. Então, estão reclamando o quê? Tudo o que sentem agora é apenas um pequeno reflexo das facilidades que pediram um dia.
O que é estranho, na verdade, é que diante do ato de repúdio que ocorreu no aniversário da Princesa, os veículos de comunicação, alguns, ressaltam a briguinha provinciana sobre qual escola desfilaria por último como se isso fosse tão importante assim. Para uma Cidade que quer se desenvolver, discutir se essa ou aquela escola vai desfilar por último em um desfile cívico brega e ultrapassado é um tanto fútil (efêmero, sem valor, banal). É com uma banda fanfarra e alguns pares de pernas que o Governo (e a falsa oposição) iludem o povo.
Enquanto a coisa mais importante da Cidade for a vaidade de uma escola estadual, igual a outras milhares e, em certos casos, até melhores, e a banalidade da fraca, e até certo ponto falsa indignação, opinião dos palmeiríndios, a Princesa do Sertão será a Puta do Sertão onde qualquer um faz o que quer- deita e rola. E o povo aplaude de pé!
São 124 anos dos quais a maioria é um verdadeiro retrato da indigestão pública. 


Bandeira de Palmeira dos Índios -AL


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