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Rascunho de uma missiva

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Obra: Road in Etten. Vincent van Gogh. The Met. Uma foto que você nem sabe que ainda tenho está sempre ao alcance dos meus olhos e protegida da curiosidade alheia.  Seus escritos, tão cheios de amor e carinho, resistiram aos anos e às mudanças. E estão perto, sempre perto, como o único tesouro que vale a pena todo e qualquer sacrifício.  Agora, enquanto a sensação térmica de 36°C me revira de um lado para o outro e a minha falta do que fazer me leva a inventar diversas formas de ser um Eu mais centrado, eu tenho você diante dos meus olhos, entre poesias, músicas, lembranças e momentos.  No entanto, nem tudo é bom. Há velhas culpas que só você pode varrer para a rua; há poeira sobre mim e que só você pode limpar.  O problema  é justamente esse: onde anda você.  O Estado dos Marechais, com todas as suas desgraças, te abriga. E parece tão longe, apesar de ser tão perto.  Nada mais importa e o meu tempo aqui finalmente está acabando. 

Carta a um Ausente III

Oi,  acho que você nem anda lendo as massivas que envio. E espero que esteja bem de verdade e  não apenas usando expressões banais para esconder a realidade. Viva sei que está, amém. Do lado de cá as notícias são tristes e vergonhosas. Você não acreditaria a que níveis permiti que me rebaixassem. Estou tentando me reerguer. Estou tentando confiar em que tanto me fez mal, hediondamente, e sempre concluo que é quase impossível - sempre descubro novos conluios e isso é muito triste, por muitas razões. Não sei como anda essa sua adotada terra. Parece que ela engoliu você e aos seus e se recusa a regurgitá-los. Eu, por outro lado, ando sobre várias terras e em nenhuma encontro morada, um lugar de paz. Quem sabe a Covid-19, um dia, traga toda a paz que  eu mereço. Acabei de limpar a casa e uma preguiça me bateu. Aqui não é lugar para você, sempre achei que certos lugares, dadas condições, não devem ser vistas por você. Por isso mesmo não a convido.  Quem sabe eu visite voc...