Por entre paredes e telhados
É noite e estou sentado à porta.
Não há alimentos em casa. Também não há móveis.
Há apenas eu, minhas próprias promessas, minhas frágeis resoluções, meu mundo em tempos de pandemia.
Vejo, entre paredes sem reboco e tetos irregulares, nuvens que se aglomeram e que depois desistem. Ah, nuvens, quantas desistências eu deveria ter cometido e, por razões que hoje ignoro, não cometi.
Nos recantos da escada estão mentiras se amontoando com a poeira que vem da rua. Nas paredes desta casa há manchas que não sairão facilmente e que foram tão perversamente postas. Em mim, vendo tudo isso, não consigo aceitar o esquecimento de tantos eventos infelizes apenas para deixar meu algoz feliz, sem a vergonha e sem o peso dos seus próprios pecados.
É noite.
E eu ainda vagueio sem rumo.
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