Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem
O filme Maníaco do Parque tem levantado um muro de críticas daqueles que, normalmente, vivem sob o ofuscamento dos holofotes das produções estrangeiras. Há quem diga que a produção é rasa, há quem critique a contextualização de uma personagem fictícia e simbólica e há quem critique a falta de sangue e de violência explícita.
No fundo, o que se critica é a falta de carnificina, o cheiro do medo, o sangue enquadrado, os gritos de horror. E essas críticas derivam do fato de que vivemos à procura de carne apodrecida para satisfazer as nossas tão humanas necessidades de deleite sobre a desgraça do outro uma vez que não podemos, geralmente por força da lei, realizar os mesmos atos.
Maníaco do Parque, o filme, não possui as reviravoltas de criativos roteiristas que sempre encontram uma maneira de tornar as histórias mais vendáveis. Nem possui a assinatura estrangeira que daria, aos vira-latas de plantão, o sabor de uma "boa obra", mesmo que essa tal "boa obra" não passasse de sofrível.
A produção cinematográfica brasileira, contando um caso brasileiro, é a narrativa brasileira do que se passou, considerando limitadas possibilidades poéticas e artísticas, como seria de se esperar. Quem tanto critica precisará ir a um psicólogo para tratar sérios problemas mentais porque se a realidade, violenta e sangrenta, não satisfaz, há algo de muito errado se passando internamente.
Entretanto, para além do filme, o que se percebe, pela entrevista de 1998 veiculada no Fantástico, o Maníaco do Parque, a pessoa, foi um produto que veio muito bem a calhar na perpetuação de estereótipos contra parcelas da população historicamente prejudicadas pelo que hoje se conhece, não sem motivos, por mídia golpista.
Há, para quem assistir a tal reportagem-entrevista, a tentativa de reforçar o estigma contra religiões de matriz africana. Quer dizer que o tal Maníaco não poderia ter tal comportamento apenas em virtude de sua natureza, é preciso que exista forças "malignas" - não católicas e associadas aos negros - atuando sobre o homem, que, por isso, é uma vítima?
A tal reportagem é um suco de preconceitos, tentativas de alcançar todas as parcelas da população brasileira por meio de reforço de estereótipos e uma certa pitada de indução para reafirmar a malignidade do Maníaco do Parque, como se os fatos ocorridos já não fossem suficientes. Se unirmos a tal reportagem com o sucesso de vendas do jornal Notícias Populares, do filme, podemos verificar que o assassino e abusador, para essa mídia golpista, nada mais é que um produto para vender cortas publicitárias e aumentar a audiência, por meio do medo, dos achismos e das manipulações do discurso.
O que deveria ser criticado não é o filme, o ponto de vista do diretor ou do roteirista ou a falta de sangue e violência. Mas a nossa incapacidade de criticar como a mídia de massa manipula tragédias em benefício próprio para manter a sua lucratividade e o adestramento dos ignorantes que a consome sem nenhum tipo de filtro intelectual crítico.
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