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Mostrando postagens com o rótulo Pessoas

O caminho

Para o pobre, tudo.  Para quem pode, a fina flor do que o capital pode adquirir. Simples e direto. O que sobra de uma doença, para o pobre, é a conta do funeral, parcelada até a próxima morte, e alguma resignação sobre como a Divindade está refinando uma matéria bruta que nunca evolui. Agora, além do HIV, difteria, fome, miséria, tétano, pobreza, humilhações e todo o mix de servidão e doença existentes nesse adorável mundo opressor, tem mais uma pandemia que pode matar os desagradáveis e sujos constituintes da base da pirâmide social. Que o novo coronavírus faça o seu trabalho e limpe a terra, de ricos a pobres. O que sobra continuará vivendo, explorando e explorado, até que se instale um The Walking Dead real em que, de certo, não sobrará nem mesmo zumbis para contar a história.

A dor e o Sofrimento carregado pelas Testemunhas

Uma batida na porta e um total desconcentramento na atividade que estava fazendo. E para completa surpresa, eram duas Testemunhas de Jeová. E elas queriam mostrar o quanto o planeta está péssimo e o quanto se precisa melhorar para que na Segunda Vinda... Espere! Será que a Terra está tão ruim assim? Será que o sofrimento e a dor são realmente necessários para mostrar ou o amor ou a ira de Deus? Será que o homem não pode viver sem a constante necessidade de culpar uma divindade por seus infortúnios? Se tudo isso acontece, então qual a razão de não buscar a abreviação da própria vida em vez de incomodar os sofredores sadomasoquistas? E ninguém diga que é amor pelo próximo, que pode ser tudo, menos isso. O que é impressionante não é que estão interessados no que as outras pessoas têm a dizer ou em suas experiências; em tudo aquilo que faz a vida real – fora dessa redoma de dor e sofrimento – querem apenas mostrar o lado perverso da existência humana sob a fachada bíblica do Apoc...

Descontatado

É interessante quando o contato entre as pessoas é quebrado e o tempo passa na maior tranquilidade de um lado para o outro das ruas e faz suas estripulias nas praças. O que se tem de mais peculiar é o fato de que, repentinamente, uma cortina tapa a luz do conhecimento e da seguridade que se tem por aquele ser que outrora era uma das vielas por onde se podia andar tranquilamente. Sem a necessidade de explicações, alguém conhecido passa a ser desconhecido e o que resta são apenas fragmentos de algo que pode ser muito bem um sonho inventado pelo subconsciente para divertir as milhares de horas dormidas. Com a mesma velocidade, mas com um retardo de entendimento suficiente para provocar refinamentos em conclusões tidas em algum momento do passado, o esquecimento faz-se presente nesse mistério incompreensível que é a quebra do elo entre duas ou mais pessoas. A falta de contato pode ser provocada ou natural. Aquela nem sempre acontece de maneira amigável e pode desencadear muitos estra...

Fotografia, um poder imenso

Quem não tem fotografias guardadas? Retratos que registraram tantos momentos implícitos, tantas formas ímpares de dizer palavras sem ao menos abrir a boca, ou sorrir sem desgrudar os lábios. Nas imagens que estão guardadas, onde está aquele desejo de imensidão que tomava conta das ruas e diminuía o esforço de viver na corda bamba das decisões difíceis? Talvez não sejam milhares de fotos, nem tenham pessoas bem vestidas em poses poderosas. Talvez os papéis coloridos recortem sua alegria silenciosa em um dia à beira-mar, em que a saudade aflorou a paixão e todas as palavras do mundo poderiam ser ditas em um único gesto, quem sabe um grito? O poder do registro é imenso. O da fotografia extrapola esse poder e estabelece fundamentos únicos que são seguidos à revelia dos indivíduos, pois ela guarda histórias inteiras, breves lapsos de vida, uma gigantesca expressão intraduzível. Lá, entre folhas rabiscadas, livros lidos, planos, pessoas, passado, poeira, está o que realmente impo...

Esquecimento esquecido

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Quem nunca disse não vou esquecer e esquecendo-se do que disse, esqueceu? Dizem que nunca vai esquecer aquela ou essa pessoa, aquele ou esse acontecimento, esse ou aquele bichinho de estimação e acabam esquecendo tudo e todos que disseram um dia que não esqueceriam. Talvez seja por ter esquecido que disse que não esqueceria, ou por força de vontade muito tempo trabalhada, que os elementos inesquecíveis tornaram-se esquecidos. Tornaram-se renegados a um canto empoeirado de coisas inúteis que serviram em um passado, próximo ou distante, e que agora, no presente, futuro desse passado, não têm mais lugar para nenhum deles. As pessoas esquecem facilmente do que foi bom e que, por que foi bom causa dor no presente, gerou o inesquecível. Todos gostam do momento e do caminho eterno que as coisas boas causam, mas rejeitam todas as lembranças boas que delas originam-se apenas porque não sabem lidar ou com a dor da perda ou com a infinitude de risos e nostalgia que elas geram, nesse pr...

Bate-papo reverso (direto (verso(anverso)))

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Os serviços de bate-papo tornaram o mundo e a distância menores, sempre a uma janela de distância. Tornaram as pessoas sempre próximas. Tornaram a inanimação das palavras em tons de vozes diversos e nem sempre corretos. Esses serviços ajudaram para o bem e para o mal. Construíram e destruíram relações. Janela de bato-papo do Google Estava, outro dia, tentando conversar pelo bate-papo do Google, o Gtalk, com uma pessoa que simplesmente era incapaz de ler as palavras sem imaginar o meu tom de voz. É evidente que nunca conseguimos ter uma conversa saudável. Aliás, até hoje não temos uma conversa saudável; quer dizer, até hoje não conversamos. Então é notório que quando o serviço de bate-papo destrói a comunicação, todo o resto também é destruído. Por outro lado, o bate-papo do Facebook também piora tudo com o mecanismo de mostrar quem visualizou ou não a conversa. Isso é igualmente destrutivo. Mas aproximam as pessoas na medida em que existe a impossibilidade de comunicaçã...

O universo caloroso do pensamento no ônibus (ou a falta deste)

Não há a menor possibilidade de alguém sentir-se só, ainda que mentalmente, nos ônibus coletivos que circulam na Grande Aracaju. Não há, também, como sentir-se limpo. Nem como sentir-se minimamente bem. Na verdade, não há nem como sentir alguma coisa depois de algum tempo quando o trânsito está horrível e o ônibus cheio. Não há muito como se mover, nem como respirar, nem como pensar sem que um cotovelo passe do hiperespaço que habita entre a cabeça de alguém e as costelas de outro alguém e acerte você na testa. É engraçado como os seres que pegam os poucos coletivos não tomam consciência das leis físicas ou do quanto o corpo não pode aguentar em determinadas situações – muito críticas, diga-se. De repente, se alguém lembrasse que se sair um pouco mais cedo de casa (umas 2h antes do previsto) e outras no horário certo, não teríamos que o problema de alguém querendo ocupar seu (meu) baço. É nesse tipo de coisas que tenho a impressão, ou não tenho já que existe alguém que semp...

O outro

Fazemos tantas coisas por meios autômatos que nos esquecemos de nossos prazeres pessoais, aquilo que realmente nos interessa, que nos torna diferentes. Anômalos de uma sociedade mutante, porém igual. Realizamos o que os outros desejam, o que esperam de nós, o que buscam em um ser que, na verdade, não existe. Quando olham para você e veem o que você deveria ser estão, no fundo, prospectando alguém que ainda nem nasceu, e que talvez não nasça. Nesse momento constante, repetido, você deixa sua personalidade e assume as responsabilidades extras de fazer, ser e realizar todas as tarefas destinadas a alguém que é um número complexo – imaginário. É essa pressão que destrói, que corrói toda a qualidade produtiva, os sonhos, os casos que poderiam acontecer e virar história divertida. É por essa pressão que muitos trabalham. Que enfrentam a labuta diária. Que morrem pensando em tudo o que poderiam ter feito durante uma vida toda de atribuições reais de alguém imaginário. O que fazemo...