O lado B do perdão
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Mrs Hugh Hammersley. John Singer Sargent. Met. |
A questão do perdão não é o que se obtém ao concedê-lo ou o que não se pode ter se não o seguir de acordo com os princípios pregados nos templos religiosos.
A questão séria do perdão é que ele relembra, a cada instante, a cada ação da pessoa "merecedora", que algo foi perdido, quebrado ou deturpado.
Não tem a ver com uma elevação espiritual capaz de afagar os atormentados. É mais uma atenção recorrente à iniquidade que deu origem a esse ato de perdão. É por isso que ele nunca é concedido de forma plena, pois, se por um lado ele libera o indivíduo da ira do ofendido, por outro lembra ao ofendido que ele é passivo diante da ação que gerou a situação e sempre estará presente - não há esquecimento no perdão como não há ofensa sem a devida vingança.
Com a moda de ser cristão, ou um falso cristão, o perdão entrou na moda e se banalizou. A vingança entrou em desuso e somente os bárbaros são capazes de cometer ato tão vil.
Isso até a página dois, quando a religiosidade fica restrita às agruras do cotidiano e o calo aperta dentro do circulo de amigos ou da família. Então fecha-se a bíblia, pede-se que Cristo se retire e a ira toma conta.
O perdão só é bom nos outros.
A vingança só é má nos outros.
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