A sífilis católica

 Não é de hoje que se conhece os efeitos do catolicismo na vida cotidiana do povo brasileiro. Por meio dessa poderosa arma de dominação empregada pelos colonizadores da imensa área terrestre que se conhece como Brasil, o povo foi obrigado a aceitar figuras ditas sacras como suas; o povo foi obrigado a comer ou a deixar de comer em função de dogmas e "festividades" católicas; o povo, que construía as edificações católicas, sequer podia - e, de certa forma, ainda acontece - entrar nos ambientes católicos. 

Para o povo, criaram igrejas católicas distintas, sem muito requinte ou cuidado, apenas o suficiente para manter sob domínio um povo colonizado e expropriado de sua cultura, de sua terra, de sua identidade. 

O sangue que banha as paredes dos templos e edifícios católicos criaram os pentecostais e os neopentecostais. E o povo seguiu sendo colonizado, acreditando na ficção de um único deus, seletivo, opressor e imaginário. Um deus que não se manifesta diante da mais absurda brutalidade cometida contra as suas ditas criaturas, mas que se levanta em poder e ódio contra aqueles que professam uma fé diferente, ou que se deitam em pleno gozo com os seus iguais ou que, na mais leve insinuação, se recuse a ser alienado. Um deus, como muito bem definiu o filósofo Nietzsche, criado à semelhança do homem, com todas as tendências "pecaminosas".

O brasileiro, depois de séculos apanhando por querer ter uma identidade religiosa e cultural, criou descendentes fracos e incapazes de pensar e refletir sobre a sua herança política, social e cultural. Para a prole sifilítica do povo brasileiro é possível ser negro, desde que se fantasie de branco (ou daquilo que crer ser branco); é possível ser de religião de matriz africana, desde que seja embranquecida com imagens católicas brancas, com músicas brancas e orações católicas; é possível ser contra o ódio, desde que se possa cometer ódio velado contra outros negros (pretos e pardos); é possível ser inclusivo, desde que seja aceitável não reconhecer os pardos como negros e destituir os índios das qualidades do ser humano. 

O brasileiro, degenerado pela sífilis colonizadora que chamamos de catolicismo, não aceita o que ele considera discursos de ódio contra o catolicismo, mesmo tendo, em documentos e tradições orais, as provas cabais do sofrimento que essa arma impôs ao povo. 

Onde estava o catolicismo quando a República dizimou Canudos e alagou suas terras na tentativa de apagar da história a resistência desse povo? Onde estava o catolicismo quando os coronéis obrigava o povo a trabalhar sem a paga adequada e o oprimia? Onde estava o catolicismo quando seus sacros representantes abusavam de crianças e adolescentes, fazendo deles meros objetos sexuais? Nesse último caso, onde estava esse deus? Onde estava o catolicismo no morticínio histórico de índios e negros? Onde estava o catolicismo quando os negros eram, e ainda o são, massacrados das formas possíveis e imagináveis? Onde estava o catolicismo quando dividiram os negros em cores para que eles mesmos não se reconhecessem como negros?

A resposta é simples: o catolicismo, sentado à mesa dos reis portugueses, espanhóis e franceses observava passivamente, dando a benção desse deus, a tudo o que se pode imaginar de atrocidades. E esse deus, morto em catedrais, jamais se levantou porque jamais existiu.

Ao observar o brasileiro atual, colonizado, seviciado, tolhido, alienado e incapaz de pensar sobre si é possível perceber que o catolicismo, arma tão poderosa do colonizador, continua sendo eficiente, para a infelicidade do Brasil, da América Latina e do Caribe.




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