Crônica de uma vida insuficiente XXVI


Quando eu fui embora o tempo fechou. Ventos e gotas inclinadas de chuva molhavam a roupa estendida no varal. O vizinho, pela primeira vez desde que o conhecia, assistia a um show de Maria Bethânia e Gita foi a trilha sonora das minhas malas.
Para trás ficaram sonhos e planos abortados.
Para trás ficaram olhos e alma em corpo felino, cujo amor eu sei ser sincero.
Para trás ficou uma carapaça amada.
O trânsito, a chuva, o peso das malas e a sensação de liberdade pavimentaram a estrada que o ônibus percorreu.
Eu fui embora sob aplausos de quem o desamor transformou em desprezível. E agora resta seguir em frente, falido e do zero.
Quando eu fui embora eu já tinha ido há dias.

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