A força insolente
Eu poderia dizer, ébrio como os amantes da madrugada, tal qual o poeta, que a casa é sua. E, recordando fantasias que só existem na deturpada lembrança de tempos idos, poderia invocar uma realidade descabida e órfã.
Mas a infernação acabou.
Não existe mais delírios amantes ou fantasiosas realidades.
O amor, que nunca existiu, deixou o espaço livre.
Os quadros de vulva, da mesma ordinária vulva, deram lugar a falos de todos os tipos.
Agora é a madrugada boêmia, desejos pululantes que tomam conta da rua, palavras que surgem depois dos atos (nunca mais o contrário).
E posso ver seu sangue pulsando de ciúme e ira a quilômetros de distância como se eu fosse um tubarão sempre faminto e você, destituída de toda a humanidade, um animal sangrando em mar aberto.
Eu vivo em mim e para mim em meio a xerófilas, negros costados, fortes pernas. Eu tenho em mim a força da semiaridez e o timbre do vento nas folhas secas. Eu sou o desejo encarnado e a própria tormenta que estala o chicote do tempo em sua face e nos corpos dos incautos.
Eu sou a própria força da natureza e sem rudeza nenhuma posso deturpar o poeta ao bradar: a casa nunca mais será sua, não chegue agora.
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