O tom da semana


A luz entrou no quarto rasgando seu humor, como uma faca em uma bolsa plástica pressionada por pacotes de grãos e cereais. O leiteiro, primo-irmão da luz da manhã, já passava gritando, avisando aos clientes urbanos que a hora do leitinho chegou.
Uma brisa fria entrou pela janela, levando os gritos do leiteiro, findando uma noite tranquila. Repentinamente, uma porta bateu e um arrastar de móveis revelou passos firmes e rápidos.
Um baque surdo.
Uma bolsa plástica sendo amassada.
Silêncio.
A porta do quarto abriu com uma força brava e uma mão descobriu o corpo sonolento. Ela tinha raiva do dia que começava, uma ansiedade incontida que trespassava-lhe a própria existência.
Acordou, o amante. Olhou-a com incompreensão e desnorteamento. E um sorriso quase imperceptível pintou nos lábios quentes de uma noite bem dormida.
Em pé, ela o olhava com amor e compreensão.
Ele a olhava com solução, malícia, planos.
Sentou-se na cama, agarrou-lhe o quadril e fê-la sentar-se no chão, entre suas pernas. Beijou-lhe delicadamente seus lábios, segurando-lhe o rosto, com carinho - e força. Rendida, desfazendo-se da raiva e da ansiedade, ela deixava-se tomar conta pela língua dele, sentindo-se presa por aquelas mãos incompreensívelmente amadas.
Ele, o amante, excitado com sua presença, inconformado com a revolução matutina, botou-lhe no colo, estapeando sua raba, abrindo-lhe as reentrâncias, dedando-lhe.
Batendo em suas nádegas.
Abrindo-lhe suas carnes.
Possuindo-a com os dedos.
Entregue àquele homem, submissa, ela sentia. Apenas sentia o dia mudando de tom.

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