Carta a um Ausente III
Oi,
acho que você nem anda lendo as massivas que envio. E espero que esteja bem de verdade e não apenas usando expressões banais para esconder a realidade.
Viva sei que está, amém.
Do lado de cá as notícias são tristes e vergonhosas. Você não acreditaria a que níveis permiti que me rebaixassem. Estou tentando me reerguer. Estou tentando confiar em que tanto me fez mal, hediondamente, e sempre concluo que é quase impossível - sempre descubro novos conluios e isso é muito triste, por muitas razões.
Não sei como anda essa sua adotada terra. Parece que ela engoliu você e aos seus e se recusa a regurgitá-los. Eu, por outro lado, ando sobre várias terras e em nenhuma encontro morada, um lugar de paz. Quem sabe a Covid-19, um dia, traga toda a paz que eu mereço.
Acabei de limpar a casa e uma preguiça me bateu. Aqui não é lugar para você, sempre achei que certos lugares, dadas condições, não devem ser vistas por você. Por isso mesmo não a convido. Quem sabe eu visite você e a sua terra, nosso agosto.
Mandarei mais notícias de cá e espero receber mais do seu lado.
Sempre,
R.
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