A distância entre nós

Capa da Obra

É muito comum que os empregados domésticos sintam-se como parte da família dos empregadores. E muitas são as razões que levam a esse erro e o principal deles é a demagogia usada nesse tipo de relação. O analfabetismo, quando este interfere no modo de lê o mundo ao redor, também é fator fundamental para a perpetuação dessa mentira dita sob olhares sorridentes e pensamentos irritados.

Trabalhadores domésticos são trabalhadores como outro qualquer e não devem misturar-se com a família para a qual prestam serviços. Não devem criar laços com os quais poderão enforcar-se em algum momento da vida laborativa.

É em um misto de desilusões pessoais, tristeza com o próprio estado educacional e a incapacidade de quebrar paradigmas que Thrity Umrigar narra em A distância entre nós como Bhima, uma empregada doméstica, analfabeta, quebra com o socialmente aceitável e acolhe a neta estuprada, mesmo sabendo que a “desonra” da neta jogará as duas no infortúnio de vida que é o cotidiano de uma desonrada indiana e de uma velha analfabeta.

No contexto narrado, muito semelhante ao Brasil (com algumas diferenças e exceções), Bhima é a figura presente em todas as casas onde existe empregado doméstico e onde a hipocrisia faz com que, vez ou outra, o trabalhador sente-se à mesa(no caso do Brasil) com os generosos patrões.

A distância entre nós é muito mais que uma obra que trata de pessoas desconhecidas em outro continente. Muito pelo contrário. A obra trata-se justamente das relações trabalhistas, e erroneamente afetivas, que se desenvolvem no ambiente doméstico. Sobre como seus preconceitos marginalizam seus empregados e de como eles se sentem ao notarem-se valorizados.

É uma leitura obrigatória para quem tem empregados domésticos, para quem tem preconceitos com banalidades, para quem marginaliza o pobre e para quem quer tornar-se alguém melhor.

O perdão é latente, na obra, mas é aquele perdão que alcança a si, ao outro e compreende seu papel diante de si e das impossibilidades que a sociedade impõe.