O tom da semana

A luz entrou no quarto rasgando seu humor, como uma faca em uma bolsa plástica pressionada por pacotes de grãos e cereais. O leiteiro, primo-irmão da luz da manhã, já passava gritando, avisando aos clientes urbanos que a hora do leitinho chegou. Uma brisa fria entrou pela janela, levando os gritos do leiteiro, findando uma noite tranquila. Repentinamente, uma porta bateu e um arrastar de móveis revelou passos firmes e rápidos. Um baque surdo. Uma bolsa plástica sendo amassada. Silêncio. A porta do quarto abriu com uma força brava e uma mão descobriu o corpo sonolento. Ela tinha raiva do dia que começava, uma ansiedade incontida que trespassava-lhe a própria existência. Acordou, o amante. Olhou-a com incompreensão e desnorteamento. E um sorriso quase imperceptível pintou nos lábios quentes de uma noite bem dormida. Em pé, ela o olhava com amor e compreensão. Ele a olhava com solução, malícia, planos. Sentou-se na cama, agarrou-lhe o quadril e fê-la sentar-se no c...