O prazer de Finados



Escorrendo por entre os poros, o dia passa devagar e quente. Na TV alguém falava sobre a vida após a morte como se a morte fosse um estado semipermanente em que alguém precisa ficar por um bom tempo.

_"Lá é lindo, não há dor e todos são iguais até o juízo..." - a voz parecia que tinha ido e voltado do mundo dos mortos como naquele filme da Pixar.

Uma porta bateu e uma criança chorou ao longe. Um cachorro latiu. E, de repente, um leve estalido e o silêncio entrou, sem pedir licença. Apenas ecos e choros de crianças roçavam as paredes. Roçando-lhe a libido, uma mão subia por sua perna, apertava-lhe sua cocha e permanecia imóvel, esperando a reação, a repulsa, o ódio.
Deitada, ela abriu-se mais, afastando as pernas. Empinando-se. O calor, do clima, do corpo, do quarto, sendo opressor e oprimido pelo desejo. A mão levantou-se, apalpou e caiu, desferindo-lhe um tapa inesperado. 
Gemidos.
Os dedos subiram, tocaram seu sexo, provocando sua umidade lasciva. A respiração ficando pesada como a mão que a abria, provava e tocava sua alma, seu corpo, sua fenda.
Deitada, absorta em seu desejo mais animal, não ouviu a voz que pedia clemência pelos pecados do mundo porque a mão, cujos dedos a possuíam, era inclemente com seu corpo. 
Possuída, e deixando-se possuir pela sodomia, pelo puro prazer, sentia apenas seus lábios serem apertados, seu clitóris sendo domesticado por uma mão impiedosa com o seu prazer.
O calor ia escorrendo por suas pernas, molhando a cama, encharcando aquela mão moldada para a sua carne. Aquele calor que ia liquefazendo seus gemidos, transformando sua alma em pura luxúria.

_"...arrependa-se, meu irmão, minha irmã, você que está sofrendo nas mãos de satanás!, que não aguenta mais..." - e um gemido, longo, delicioso, provocante, rasgou o som da TV.

Entregando-se àquela mão, abrindo-se ao seu gozo, rasgava a tarde de finados em tiras de um prazer inenarrável.

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