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Mostrando postagens com o rótulo Jorge Amado

Um cínico diferente

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Fotografia: Two Pupils in Greek Dress. Thomas Eakins. 1883. Metmuseum. Que coragem teve Quincas para se libertar! Quantos de nós seguimos a cartilha, competentemente sendo o molambo do querer alheio, sem nunca ter a coragem de largar tudo e ir em busca daquilo que realmente quer e gosta? Sendo perfeitos modelos daquilo que foi pré-determinado por alguém em algum lugar em um tempo muito distante, buscamos a estabilidade no emprego, o carro mais confortável, a casa que mais agrada aos olhos dos outros e a aparência e o comportamento que mais sacia aos sentimentos de uma sociedade cínica. A busca acaba se mostrando inútil. Sempre acaba assim. Então imagine que elogio ser dito como "diferente" ou "estranho" em uma sociedade que não sabe ser nada além de pré-moldados. Ser diferente entre escravocetas é não sucumbir à triste realidade da indignidade masculina. Ser estranho em uma sociedade hipócrita é a mais deliciosa sensação - o equilíbrio perfeito entre o...

Cine Brasil: Tenda dos Milagres

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O Brasil pode ser representado muito bem por suas produções cinematográficas. Hoje eu indico o filme Tenda dos Milagres, baseado na obra homônima do escritor baiano Jorge Amado, de 1977.  Tenda dos Milagres levanta questionamentos sociológicos e antropológicos sobre a mestiçagem brasileira e a extensão das religiões de matriz africanas que estão, em maior e menor grau, em todas a famílias brasileiras e influenciando as mais diversas profissões. Com direção e roteiro de Nelson Pereira dos Santos e diálogos riquíssimos, Tenda dos Milagres é uma verdadeira pérola do cinema nacional e que deveria ser assistido por todos aqueles que dizem não haver, na cinematografia nacional, bons filmes. Bom filme e boas reflexões!

A saga ENEM: Revival

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Então eu estava lá, escrevendo na barriga da besta quando... um o Aplicador da prova, que não sabia nem o que estava fazendo, começa sua saga particular para matar a fome de 10 meses de jejum. O Aplicador rasgou o saquinho de amendoim chinês derramando-o todo no chão ( aí vão meia hora para juntar todas as bolinhas salgadas), depois começou a comer o kit de barras de cereal e mais uvas e bolos, levadas de barulhentas bolsas plásticas brancas. Ele deve ter pensado "como faço para fazer o máximo de barulho para aqueles fodidos? Ah, sim, vou levar uvas e bolo dentro de bolsas brancas e lá eu vou tirando uma por uma das uvas e depois pedaço por pedaço, até não restar mais nada e o barulho ter sido épico". E assim ele fez. E mesmo que mais irritante tenha sido isso que as conversas imbecis e paralelas qye teve com a Chefe de Sala (a mesma de ontem, diga-se), foi a fome canina seguida da sinfonia de plásticos que mais quase me fez matá-lo de vergonha.  Mas ou um anjo e só resol...

A Arma Escarlate

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Conhecido pela literatura de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Machado de Assis e tantos outros imortais, o Brasil tem visto uma nova onda vermelha em suas regiões. Uma nova maneira de ver a literatura fantástica nacional. A Arma Escarlate não é, como alguns gostam de comparar, um "Harry Potter brasileiro". E ouso dizer, jamais o seria - e pelos bons motivos. Hugo Escarlate, o Idá do Dona Marta, é a representação real do jovem brasileiro, ainda hoje, esquecido pelo holofotes da mídia assistencialista. Hugo nasceu e viveu em uma favela. E poderia ter nascido e vivido no interior do nordeste, da amazônia ou no esquecido Acre, estado de Átila Antunes, e ainda assim representaria a legião de filhos sem pais(registrados); de jovens sem orientação social e educacional, vítimas e agentes da violência; de indivíduos imersos em submundos dos mais variados, do saudável ao nocivo. Renata Ventura explorou o que o Brasil tem de sobra: ...

As Cariocas

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A mulher é o intento do Brasil, seja no sabor salgado do litoral ou nas cidades perdidas do interior. E em cada lugar em que se tenha uma mulher, um homem e barreiras ao encontro destes haverá histórias a serem contadas. Sérgio Porto, em 1967, já escrevia sobre a revolução feminina na cabeça do homem, no ódio de outras mulheres e no tão sossegado bairro de cada quarteirão. As Cariocas , de Porto - ou S. Ponte Preta -, é o que se pode chamar de livro de todos os dias, onde o cotidiano nada mais é que o cômico sendo dramático. As novelas de Porto foram muito bem apresentadas por Jorge Amado e, recentemente, adaptadas para a televisão.  Uma carioca que é esperta demais para ter um carro exclusivo, outra que é a "santinha" dos bastidores de TV, ainda uma assassinada por querer um pai decente para o filho e uma que sofre por ser desquitida são exemplos das muitas mulheres que percorrem as ruas do Rio e do restante do Brasil, ainda que não estejamos na década de 1960. O l...

Capitães da Areia

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Ainda abandonam crianças, ou em Shoppings ou em lixões. Uma realidade que acompanha a humanidade desde sempre com o objetivo de: a) preservar a imagem de boa moça(o); b) assegurar a honra da família; c) garantir um futuro melhor para a criança. Acredite quem quiser. E quando várias crianças se juntam para formar uma família, um clã regido por leis próprias, é natural que o meio de sobrevivência seja o roubo e as pequenas subvenções próprias de quem está, ou foi jogado, no submundo da marginalidade. Em Capitães da Areia Jorge Amado descreve o diário de meninos e meninas que vivem sob a proteção dos orixás e o repúdio da sociedade. A obra é repleta daquilo que costumeiramente costumamos não ver: a iniciação e prática sexual entre os meninos de rua, as negrinhas derrubadas no areal, a doença que não escolha quem ou lugar para atacar, a fome, a insegurança, os anseios, a falta da mãe. Uma obra que busca no cais o estivador que lutou pela causa comunista e que, por isso, morreu. Va...

A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água

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Uma vida inteira trabalhando no marasmo da Administração Pública, com uma mulher tagarela e uma filha de plástico, não foi capaz de satisfazer os anseios de Quincas. Convenhamos: o trabalho precisa ser ou gratificante ao ponto de tornar cada dia diferente e especial ou dispensável de modo a permitir que o indivíduo falte e viva intensamente; um casamento precisa ser o descanso e não o martírio de todas as noites e manhãs; e quando os filhos são ainda piores que o trabalho e o matrimônio, então não há muito o que salvar. Um dia, cansado do trabalho, da mulher e da filha – da vida -, Quincas entorna a boa cachaça e dá um berro, um berro d’água. Daí vem seu apelido. E a vida que mudou. De respeitável só restou o passado. Em Quincas Berro D’Água o leitor se deparará com o choro das prostitutas, dos bêbados, dos vagabundos; com a dedicação daqueles que nada tem além de si e do dia; com as aparências “inevitáveis” para um cidadão de bem e um morto digno. Jorge Amado coloca em linhas o...

Obra de arte: Dona Flor e seus dois maridos

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Em uma dessas madrugadas aí estava jogando conversa fora quando, de repente, começou no Corujão a adaptação cinematográfica de uma das obras de um dos maiores escritores do Brasil, quiçá do planeta: Dona Flor e seus dois maridos, do baiano Jorge Amado. O filme conta com José Wilker e a eterna queridinha das obras de Amado, Sônia Braga, entre outros grandes intérpretes. No entanto, a maior estrela do filme não são os atores, a trilha sonora perfeita, de Chico Buarque, nem a bela Bahia – é a história! Dona Flor e seus dois maridos , o livro, é a comprovação de que o amor é incandescência, fogo e vulcão que transpõe a moralidade e a pessoalidade do egoísmo. Dona Flor é a personificação da mulher que ama e que se doa, que quebra os preceitos morais que a prende aos dogmas sociais; Vadinho é o cafajeste com o qual a mulher, até mesmo nos dias de hoje, perde-se loucamente nos braços da “desgraça”, do amor, do sexo e da aceitação tácita que torna a vida ora feliz, ora difícil. Teodor...

Os cortiços aracajuanos

É notório que as palavras “econômico”, “qualidade” e “imóvel” não se aglutinam na mesma oração quando se refere a imóveis alugáveis e em bom estado em Aracaju. É, na melhor das hipóteses para o problema de moradia nessa capital, razoável dizer que se pode encontrar cortiços – muito parecidos com o de Aluísio Azevedo, em uma forma sensivelmente mais moderna e mais pobre – em que reina uma certa promiscuidade no que se refere à propriedade e aos habitantes. Retirando qualquer traço de preconceito ou estereótipo que pode haver na descrição desses lugares, não é possível – ou razoavelmente aceitável – que se tenham pessoas, de diferentes hábitos, higiene, particularidades e manias coexistindo no mesmo lugar, dividindo o mesmo banheiro, a mesma área de serviço (se é que se pode dizer que é uma área de serviço). E o principal motivo reside justamente no fato de que essas pessoas não poderiam estar vivendo em um ambiente tão coletivizado como os cortiços que existem na Capital de todos os...

Mensagem

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EXU   PARA JORGE AMADO NÃO SOU PRETO, BRANCO OU VERMELHO TENHO AS CORES E FORMAS QUE QUISER. NÃO SOU DIABO NEM SANTO, SOU EXU! MANDO E DESMANDO, TRAÇO E RISCO FAÇO E DESFAÇO. ESTOU E NÃO VOU TIRO E NÃO DOU. SOU EXU. PASSO E CRUZO TRAÇO, MISTURO E ARRASTO O PÉ SOU REBOLIÇO E ALEGRIA RODO, TIRO E BOTO, JOGO E FAÇO FÉ. SOU NUVEM, VENTO E POEIRA QUANDO QUERO, HOMEM E MULHER SOU DAS PRAIAS, E DA MARÉ. OCUPO TODOS OS CANTOS. SOU MENINO, AVÔ, MALUCO ATÉ POSSO SER JOÃO, MARIA OU JOSÉ SOU O PONTO DO CRUZAMENTO. DURMO ACORDADO E RONCO FALANDO CORRO, GRITO E PULO FAÇO FILHO ASSOBIANDO SOU ARGAMASSA DE SONHO CARNE E AREIA. SOU A GENTE SEM BANDEIRA, O ESPETO, MEU BASTÃO. O ASSENTO? O VENTO!.. SOU DO MUNDO,NEM DO CAMPO NEM DA CIDADE, NÃO TENHO IDADE. RECEBO E RESPONDO PELAS PONTAS, PELOS CHIFRES DA NAÇÃO SOU EXU. SOU AGITO, VIDA, AÇÃO SOU OS CORNOS DA LUA NOVA A BARRIGA DA RUA CHEIA!... QUER MAIS? NÃO DOU, NÃO TOU MAIS AQUI. (Salvador, 17/05/1993. Mario Cravo)

Cachaça

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Cajurosca - SERGIPE Presente em praticamente todas as comemorações nordestinas, e brasileiras –  em escala menor, talvez-, e no dia a dia de viciados, a cachaça, e todas as suas variantes, é o exemplo do domínio do homem sobre o homem por meio de um objeto de satisfação quimérica de bem estar contínuo. Apesar de ser altamente ofensiva ao corpo, à alma e a espiritualidade, ela é a representação da força e da fraqueza de um povo, ou de um grupo de indivíduos, que faz-se presente, senão pelo berro d’água – como foi exemplarmente traduzido por Jorge Amado em A morte e a morte de Quincas Berro D’água -, pela capacidade de desafiar os limites das próprias faculdades mentais e da resistência do corpo nos momentos em que é preciso coragem para viver em condições subumanas ou quando inexistem perspectivas de futuro, geralmente geradas por um amor de cabaré, por um relacionamento fracassado, por uma traição ou um passado impronunciável, dentre muitas outras hipóteses – ou ainda ...

Iemanjá

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Iemanjá, rainha das águas, protagonista de obras baianas, como em Mar Morto, tem seu dia lembrado sob a forma de saudações, pedidos e agradecimentos. A rainha das águas, que separam continentes, pessoas, estados civis, amores e paixões, é simplesmente a figura mais vista por todos, inclusive por quem não acredita nos orixás, pois sempre que se vê o mar, tenha certeza que pode estar contemplando-a. E não precisamos estar no mar para lembrar-nos dela. No sertão ou no agreste, podemos também fazer as reverências a esse orixá. Hoje é seu dia. Já foi ao mar, pedir, agradecer e contemplar as belezas da espiritualidade e da natureza?

Jorge Amado e seu Protetor

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“(...) Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavalheiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por tudo isso sincretizaram-no com o diabo; em verdade ele é apenas o orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão mas, no fundo, excelente pessoa. De certa maneira é o Não onde só existe o Sim; o Contra em meio do a Favor; o intrépido e o invencível. Toda festa de terreiro começa com o padê de Exu, para que ele não venha causar perturbação. Sua roupa é bela: azul, vermelha e branca e todas as segundas-feiras lhe pertencem. Há várias qualidades de Exu: Exu Tiriri, Exu Akessan, Exu Yangui, muitos outros. Exu leva o ogó, sua insígnia, e gosta de sentir o sangue dos bodes e dos galos correndo em seu peji, em sacrifício.” JORGE AMADO

Veja o extraordinário mundo!

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Coruja  O cheque completou seu centenário, regulamentado pelo decreto 2.591, de 07 de agosto de 1912, e agrega certo valor ao que virá essa semana. No próximo dez de agosto será a vez de Jorge Amado fazer seu centenário , junto com toda a sua legião de personagens e histórias. E então, entre sindicalistas da CUT-SE, SINTUFS e ADUFS, comemorações e reivindicações, a Telecom Italia Mobile – TIM - é acusada pela ANATEL de derrubar as chamadas dos clientes para faturar mais e importunar os usuários. Fatos concretos que pertencem ao século, não a um ou outro. Eventos que passarão antes que o próximo mês chegue, trazendo outras formas de diversão midiática. E sob os “ quase sem querer ” aparecerá aquilo que se quis? Para ver é preciso mais que dois olhos bem abertos. É necessário que tenha a vontade querer saber e buscar, entre ratos e pavões, os detalhes que guardam o diabo. Ver não é enxergar, muito embora se possa confundir uma coisa com a outra. Pode enxergar a TIM ...

Mentalmorfose

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Correção: o Nome do autor é Elton, e não Edson No ano em que as previsões eram as mais pessimistas: o mundo que, dizem, vai acabar – e já acabou mesmo para alguns assassinados-, que o planeta vai ser degelado e os alimentos vão ser escassos para a nobre família humana, que a economia vai de mal a pior e que os protestos chegam a destituir ditadores e presidentes, outros são depostos sem mesmo reinvindicações. Em um panorama desses, a arte faz a festa centenária e de inovadoras obras. No 2012 corrente, Eu, de Augusto dos Anjos, o célebre Jorge Amado, o Rei do Baião, Gonzagão,  entre outros personagens e obras, completam cem anos. Com uma obra sempre atualizada e prestigiada por todas as gerações que se seguem. E em um contexto tão dual, tão rico de experiências e eventos, não é de estranhar que outras tantas obras surjam sobre a terra para divertir e abraçar os pensamentos voadores de toda a humanidade, começando a fazer da história e da vida um campo alegre e exp...

Proibir Guimarães, Amado, Lispector, Andrade ...nas escolas?

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O legislativo está cada dia mais decadente! Guimarães Rosa Um exemplo disso é o Projeto de Lei 1983/2011, do Deputado Estadual de Minas Gerais, Bruno Siqueira,  que proíbe qualquer tipo de publicação, didática, paradidática e literárias, que fugam à norma cuta da língua portuguesa ou que contenha alto teor sexual ou que incentive atos de criminosos. Segundo notícia divulgada pelo site http://amp-jus.jusbrasil.com.br   O texto afirma que sua aprovação vai impedir os alunos de terem acesso ao riquíssimo patrimônio literário brasileiro edificado no século 20, já que um traço comum à vasta e heterogênea produção literária nacional dos últimos cem anos é exatamente a subversão à norma culta padrão de nossa língua materna. Restaria proibida em nossas escolas a distribuição de livros da autoria de Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Mário de Andrade, para ficar em apenas três nomes de uma infindável lista de grandes autores que inclusive satirizaram o ensino da norma cul...

Centenários

Dois mil e doze é o ano dos centenários no Brasil! Esse ano comemora-se o centenário de Jorge Amado, Luiz Gonzaga, Herivelto Martins e da publicação do livro EU, de Augusto dos Anjos. Evidentemente que a massa populacional, analfabetos funcionais ou incultos, saberá apenas do que as emissoras de televisão do País noticiará, com muita parcialidade. Mas devemos estar atentos para esses detalhes que enriquecem e privilegia a cultura nacional. Em 13 de dezembro de 1912 nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento, que ornou a vida nordestina com a poesia da música simples, retratando a vida e os anseios do povo pobre do nordeste, além, claro, das maravilhas que só o nordeste possui. Triste Partida Meu Deus, meu Deus Setembro passou Outubro e Novembro Já tamo em Dezembro Meu Deus, que é de nós, Meu Deus, meu Deus Assim fala o pobre Do seco Nordeste Com medo da peste Da fome feroz Ai, ai, ai, ai A treze do mês Ele fez experiênça Perdeu sua crença Nas pedras de sal, Meu Deus, meu Deus Mas no...