Nada além do que virá

 Quando escrevi A presunção da importância refleti como somos tão pouco importantes em um mundo dinâmico composto por pessoas substituíveis e se reler Recado amistoso  poderá entender um pouco mais sobre as entrelinhas da instrumentalização do sexo. 

Entre pernas que se abrem e bocam que bebem o gozo de desconhecidos de nomes populares estamos todos suscetíveis a sermos apenas instrumentos, corpos e números. Parece que isso já é tão aceito que na nova forma de fazer política quanto mais seguidores se tem mais apto a ser um candidato a cargo politico. A questão que ressurge, assim como acontece na seara da artes, é: quantidade de seguidores significa talento ou competência para ser artista ou político? Em breve poderemos ver, tal qual acontece no Pantanal, a queimada dos mais diversos campos sociais em um fogo causado pela ânsia de transformar redes sociais em instrumentos corriqueiros de poder. 

Obviamente isso não dará certo como jamais deu certo importar hábitos culturais do norte global para as terras tropicais do Brasil. Porém, parece que ainda não aprendemos a ser notáveis.

Agora, sob esse pano de fundo e com amores perdidos entre sexos desvantajosos, temos pessoas entre uma medicação e outra esperando ser especiais, importantes, únicas - fazendo o que todos fazem e se recusando a abrir um livro e ler mais de uma palavra. A concordância verbo-nominal, que jamais foi o forte do povo, foi jogada nos incêndios criminosos do Centro-Oeste brasileiro. O amor próprio secou à semelhança dos rios amazônicos e, diferente destes, jamais voltará a surgir com o mínimo de bom senso, vendido em caixas de comprimidos e sob prescrição médica. 

Homens que não suportam um pênis mediano, mulheres que não aguentam dois minutos de liberdade de gêneros, adolescentes adestrados por algoritmos - e todos querendo ser importantes, únicos, ricos sem esforço e sem berço.

Agora estamos aqui, sob a fumaça, envoltos na neblina da mais densa ignorância, ameaçados não por um inimigo externo, cruel e feroz, mas pelo medo de não sermos notados em um mundo virtual, polimérico, impessoal e opressor. 

Agora não estamos mais. Agora somos um termo a surgir para nos rotular. E continuaremos sendo desimportantes. E frustrados. 


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