O preço de uma amizade
Entre em uma loja de departamento
e escolha o amigo que melhor se adaptar ao seu estilo de vida. Certamente, com
as mesmas indecisões que nos levar à frente de um espelho e provar milhares de
roupas sem serventia, em uma loja de vestuário, você poderá escolher um amigo,
ou vários. A quantidade poderá ser definida ou por sua conta bancária, sempre
de preferência nos melhores bancos do mercado ou pela sua necessidade. Em
prateleiras, há milhares de modelos adaptáveis e sempre prontos para ser seu
melhor amigo.
Se preferir, pode refugiar-se
entre relacionamentos fracassados e chamar todos os ex-amores de amigos
verdadeiros. Como também pode adotar como estilo de vida a contínua condição
moderna de ter amigos virtuais, sem graça e sem o humanismo necessário.
A forma como escolherá sua rede
de melhores amigos de infância quem escolhe é você.
Por outro lado, somente quando
não se está interessado em manter aparências, em ser real, verdadeiro e
despretensiosamente sarcástico para aceitar os defeitos alheios, os medos e as
pequenas alegrias do dia a dia é que se podem encontrar indivíduos sem preço,
que vulgarmente tornam-se amigos reais sem o eufemismo agregado pela palavra
melhor.
Essa mania de querer que alguém
seja sempre o melhor amigo, melhor companheiro, melhor isso e aquilo é o
retrato indubitável não da carência, mas da futilidade. As pessoas não precisam
ser melhores para serem boas e excelentes amigas. Precisam apenas ser reais, com
opiniões próprias, com vida própria e cheias de defeitos.
Defeitos, por sinal, é a chave. Essas
pessoas que se tornam, pouco a pouco, amigas, são cheias de inúmeros defeitos.
Dos mais ridículos aos mais horripilantes e, no entanto, mantêm uma força
gravitacional tão boa e interessante sobre o outro – nós- que esses pequenos
detalhes defeituosos tornam-se irrelevantes e, até certo ponto, interessantes
nas mais aleatórias situações da vida.
Então, os amigos, que sempre
aparecem das mais diferentes maneiras, sempre gratuitos, sempre cheios de
defeitos, sempre interessantes, sempre reais, sempre normais, sempre pessoas e
sempre tolerantes com as fantasias – nossas – são criaturas ora insolentes, ora
preocupadas (com o estado de quem é o espelho da amizade), ora engraçadas, ora
anormais, ora normais demais. Mas sempre espontâneos.
Você pode comprar um amigo. Ou
pode conquistar um. Afinal, quem disse que eles são totalmente gratuitos está mentindo.
Amigo se conquista com gosto de
sangue na boca, com muito tempo, com paciência, com sinceridade e com muita
disposição de ser quem é sem as efemeridades de um mundo artificial demais para
ser terrestre. Esse, diga-se, é o único preço a pagar por um bom amigo: tempo. E,
cá para nós, ainda sai barato se pensarmos bem!
Comentários
Postar um comentário
Após análise, seu comentário poderá ser postado!