O tempo

Não temos tempo!
Viajamos para mais perto de nós ao distanciar-nos dos espaços físicos que nos é conhecido. Olhamos para dentro quando, frente ao espelho, olhamos a cor de nossos olhos, e não se o cabelo está arrumado, o batom impecável, a roupa alinhada e o conjunto da obra - nem tão bonita às vezes -, pronta para o olhar de alguém sem muita importância. Nesses momentos, o tempo é infinito.
Estamos de passagem na vida das pessoas e cada momento que estamos ao lado, segurando a mão, colhendo as lágrimas ou sorrindo descontroladamente por cócegas que são feitas em tapetes, ônibus ou nas salas de aula é especial. De passagem, com o bilhete sem a devida data de embarque e desembarque, vamos a viagens cheias de altos e baixos cujas formas de manifestação nem sempre são as mais fáceis, ou tão divertidas que a comicidade acaba provocando a ira de quem nos acompanha. E queixas existirão. Mas queixas sempre existem, apesar de ter aquela pessoa que sempre diz que sua postura e seus métodos não são os apropriados; que seu humor é negro. Mas, se você fosse diferente, seria você? Nesses momentos não percebemos que não temos tempo, apenas que ele é um relógio que aponta o próximo compromisso.
Não temos tempo!
Não cabem no nosso relógio de pulso as várias horas assistindo aula de cálculo e psicologia; não cabe a quantidade de explicações desnecessárias que damos apenas para satisfazer a insegurança alheia; não o rosto sempre igual a querer convencer que estamos sendo irracionais demais quando tentamos sermos somente nós, sem as máscaras habituais. Não cabe a imensa poesia que vivemos e não escrevemos. Não cabe metade dos pensamentos que temos no curto período de um dia dormindo. Não cabe o sonho realista com a pessoa pouco conhecida. 
Não cabe e, no entanto, acontece. 
Não temos tempo para o que importa nem para o que não importa então qual é a diferença entre tirar férias (ainda que pequenas) e continuar trabalhando? Seus parentes irão morrer e seu trabalho será ocupado por outro, quando você morrer. Qual o motivo de esquecer coisas imbecis se a inteligência é a mistura do imbecil com a exatidão dos números com a concisão das palavras? 
Não temos tempo, então tenha o desprezo pelos ponteiros e durma quantas horas desejar. A preguiça só é pecado quando o sono está satisfeito por completo! Coma exageradamente: sabe-se lá como será amanhã? A gula é ruim apenas para quem não consegue comer mais!
Não temos tempo!
E quando teremos esse tal tempo para sermos nós, sem o peso que gostamos de carregar, sem as regras sem sentido dessa sociedade, sem a necessidade de fingimento?


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