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O tom da semana

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A luz entrou no quarto rasgando seu humor, como uma faca em uma bolsa plástica pressionada por pacotes de grãos e cereais. O leiteiro, primo-irmão da luz da manhã, já passava gritando, avisando aos clientes urbanos que a hora do leitinho chegou. Uma brisa fria entrou pela janela, levando os gritos do leiteiro, findando uma noite tranquila. Repentinamente, uma porta bateu e um arrastar de móveis revelou passos firmes e rápidos. Um baque surdo. Uma bolsa plástica sendo amassada. Silêncio. A porta do quarto abriu com uma força brava e uma mão descobriu o corpo sonolento. Ela tinha raiva do dia que começava, uma ansiedade incontida que trespassava-lhe a própria existência. Acordou, o amante. Olhou-a com incompreensão e desnorteamento. E um sorriso quase imperceptível pintou nos lábios quentes de uma noite bem dormida. Em pé, ela o olhava com amor e compreensão. Ele a olhava com solução, malícia, planos. Sentou-se na cama, agarrou-lhe o quadril e fê-la sentar-se no c...

O prazer de Finados

Escorrendo por entre os poros, o dia passa devagar e quente. Na TV alguém falava sobre a vida após a morte como se a morte fosse um estado semipermanente em que alguém precisa ficar por um bom tempo. _ "Lá é lindo, não há dor e todos são iguais até o juízo. .." - a voz parecia que tinha ido e voltado do mundo dos mortos como naquele filme da Pixar. Uma porta bateu e uma criança chorou ao longe. Um cachorro latiu. E, de repente, um leve estalido e o silêncio entrou, sem pedir licença. Apenas ecos e choros de crianças roçavam as paredes. Roçando-lhe a libido, uma mão subia por sua perna, apertava-lhe sua cocha e permanecia imóvel, esperando a reação, a repulsa, o ódio. Deitada, ela abriu-se mais, afastando as pernas. Empinando-se. O calor, do clima, do corpo, do quarto, sendo opressor e oprimido pelo desejo. A mão levantou-se, apalpou e caiu, desferindo-lhe um tapa inesperado.  Gemidos. Os dedos subiram, tocaram seu sexo, provocando sua umidade lasciva. A res...

À uma velha companheira

Venha! Sente aqui ao meu lado, de você não tenho medo. Seu cheiro não me enoja tampouco perfuma-me. Olha como sua obra está bela! Veja a realidade do deus-verme entre o ventre da sua escultura surreal. Por que não fala dela? Por que não a exponhe? Há problemas nessa arte um tanto incomum? Não. Você não aparece ao público apenas por vaidade, acha que seria humilhante ver face-a-face a realidade nua do cotidiano de seus fantoches. Pensa que não sabemos como é trabalhoso levar tantas abstrações para o além azul? Sabemos que pode ser difícil e logo agora quando tantos seres  resolvem partir para o longíquo  abismo do recomeço sem perguntar-te se é possível voce resolve chorar! Mesmo assim deveria sorrir quando chamo-te para festejar a ingratidão da vida, ao desconcerto de tantos erros e acertos de gente ignorante. Nós humanos conseguimos sorrir da desgraça, você não? Venha festejar! Acompanha-me nas músicas que gosto, nos doces que aprecio nas melhores horas do descanso...

A vida e a Sereia

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Foto: imagem da internet A vida é um rio de verdades e mentiras tão bem contadas que juntas formam um conjunto uno do qual atribuímos nossas conquistas e ressentimentos. É um rio de afluentes podres e desprezíveis habitado por todo elemento dúbil de um universo ora detestável ora dócil, mas que nos levam a um oceano de incertezas cuja única qualidade é a sua própria existência. Águas que me levaram durante uma vida a todos os caminhos decadentes possíveis, mas que sempre me fizeram sentir vivo. Naveguei por estradas de barro e lama em muitos carnavais procurando uma razão de viver e de exprimir em sua totalidade o meu ódio e o meu prazer de ter prazer em estar vivo, os vícios e as minhas desilusões preconceituando devaneios de uma juventude precoce e o ônus de uma velhice anunciada pelo tempo. Calejei esse espírito com amores odiáveis de tanto amáveis, que, entre orgasmos de realidade arremetiam-me em um crepúsculo de irreverência de uns tantos sexos desprazeirosos que acom...