Presente intrínseco



Os pobres já começaram a lotar as lojas do centro comercial da cidade e os shoppings, preparados para o volume de vendas, ostentam as marcas do "amor" que  se compra e se expõe nas redes sociais. O amor, comprado em embalagens nada sustentáveis e pouco úteis, pode ser encontrado em prateleiras e vitrines exclusivas em pleno inverno brasileiro. 
Os ricos debatem-se no dilema do quê comprar. Os pobres de quanto gastar.
No entanto, o que todos querem mesmo é o sexo prometido implicitamente entre as folhas de papel das embalagens e as expressões de surpresa, competentemente ensaiadas. Juras de amor etiquetadas à parte e indo diretamente ao que importa, o sexo do dia dos namorados, deve-se notar que o mais importante, nessa questão, não é o presente e nem a intenção "amorosa", mas o quanto aquele(a) que presenteia é belo(a) e corporalmente desejável porque o presente mais lindo empalidece à imagem de um corpo pouco atraente.
Ruim para as mulheres e homens feios, uma benção para os belos. 
Para os homens, objeto do destempero comercial que foca nas mulheres, a data dos namorados resume-se no depois em que o presente é aberto ou o jantar termina e o verdadeiro prazer se descortina. É por isso que é uma blasfêmia que a depilação não esteja em dia e a lingerie não seja cuidadosamente selecionada. 
Os homens querem e vão sempre querer o anal paulatinamente negado pelas mais pudicas e brochantes; a felação diferente e ousada; a experimentação sem pressa de uma vulva que já lhe pertence e que pode, sempre, surpreender. E o que pode ser dito sobre o que os homens querem pode igualmente ser estendido às mulheres, resguardada a devida diferença anatômica.
Cada um dá aquilo que lhe é intrínseco e íntimo e que compreende o verdadeiro e particular presente, indisponível nas lojas e, quase sempre, desprezado nos feios.

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