De lá para cá





Palmeira dos Índios - AL

O engano não é a perda diária de neurônios, de bom senso, de estabilidade, de decepções. Perder é tão essencial quanto ganhar. Ou mais importante até. Perder traduz tudo o que é real em fogos de artifícios queimados, sem efeito. Engano, o, é outra coisa. Inominável.
Então, tem o desengano.
Ah, o desengano!
Foram tantas as vezes que a noite percorreu o vale de uma serra e desembocou em uma melhoria tecnológica de momentos curtos, breves, insanos.
Entre esses dois seres cruéis, estão as fotografias que deixamos guardadas em nossas gavetas, os relicários – que juntos formam um grande tesouro -, os dias alegres, os tristes, os outonos, as primaveras e o veraneio à beira-mar.
Entre os ossos que restaram daqueles estados criminosos onde tudo era um segredo e um pecado justificado, está a poeira da coisa escrita, o caos dos fatos geradores das trocas, os bens de consumo nunca utilizados. Está a traição íntima ao soar o nome no mais alegre dos ouvidos.
Na breve vista desse lugar largo, onde cabe tudo e todos, estão aqueles sorrisos desconexos que insistem em ser o ponto de parada para a dimensão da luz opaca do inverno. Sorrisos falsificados como um Calvin Klein em um ponto de ônibus. Embora todos saibam que é feio o ato falsificador, adoram a não exclusividade provocada por uma peça fora do lugar.
As folhas da árvore plantada no passado já se foram. Novas hão de aparecer. Ou não. Os ossos daquele lugar quase cheio que fica entre o engano e o desengano estão brancos ainda. O relicário está envelhecido. O planeta já rodopiou demais em sua própria órbita elíptica em torno do sol.
Nesse momento, o engano discute com o desengano por um lugar. Mais um lugar.
É agora que a poeira é batida e o ar torna-se respirável.
É nessa hora que mais um dia começa.

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