Ninguém escreve ao coronel

A solidão nem sempre acontece quando se está só, fisicamente. Pode acontecer em companhia, por longos e tormentosos anos, pode estar de mãos dadas com a fome ou a guerra, sob a chuva e em meio à lama ou sob o sol e o mormaço delirante.
Ninguém escreve ao Coronel, do Nobel de literatura Gabriel García Márquez, é uma novela digna dos elogios que recebe. Um retrato do homem que lutou por seu país e acabou esquecido entre a burocracia e o “deixa para amanhã” do Governo, que militou por ideais políticos e acabou à margem da própria sociedade, um pai que ficou órfão de si e do filho. O Coronel é um homem que nada conseguiu da vida, a não ser a fome, uma carta durante quinze anos – que nunca chegou -, e uma esposa que nunca o abandonou apesar das adversidades.
Esse foi o segundo livro de García Márquez e demorou três anos para ser publicado, recusado por editores, e que valeu a pena a luta do autor para levar ao mundo tão intensa obra. O realismo de Gabriel torna o livro uma expressão da solidão a dois, da fome e da adversidade como companheira e de um galo que promete o futuro sem falar em linguagem alguma.
Com um enredo simples, porém irônico, instigante e intenso, Ninguém escreve ao Coronel adianta em alguns anos um dos personagens presentes em Cem anos de Solidão. O leitor, que conhece esta última obra, se deparará com Macondo, a rendição do Coronel Aureliano Buendía e o tratado de Neerlândia.
Ler Gabriel García Márquez é conversar com todas as obras do autor e com o próprio através da solidão dos seus personagens, das agruras do povo, em um Caribe latente nas entrelinhas.


“Paris, Janeiro de 1957”.



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