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Mostrando postagens com o rótulo Brazil

Salvos pelo tapa do pessimismo

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  Objeto: Auguste Barre, Medalist: Jules-Clément Chaplain. Met. Um pouco de realidade e pessimismo faz bem. Sempre faz. Muitos de nós, mesmo vivendo na ilusão de vídeos curtos das redes sociais, jamais teremos uma casa de luxo, nunca saberemos como é estar dentro de um carro de luxo e comer alimentos de alto padrão de qualidade.  Muitos de nós, invejando e desejando a arquitetura da casa de um famoso, o carro confortabilíssimo de um "influencer" e a rotina de um multimilionário, passaremos a vida comendo ultraprocessados feitos de químicos com sabor de tal alimento, com a textura de tal produto - sem jamais chegar a degustar o alimento verdadeiro.  Fingimos falar outro idioma quando na verdade sabemos uma ou duas palavras - o suficiente para fingir que compreendemos o que os personagens de séries e filmes medíocres estão falando. No máximo, viajaremos alguns quilômetros e não tocaremos a realidade do nosso próprio país porque a parca educação que recebemos é suf...

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

  O filme Maníaco do Parque tem levantado um muro de críticas daqueles que, normalmente, vivem sob o ofuscamento dos holofotes das produções estrangeiras. Há quem diga que a produção é rasa, há quem critique a contextualização de uma personagem fictícia e simbólica e há quem critique a falta de sangue e de violência explícita.  No fundo, o que se critica é a falta de carnificina, o cheiro do medo, o sangue enquadrado, os gritos de horror. E essas críticas derivam do fato de que vivemos à procura de carne apodrecida para satisfazer as nossas tão humanas necessidades de deleite sobre a desgraça do outro uma vez que não podemos, geralmente por força da lei, realizar os mesmos atos.  Maníaco do Parque, o filme, não possui as reviravoltas de criativos roteiristas que sempre encontram uma maneira de tornar as histórias mais vendáveis. Nem possui a assinatura estrangeira que daria, aos vira-latas de plantão, o sabor de uma "boa obra", mesmo que essa tal "boa obra" não pass...

Carta a um ausente XIX

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Arte: Portia, Sir John Everett Millais. Met.   Agora você não acredita, mas me parece que os seus esforços são insuficientes para ser o que pensou há alguns anos. É bem verdade que seu caminho acaba em mim quando se trata de pedir caminhos viáveis. E só.  Um dia, talvez quando estiver olhando o mar verde dessa cidade inquieta e malcheirosa, caia-lhe o pensamento na calçada e perceba que, até agora, muito pouca coisa tem importância e que, aquela você de outrora chora ainda em um quarto escuro com medo de ser reprovada por um círculo social ingrato e injusto. Olhando assim, de longe, parece que eu me perdi e não saiba muito bem o que estou fazendo de uma vida que caminha em direção ao Portão do Inferno, sempre olhando para o abismo real que suga almas sem esperanças. Talvez, de fora, tenha alguma razão. Afinal, a vida é para ser gasta.  É por isso que olho para você e percebo que a beleza que já vi sob o sol de agosto parece estar murchando com o peso de tantos p...

Crônica de uma vida insuficiente XXVIII

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Arte: Lion Sleeping, Antoine-Louis Barye. Met.   Mesmo tentando, olhando para a esquerda quando a paisagem da direita há dores imensas coletivas, não há como ignorar o tamanho do abandono em que vivemos.  Comemos o suficiente para não morrermos de fome e desempenhar essas atividades insalubres e com baixa remuneração. Não comemos, enchemos a barriga com plásticos, papelão, vidro, agrotóxico, venenos diversos. Pesados, saímos para sustentar o giro do capitalismo que nos nega o básico para sermos pessoas.  E, cansados, ao tentar dormir, não conseguimos porque nossa carência nos insufla a ir buscar aprovação em redes sociais, jogos de azar, ódio políticos e discórdias sociais, mesmo que, ao lado, roncando devido à gordura de uma alimentação ruim, haja uma pessoa que diz que nos apoia. Amores, perdidos pelo medo de não sermos nada além de pessoas, já não existem mais.  Aliás, será que chegamos mesmo a "amar" ou deliramos tentando não nos sentir sozinhos? Não, é...

Nada além do que virá

 Quando escrevi A presunção da importância refleti como somos tão pouco importantes em um mundo dinâmico composto por pessoas substituíveis e se reler Recado amistoso   poderá entender um pouco mais sobre as entrelinhas da instrumentalização do sexo.  Entre pernas que se abrem e bocam que bebem o gozo de desconhecidos de nomes populares estamos todos suscetíveis a sermos apenas instrumentos, corpos e números. Parece que isso já é tão aceito que na nova forma de fazer política quanto mais seguidores se tem mais apto a ser um candidato a cargo politico. A questão que ressurge, assim como acontece na seara da artes, é: quantidade de seguidores significa talento ou competência para ser artista ou político? Em breve poderemos ver, tal qual acontece no Pantanal, a queimada dos mais diversos campos sociais em um fogo causado pela ânsia de transformar redes sociais em instrumentos corriqueiros de poder.  Obviamente isso não dará certo como jamais deu certo importar hábitos ...

Novo humano primaveril

 É primavera no hemisfério sul e no centro geodésico da América do Sul nada se vê além de fumaça e de uma paisagem coalhada por prédios cinzentos de fumaça. Calor e fumaça. Sem sexo - já que ninguém aguenta montar sobre corpos sob o efeito de detritos e vegetação queimada nos pulmões -; e sem apetite - o calor não permite nada além de uma insana vontade de beber água ou uma bebida açucarada qualquer, o dia vai escorrendo, na lembrança de um suor que não existe em virtude da baixíssima umidade. Há emoções latentes que não se atrevem a ultrapassar a barreira do aceitável socialmente. Há homens que se amam. Há mulheres que se desejam. Há casais que não mais se tocam. Há corpos mimetizando pessoas.  A primavera começou. Sem poesia, sem expectativas, sem amenidades. Apenas começou porque deve, não por que escolheu. As músicas que apaixonavam e abriam essa estação retratam um tempo sem calor excessivo, sem falta de água, com flores e olhares singelos (se um dia houveram). Hoje a pri...

Inexiste vida cuiabana

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  Foto: Cuiabá, 16h, coberta por fumaça. R. R. Marajá. Não há vida em Cuiabá. Pode parecer extremismo afirmar que não existe vida na capital de um estado importante para o agronegócio brasileiro. Talvez seja essa importância toda que torna Cuiabá inabitável.  Fumaça dia e noite, altas temperaturas (ou o extremo oposto) e um projeto de "vida" que não contempla pobres torna essa cidade completamente tóxica para a vida e sem nenhuma condição de abrigar o viver. A qualidade do ar é sempre ruim ou péssima, o transporte público é de uma segurança questionável (já que em Várzea Grande, cidade-irmã de Cuiabá e componente da região metropolitana, alguém sempre está morrendo atropelada pelos ônibus que as atende) e a alimentação, impregnada por agrotóxicos ou à base de açúcar e sódio, não ajuda.  Do que adiante ter parques públicos se não há condições ambientais para uma simples caminhada? E a questão ambiental é tão séria que as pessoas realmente acham que os animais são os vilões...

A sífilis católica

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 Não é de hoje que se conhece os efeitos do catolicismo na vida cotidiana do povo brasileiro. Por meio dessa poderosa arma de dominação empregada pelos colonizadores da imensa área terrestre que se conhece como Brasil, o povo foi obrigado a aceitar figuras ditas sacras como suas; o povo foi obrigado a comer ou a deixar de comer em função de dogmas e "festividades" católicas; o povo, que construía as edificações católicas, sequer podia - e, de certa forma, ainda acontece - entrar nos ambientes católicos.  Para o povo, criaram igrejas católicas distintas, sem muito requinte ou cuidado, apenas o suficiente para manter sob domínio um povo colonizado e expropriado de sua cultura, de sua terra, de sua identidade.  O sangue que banha as paredes dos templos e edifícios católicos criaram os pentecostais e os neopentecostais. E o povo seguiu sendo colonizado, acreditando na ficção de um único deus, seletivo, opressor e imaginário. Um deus que não se manifesta diante da mais absurda...

A conveniência do assistencialismo climático

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 A conveniência da ajuda em situações de desastres socionaturais serve à manutenção da ideologia política e dos diferentes projetos de poder e dominação que se quer implantar em uma área. No Brasil, país altamente racista e com um modelo de viver escravagista, isso não seria diferente.  Na polarização entre aqueles do sul e aqueles do norte, entre a direita e a esquerda, entre pobres e pobres-que-se-sentem-elite-social há um abismo de venenos e oportunismos. E não custa muito para perceber a seletividade do "amor ao próximo" e da "empatia".  Segundo o DW, o nordeste do Brasil também sofre com enchentes e desastre socionatural.  No outro extremo do Brasil, no estado do Maranhão, pelo menos 30 municípios já decretaram situação de emergência devido às chuvas que atingem o estado desde abril, de acordo com informações confirmadas pela Defesa Civil. Mais de mil famílias estão desabrigadas, e quase 3 mil pessoas, desalojadas. Até o momento, foi registrada uma morte. A Def...

O primeiro domingo

Pela tela desiluminada do meu aparelho móvel eu vi a dedicação na cozinha, lavando os pratos enquanto no forno a comida ficava pronta. Eu vi por uma tela desiluminada e em sigilo. E não pude deixar de ser aquecido pelo tempo dedicado à arte da culinária, à recepção, ao entendimento implícito, ao silêncio. O ano começa entre pelos, sob garfos, ao som de espirros e com olhos marejados ao observar a correção de uma das inúmeras injustiças cometidas contra o povo, em um passado próximo. Olho para o rosto suado, para a pele negra e sinto o suor com os lábios. Eu não sei como será amanhã e onde poderei estar. Por hoje, eu sei, isso é suficiente. É tudo. 

Regras básicas do Manual do Homem de Bem

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Está na cartilha: Aos domingos ir à Igreja e aceitar tudo o que disserem, pois na casa de Deus só homens santos têm a palavra. Nas tardes de domingo e nas noites de quarta-feira, e sempre que for possível assistir pelo streaming ou num barzinho, deve-se mostrar toda a especialidade em futebol. Todo sábado deve-se tomar uma cervejinha, de preferência às custas de outros. À noite, deve-se encostar em um automóvel e olhar para os transeuntes, sempre analisando e criticando a roupa e o corpo alheios. Deve-se ter uma mulher para criar um clima de respeitabilidade nas datas comemorativas. E umas duas outras para ejacular e ser O homem-macho. Jamais se deve rejeitar um sexo gratuito. Jamais admitir uma amizade com um gay, apenas com lésbica (para manter a fantasia de um sexo a três com duas mulheres) Deve-se ter uma aura familiar. Família é tudo! - um mantra que deve ser repetido sempre que possível. Sempre ser a favor das forças armadas! É preciso aparecer de ressaca algumas veze...

Entre Krusty e o Demônio Vermelho do Oriente

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Foto: Trecho de The Simpsons, Ep. 305, Fox.  O povo não sabe escolher.  No projeto de nação que escolheram para o Brasil o aspecto fundamental é a incapacidade de o povo saber escolher. Para atingir esse objetivo criaram escolas públicas ineficientes, formações de professores incapazes de uma mudança real e impactante no indivíduo formado e formador, na sala de aula e fora dela.  Limitaram o acesso a alimentos, bens e serviços e o povo vive como dá, do jeito que dá, um dia de cada vez. Assim ele não tem tempo de pensar, questionar a própria realidade e impor limites aos que se arvoram em donos do poder. O povo, subnutrido e com um intelecto muito pouco trabalhado, aceita condições sub-humanas de trabalho, alimentos impregnados de agrotóxicos e seu lugar como plateia no exercício da democracia. Às portas das eleições para o poder executivo e legislativo estadual e nacional, o povo escolhe aplaudir o que a imprensa, ressentida, resolveu apoiar desta vez. De um l...

O chicote

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A classe média, assim como as outras classes, nunca muda. Apresenta peculiaridades quando é do interior, mas sempre discursando palavras macias com o chicote nas mãos. Outro dia, andando nos bastidores empresariais dessa classe média, eu ouvi e vi as ações terríveis que o chicote do salário faz nas pessoas e as coisas que estas precisam fazer para a bajulação de todos os dias (isso ou o olho da rua, a escolha é simples). Um chicote que humilha, objetifica e sacrifica pessoas.  Seria o salário ruim? Obviamente ninguém trabalha de graça. Porém, ninguém precisa rebaixar-se à vileza para poder sobreviver. No entanto, é isso que a classe média, crendo-se dona do capital, provoca nos pobres.  Ah, os pobres! Doutrinados, manipulados, execrados, nunca deixam de ser a autoafirmação que a classe média e a elite precisam para sentirem-se dignas de atenção, sempre dos pares. Os pobres que carregam o peso da própria existência e do luxo de poucos são os mesmos que temem perder ...

Quanto custa a sua vida?

Quanto custa a sua vida? Perguntando assim, à queima roupa, há o escândalo e a ojeriza. Porém, reparando bem, talvez você não a valorize como pensa. Pela manhã você acordará cedo, talvez o sol ainda nem tenha raiado, quando a água chocará o seus sentidos e um alimento profanará o seu corpo por dentro. Na mente você amaldiçoará a hora em que aceitou esse destino que é trabalhar para outro, aceitando a humilhação de um salário mínimo em um país em desenvolvimento.  Quanto custa a sua vida? Será R$ 7,00 por hora ou menos?  No fim do dia, vistoriando as redes sociais pela n-ésima vez, muitas das quais escondida do empregador que insiste que você deve dar graças ao Deus dele pelo emprego que tem, verá alguns na praia, outros em shoppings, um punhado na academia e centenas de outros que seguem, como você, a vida que gostaria de ter.  No fim do dia, com os olhos cansados e um corpo moído pelas humilhações que não precisa suportar, você se preparará para mais um dia nessa rotina....

Oração a Oxóssi

Senhor de uma flecha só                                           Apontai-me o caminho na mata escura  Senhor do silêncio caçador                                               Ajudai-me na arte de silenciar Senhor da abundância                                       Olhai por mim na adversidade Senhor dos caboclos                                     Sustentai-me nesse meu caminhar  Senhor Deus dos tambores e das peles de caça                                      ...

Dos grupos virtuais

Em um desses inúmeros grupos de inutilidades e futilidades que nos colocam sem expressa permissão e que somos obrigados a permanecer por um tempo mínimo para não causar constrangimentos alheios acontecem as mais diferentes asneiras e loucuras gráficas. Dia desses começou uma discussão, em um desses grupos, sobre o baixo valor das ajudas de custos que uma certa instituição de ensino pretende fornecer aos discentes. Entre fervorosas defesas e aplausos virtuais alguém jogou na roda de debate: o que é Cadúnico? E então, para os entendidos e os que precisam desse cadastro, a discussão  os aplausos, o fervor - tudo acabou da mesma maneira que começou, repentinamente. Isso porque se uma pessoa que sequer sabe o que é o Cadúnico jamais poderá compreender como ajudas de custos, bolsas de apoio à permanência acadêmica e todo o aparato que o Estado pode e deve fornecer aos discentes em vulnerabilidade social são fundamentais para a redução da desigualdade social e o desenvolvimento da socieda...

A força insolente

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Eu poderia dizer, ébrio como os amantes da madrugada, tal qual o poeta, que a casa é sua. E, recordando fantasias que só existem na deturpada lembrança de tempos idos, poderia invocar uma realidade descabida e órfã. Mas a infernação acabou.  Não existe mais delírios amantes ou fantasiosas realidades. O amor, que nunca existiu, deixou o espaço livre.  Os quadros de vulva, da mesma ordinária vulva, deram lugar a falos de todos os tipos.  Agora é a madrugada boêmia, desejos pululantes que tomam conta da rua, palavras que surgem depois dos atos (nunca mais o contrário).  E posso ver seu sangue pulsando de ciúme e ira a quilômetros de distância como se eu fosse um tubarão sempre faminto e você, destituída de toda a humanidade, um animal sangrando em mar aberto. Eu vivo em mim e para mim em meio a xerófilas, negros costados, fortes pernas. Eu tenho em mim a força da semiaridez e o timbre do vento nas folhas secas. Eu sou o desejo encarnado e a própria tormenta ...

Sem perdão ao liberto

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Nem bem o comércio abriu as portas e o horário de trabalho começara e lá estávamos nós, reunidos em solene obrigação de desgraçados que não nasceram abastados - trabalhando ao som das correntes virtuais e do chicote da falta de privacidade de câmeras e microfones em todos os ambientes. Não bastasse isso, ainda tinha a infernação de ter que olhar para a novidade no outro e ter que acha-lo bonito com falsas expressões de admiração. Aprovar cada inutilidade que o outro faz é rebaixar-nos à mediocridade imperdoável. E isso, jamais. Embora a vida seja banal cotidianamente e tenha eventos desagradáveis dia sim e dia também, é demais ter que carregar o peso da nossa existência e a obrigação de aprovar, por convenção social, as banalidades alheias. Livrei-me do peso de amizades escabrosas, falsos amores, ilusões pobretanas, obrigações sociais.  Livrei-me de relações tóxicas (com a exceção da minha própria tóxica companhia) e dos subornos e ameaças cristãs. Livrei-me de tudo e d...

Um pobre em desabafo

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Caminhando por essas ruas em que gente da classe média não se digna a andar a pé, sinto o chão com os meus pés calçados em um tênis sem solado inviolado - quando chove sinto a água que entra e encharca a meia e quando o dia é pleno verão sinto o calor que se desprende do asfalto. Ouvindo o drama alheio sobre o preço da gasolina, penso que o meu almoço do mês inteiro poderia ser pago só com a parcela do carro alheio ou com o valor semanal do combustível. É a realidade de cada um que nos oprime em castas sociais em um país de pobres, de famintos e de mal-remunerados trabalhadores.  Tenho então a impressão de estar desperdiçando a minha vida durante as horas de um trabalho que me empobrece como indivíduo e que, simultaneamente, enriquece aqueles de casta superior. Tenho fome que nunca acaba.  Tenho cansaços que nunca cessam. Tenho desejos que existem apenas na utopia do sonho acordado. Tenho o não ter. E tudo isso é só o que tenho.

Manhã alegremente cadavérica

Já era o meio da manhã, aquele ventinho frio entrando pela recepção e indo até nós lá dentro, onde outrora foi o quarto de um alguém vaidoso, quando a ambulância estacionou perto do letreiro luminoso, apagado porque era dia. Um alvoroço tomou conta dos ambientes em um quê de insana curiosidade por uma pessoa mal-nascida e impregnada com as malezas da carne. Olhando de longe os transeuntes poderiam pensar que o instinto maternal atacou-lhes as entranhas e o amor, psicodélico e quimérico, emanava pelo ar e através de mãos contaminadas pela ganância. Sim, pensariam todos os caminhantes que cruzasse com a mimetizada cena.  No fundo, sob o manto de falsas bênçãos, está a curiosidade pela morte alheia, pela doença que devassa o corpo de outrem, pelo dinheiro que surge do chão sempre que aquele cadáver andante esterta vida.  Abutres que vivem da desgraça alheia, como os homens e mulheres de bem que controlam o vai-e-vem da rua (sempre pobre, sem asfalto e cheia de lixo), estavam todo...