Os cortiços aracajuanos

É notório que as palavras “econômico”, “qualidade” e “imóvel” não se aglutinam na mesma oração quando se refere a imóveis alugáveis e em bom estado em Aracaju. É, na melhor das hipóteses para o problema de moradia nessa capital, razoável dizer que se pode encontrar cortiços – muito parecidos com o de Aluísio Azevedo, em uma forma sensivelmente mais moderna e mais pobre – em que reina uma certa promiscuidade no que se refere à propriedade e aos habitantes.
Retirando qualquer traço de preconceito ou estereótipo que pode haver na descrição desses lugares, não é possível – ou razoavelmente aceitável – que se tenham pessoas, de diferentes hábitos, higiene, particularidades e manias coexistindo no mesmo lugar, dividindo o mesmo banheiro, a mesma área de serviço (se é que se pode dizer que é uma área de serviço). E o principal motivo reside justamente no fato de que essas pessoas não poderiam estar vivendo em um ambiente tão coletivizado como os cortiços que existem na Capital de todos os sergipanos porque é injustificável que os proprietários explorem as pessoas como se todos vivessem no final do milênio passado apenas por que não possuem um poder aquisitivo razoavelmente bom.
Esses lugares apresentam os mais diferentes moradores (como é de se esperar), os mais diferentes odores terríveis, as mais deprimentes cores, os mais temerosos hábitos de higiene (dada à coletividade exagerada e à falta de privacidade), os mais estranhos passatempos e a possibilidade de atividades ilícitas que se pode fazer na vizinhança e no seio do próprio local. Então, podem-se encontrar pessoas das mais diferentes orientações sexuais e profissões, como gays e prostitutas, ladrões e marginais (na vizinhança), o que extremamente salutar para criar uma imagem real e despreconceituosa do homem e de suas relações, mas altamente prejudicial para a saúde mental de quem jamais esteve em contato com as pessoas reais do cotidiano.
Não é fácil encontrar um local para habitar nessa capital. Não é fácil mesmo!
E para piorar, têm-se as dificuldades em encontrar o proprietário, a distância até o próximo posto de saúde, até o próximo supermercado, até o próximo ponto de ônibus, a iluminação da rua e o estado das portas da “casa” e do cortiço, que geralmente costumam chamar de vila (provavelmente por apresentar apenas o andar térreo, em alguns).
A falta de dinheiro, ou seu racionamento, a mesquinhez ou a falta de opção poderá levá-lo a algum lugar com as características apresentadas. Nesse caso a solução será investir-se do poder criativo e altamente reacionário e habitar mesmo assim. Quem sabe um dos personagens de Jorge Amado pode dar alguma ideia de como sobreviver até uma mudança providencial para um lugar mais saudável? É uma opção.

Em mais um capítulo da cidade da qualidade de vida, a moradia para a população, principalmente aquela que é pobre, não é nada fácil.

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