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Mostrando postagens com o rótulo Pobre

Breves linhas periféricas

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Arte: View of the Brenta, near Dolo, Giambattista Cimaroli. Met.  Na periferia, na praça esquecida pelo poder público, dois times concorrentes formados por moradores locais distraem transeuntes e os próprios jogadores dos acontecimentos tediosos que estão prestes a serem reiniciados pela rotina do trabalhador brasileiro . Os pontos comerciais começam a abrir e empregados do varejo, sentados à porta dos estabelecimentos esperam o tempo de humilhação regimentar que caracteriza a diferença entre patrões e empregados.  Nas ruas, sacolas de lixo esperam ser recolhidas e animais abandonados aguardam a cota de ração doada pelo pet shop local. A vida periférica parece ser a mesma, sempre: trabalhadores indo ao trabalho bem cedo, comerciantes humilhando os trabalhadores, velhos se preparando para o culto e ruas sujas. Observando de longe, é um local vulgar, sujo e que serve de depósito para pobres.  Nas regiões "nobres", as padarias são delicatéssen , os empregados não s...

O chicote

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A classe média, assim como as outras classes, nunca muda. Apresenta peculiaridades quando é do interior, mas sempre discursando palavras macias com o chicote nas mãos. Outro dia, andando nos bastidores empresariais dessa classe média, eu ouvi e vi as ações terríveis que o chicote do salário faz nas pessoas e as coisas que estas precisam fazer para a bajulação de todos os dias (isso ou o olho da rua, a escolha é simples). Um chicote que humilha, objetifica e sacrifica pessoas.  Seria o salário ruim? Obviamente ninguém trabalha de graça. Porém, ninguém precisa rebaixar-se à vileza para poder sobreviver. No entanto, é isso que a classe média, crendo-se dona do capital, provoca nos pobres.  Ah, os pobres! Doutrinados, manipulados, execrados, nunca deixam de ser a autoafirmação que a classe média e a elite precisam para sentirem-se dignas de atenção, sempre dos pares. Os pobres que carregam o peso da própria existência e do luxo de poucos são os mesmos que temem perder ...

Crônica de uma vida insuficiente XXI

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Mentirosos, estúpidos, ignorantes. O varejo está cheio dos piores espécimes que pode existir na periferia. Fracos, vendidos, incapazes. Praticamente é impossível sair de casa e ter o mínimo de decência ao lidar com seres humanos. Gentinha da pior laia, rebotalho infernal de uma sociedade doente. Ninguém escapa. As pessoas tem problemas sérios e tornam-se escravas porque não conseguem sustentar um posicionamento, uma opinião, um olhar decidido. À mais leve promoção no ambiente de trabalho, mulheres se degradam moralmente e homens envergonham aos ancestrais selvagens. À mais efêmera modificação na educação, que sempre é para pior, produz-se uma legião de incompetentes. A humanidade não está sofrendo com as doenças, mas sendo salva de si mesma. E não ter que sair, lidar com homens e mulheres diminutos, é uma benção.

Crônica de uma vida insuficiente IX

Hoje os pobres enfurnados na ilusão de riqueza, que se autodenomina classe média, com medo de voltar à classificação de pobre, bate panela contra o governo que até ontem apoiava e seguia tal qual uma religião. O medo de ser pobre, de estar pobre, de cheirar a pobre leva a classe média às raias do ridículo. Os pobres de verdade foram para baixo da linha da pobreza e os que aí estavam foram para a extrema pobreza. Um puxando o outro com o peso da inflação e de um decrescimento a olhos saltados. Não é por Manaus. Se fosse pelo estado nortista ajuda formal teria sido enviada primeiro ao Amapá e depois ao Amazonas. Não é pelas consequências do novo coronavírus e suas mutações. Se fosse não fariam tanta resistência em adotar uma economia solidária e procedimentos mais sanitários para o cotidiano. Não é pelas pessoas. Nunca é. É pelo bolso que agora projetam frases e fotos contra o portador do berrante. O Messias, visto sob a ótica do desleixo para com o povo brasileiro, cumpre suas pr...

Letra de pobre

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Depois do jogo do CSE, onde a derrota é mais uma constante que uma exceção no grande time interiorano, fui ouvir o astro incandescente do momento, o Wesley Safadão, e estava pensando justamente na relevância das composições contemporâneas que nos fazem tanto bem (ou ao menos gostamos de assim pensar) quando a letra de uma determinada música começou a ser interpretada pelo Safadão - "Vem ser feliz com eu". Numa sociedade onde o povo tem um nível de alfabetização mínimo - na maioria das vezes as pessoas só reconhecem o desenho das letras e não sabem interpretar -, ter uma letra de música da qualidade de "Vem ser feliz com eu" é no mínimo normal. À parte o fenômeno que a interpreta, "Vem ser feliz com eu" é o reflexo do que o povo gosta e canta o dia todo, todos os dias da semana, nas quatro semanas do mês, e que perpetua os erros mais grosseiros da língua portuguesa, que já não é fácil de ser entendida pelos nativos. A mídia que o povo consome é um ref...

O dia conflitante

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O domingo - que dia tão pretensiosamente maravilhoso. Os pobres (de bom senso) já acordam ouvindo o melhor das músicas de botequim falido. Os pobres (de opinião própria) mal abrem os olhos e já buscam o caminho da rua para ter sobre o que falar durante todo o maravilhoso  domingo. Os pobres (de dinheiro) não têm escolha - são obrigados a passar um domingo com a mesma desgraça de vida que têm durante a semana. Entretanto, essas características de comunidade nem de longe superam a mania indissolúvel da prática religiosa que acontece só nesse dia da semana. É católico abrindo a igreja para receber os infiéis que só encontram Jesus por uma hora e meia no mês - e nada adianta porque saem pior do que entraram, não todos, é evidente. São protestantes que abrem suas portas comerciais - igrejas que são negócios e funcionam em pontos comerciais são negócios por adaptação da realidade -; e as que possuem prédio próprio salvam ao menos a reputação da doutrina pregada. É inter...

Falando em Dilma...

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Srª Dilma Rousseff Agora é fácil falar do Governo Dilma. Dilma Rousseff agora não governa bem, tem políticas ineficazes, representa a corrupção e os erros na língua portuguesa... O que o povo faz questão de esquecer, apoiado por discursos inflamados é: ·          O pobre, ajudado pelos programas assistenciais do Governo Dilma, passou a poder comprar roupas e comida – deixando de morrer de fome e de frio, literalmente; ·          Famílias inteiras puderam tirar seus filhos do trabalho infantil – os pais conscientes, ao menos; ·          Os estudantes passaram a poder ter experiência no exterior através de Programas como o Ciência sem Fronteiras; ·          O aprendizado de uma segunda língua passou a ser mais fácil com ações como o Inglês sem Fronteiras; ·          Açõ...

Bolsa Família - pare de achincalhar

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foto: mundodastribos.com O Bolsa Família é o programa mais agredido da nossa história, depois da segunda redemocratização. Através dele, milhares de mulheres, muitas das quais mães solteiras e chefes de família, conseguiram fôlego para impulsionar a educação dos filhos – aquelas que têm perspectiva, pelo menos; homens e mulheres passaram a ter a oportunidade de mudar a vida da prole com o extra proporcionado pelo Governo Federal. Semelhante ao Bolsa Família, tem-se, entre outros,  o Seguro Defeso e o Bolsa Estiagem. Programas que, igual ao Bolsa Família, permitem a sobrevivência de produtores, pescadores e de suas respectivas famílias. Então, por que tantas agressões para o Programa que atende a milhões de famílias e que tem seus reflexos ainda mais abrangentes? Simples: O Bolsa Família é destinando a quem não consegue produzir, por um motivo ou outro; a quem está em situação de miséria; a quem precisa complementar a renda de forma regular. Em suma, é um programa para o...

Árvore de Panetone

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Árvore de Natal de Panetones De repente, em dezembro, em pleno calor do nordeste brasileiro, aparecem milhares de árvores de Natal – cada uma com um estilo e uma disposição física diferente. Dentre elas, a menos popular é a que se adequa ao nordeste, a que mais se parece com o nordestino e sua cultura. A mais popular é o pinheiro, árvore não nativa do Brasil, que só chega às casas dos nove estados através de uma imitação horrenda feita de polímero. À parte essa importação cultural polimérica, outro tipo de arranjo quase igualmente comum é aquela que é confeccionada com o intuito de ser destruída para fins lucrativos e que podem ser encontradas em estabelecimentos comerciais de todo o País, atendendo as necessidades de todas as classes sociais; é a árvore de Natal de Panetones. São enormes. Gigantescas até. E cumprem a mesma função: proporcionar ao pobre o desejo de ostentar, ainda que parcamente, a ideia de igualdade, e ao rico, a ideia de qualidade. São inúteis, sem graça e ...

Impasse Palmeiríndio

O impasse que impera em Palmeira dos Índios não é o que se vê nas ruas e nos contracheques dos servidores públicos municipais. O imperativo é muito mais profundo e excludente que um salário reduzido a migalhas ou falsa dignidade ferida. Que a dignidade do Palmeiríndio já foi chafurdada na lama da hipocrisia, isso até as pedras da rua que levam aos bordéis falidos da cidade já sabem. O que as pedras não sabem são dos conchavos feitos entre as paredes do Poder e das ilusões que alimentam o pobre morador da cidade, mas o pobre mesmo – aquele que não tem o que comer nem expectativas. Agora as pedras irão presenciar mais uns meses de conversa fiada trazida pelos políticos da Capital que dirigem seus olhares para a “Princesa Falida do Sertão”, que ainda pode render muitos votos e publicidade, para as eleições vindouras e para a vida pública. Aparentemente, só agora perceberam a ingerência da Gestão Municipal atual e querem mover a Justiça e a dedicação que têm pelo povo alagoano pa...

A distância entre nós

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Capa da Obra É muito comum que os empregados domésticos sintam-se como parte da família dos empregadores. E muitas são as razões que levam a esse erro e o principal deles é a demagogia usada nesse tipo de relação. O analfabetismo, quando este interfere no modo de lê o mundo ao redor, também é fator fundamental para a perpetuação dessa mentira dita sob olhares sorridentes e pensamentos irritados. Trabalhadores domésticos são trabalhadores como outro qualquer e não devem misturar-se com a família para a qual prestam serviços. Não devem criar laços com os quais poderão enforcar-se em algum momento da vida laborativa. É em um misto de desilusões pessoais, tristeza com o próprio estado educacional e a incapacidade de quebrar paradigmas que Thrity Umrigar narra em A distância entre nós como Bhima, uma empregada doméstica, analfabeta, quebra com o socialmente aceitável e acolhe a neta estuprada, mesmo sabendo que a “desonra” da neta jogará as duas no infortúnio de vida que é o ...

Pobre usurpado

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Foto: da internet. O pobre não tem mais lugar no mundo, embora nunca tivesse. Entretanto, tomou dos miseráveis sua identidade, a pouca que lhes restava nas longas caminhadas por este mundo estranho e desencontrado. Retirou dos pobres a única coisa que restou depois das habituais humilhações e das inúmeras perdas que marcam a trajetória de pobres e miseráveis. Primeiro, trocaram os adjetivos válidos por eufemismos. Pobreza passou a ser humildade. Comunidades paupérrimas passaram a ser chamadas de Comunidades Carentes. Depois, começaram a furtar, à mão armada e à luz do dia, seus costumes, aliás, seus raros meios de vida. As Havaianas, usadas por uma massa de miseráveis, principalmente dos pobres nordestinos. Tornaram-se, as Havaianas, coisas de luxo para as classes emergentes e para os ricos e famosos. Os miseráveis, coitados, não podem mais comprar as Havaianas, que “todo mundo usa”. O Xadrez, típico do nordeste e das festas juninas, também foi usurpado. Tornou-se item chi...