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Mostrando postagens com o rótulo Gabriel García Márquez

El Rey de la Habana

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Cru, agressivo, real. El Rey de la Habana não é para espíritos sensíveis que se alheiam à realidade e que buscam na agressividade injustificável do preconceito os motivos para não viver. Muito mais ousado que as produções brasileiras Cidade de Deus, Ó Paí Ó, Cidade Baixa e Bonitinha, mas ordinária, El Rey de la Habana escancara o abandono da América Latina, tantas vezes denunciado pelo nobel Gabriel García Márquez.  Não se pode dizer que seja uma produção pornográfica porque sequer chega perto dessa definição. É, antes de tudo, um retrato da periferia latino-americana que não pode fazer nada além de sobreviver à margem daquilo que o capitalismo e as crenças religiosas ditam como aceitável. É animalesco no sentido mais humano da acepção; é intenso; é triste. Com exemplos cabais de que o sexo não sustenta nem relações sociais nem amorosas, demonstra, de forma direta e sem medo, que a vida, sob a maquiagem habitual da civilidade, é somente parte de um medo muito maior que o de...

As mães sem moldura

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Hoje de manhã, na Globo, o Padre Marcelo Rossi e outro, que não sei o nome, estavam realizando o missa de todos os domingos. Diziam, em homenagem ao Dia das Mães. Não tinha nada de diferente das missas dos domingos anteriores e, certamente, será igual aos que virão - o que no meu caso não é de estranhar porque minha sensibilidade não é muito apurada no tocante ao ritual das missas. Ao longo do dia, as redes sociais foram transformadas em álbum de fotografias e mensagens, algumas um tanto falsas, preciso lembrar. O que ninguém lembrou, vivendo a mesquinhez da própria vida (que se fôssemos levar os princípios cristãos a sério estaríamos em grave delito), foi das outras mães. No México, na atual ditadura do Presidente Enrique Peña Nieto, mais de vinte e oito mil estão desaparecidos no que se pode chamar de "ditadura democrática de Nieto". As mães desses desaparecidos jamais são mencionadas. Ainda no México, Peña Nieto é responsável pelo desaparecimento, e morte, de 4...

Relato de um náufrago

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Um Destróier sai dos EUA com destino à Colômbia, carregado de mercadorias contrabandeadas e de marinheiros saudosos da nação de origem. O mar do caribe faz surgir os sabores e as vozes dos amigos e amados. Até que um acidente faz com que parte das mercadorias e alguns marinheiros caiam no mar. O peso do Destróier impede a manobra de resgate e apenas um consegue sobreviver, por dias, em bote. A vida no mar caribenho, sem água, sem comida, com as desesperanças lutando com a vontade de viver faz do náufrago Luís Alexandre Velasco um ícone da luta pela vida. Assombrações, fome, cedo, medo de tubarões e as esperanças de chegar ao continente permeiam as páginas de Relato de um náufrago . Gabriel García Márquez foi o jornalista que transcreveu a história verdade do naufrágio, muito depois que o governo colombiano ter deturpado os fatos e Velasco ter estrelado propagandas de relógio e sapato. Rendeu a ele o exílio e apesar do papel jornalístico, não o agradou, até o fim de sua vida, o...

A saga ENEM: Revival

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Então eu estava lá, escrevendo na barriga da besta quando... um o Aplicador da prova, que não sabia nem o que estava fazendo, começa sua saga particular para matar a fome de 10 meses de jejum. O Aplicador rasgou o saquinho de amendoim chinês derramando-o todo no chão ( aí vão meia hora para juntar todas as bolinhas salgadas), depois começou a comer o kit de barras de cereal e mais uvas e bolos, levadas de barulhentas bolsas plásticas brancas. Ele deve ter pensado "como faço para fazer o máximo de barulho para aqueles fodidos? Ah, sim, vou levar uvas e bolo dentro de bolsas brancas e lá eu vou tirando uma por uma das uvas e depois pedaço por pedaço, até não restar mais nada e o barulho ter sido épico". E assim ele fez. E mesmo que mais irritante tenha sido isso que as conversas imbecis e paralelas qye teve com a Chefe de Sala (a mesma de ontem, diga-se), foi a fome canina seguida da sinfonia de plásticos que mais quase me fez matá-lo de vergonha.  Mas ou um anjo e só resol...

Parecença escriturária

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Comendo uma fatia do bolo de aniversário de um desconhecido, às 3h47, sob a luz fraca da minha cozinha, eu pensava sobre a dificuldade de expressar, seja em poucas linhas ou difíceis palavras, nosso sentimento ou singelo estado de ânimo para alguém que seja íntima ou que precise de palavras amáveis e afáveis. Em minha última leitura, O gato sou eu , do Fernando Sabino, ele expressava, em um de seus textos, a dificuldade de escrever uma nota de pesar; e ainda justifica revelando que o Gabriel García Márquez sofria de igual problema. Não sei se é apenas uma característica de célebres escritores ou um item intrínseco aos que são capazes de escrever sobre tudo e todos, revelando amor e ódio em linhas de aparências íntimas. E qualquer um é capaz disto, como uma vez enfatizou Neruda. O fato é que em congratulações para aniversário, quando não sei se felicito ou lamento a velhice alheia, ou em velório, quando nada há a dizer, ou ainda em outros momentos quando parece que um sorriso nã...

A Comissão Chapeleira

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Em 1982, na Suécia, Gabriel García Márquez expôs a solidão das Américas Central e do Sul por meio de seu discurso na cerimônia de premiação do Nobel de Literatura. Tranformou em palavras e números séculos de exploração e um finitude de governos ditatoriais que fez sangrar o mar do caribe, as grandes altitudes chilenas e o clima muito mais ao sul do equador.  Mais de trinta anos se passaram e o fantasma da dor, da tortura e da luta por uma vida livre das opressões e das violências cometidas por ditadores ainda ronda as Américas, impedindo a discussão sobre vários aspectos de uma época sombria da história americana. Mais de trinta anos depois surge A Comissão Chapeleira .  O livro 2 de A Arma Escarlate explora com delicadeza a luta contra um regime ditatorial, o estupro, o massacre de crianças e adultos e a fragilidade dos Governos diante da loucura de uns poucos. Renata Ventura expõe de maneira clara, objetiva e sensível a tortura, física e emocional, sofrida pe...

Miraflores isolado

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Bandeira da Venezuela Em seu discurso, na Real Academia Sueca, por ocasião da premiação do Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez salientou a solidão da América Latina e do Caribe e os séculos de exploração. Mais de trinta anos depois, a América Latina e o Caribe continuam sendo preteridos, relegados a último lugar da lista de preocupações internacionais de grandes nações, sejam europeias sejam americanas. E o melhor exemplo é a Venezuela, que luta contra uma suposta "guerra econômica", fezendo vítimas pelas gerações futuras, se considerarmos os efeitos da propagação do HIV e da gravidez adolescente. Do Palácio de Miraflores o Presidente Maduro tem desencadeado uma série de arbitrariedades que já deixou até a Alemanha em regime de atenção. Executivos foram, e ainda o são, presos e julgados; redes de distribuição de alimentos são expropriadas e o povo sofre com a escassez de produtos básicos. A tal "guerra econômica" justifica as arbitrariedades, tor...

O amor nos tempos do cólera

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O amor é cantado, proseado e versado nas mais diferentes línguas, expressando as mesmas emoções e aflições, sem nunca deixar de ser piegas e eterno. Eterno? Quantas pessoas conservam o amor apesar das mais esdrúxulas situações? Com quantos amores as vidas são feitas? Com quantas brigas e desentendimentos o amor acaba? O amor, em tempos de mundos virtuais, às vezes dura nada mais que uma centena de likes e uma dezena de álbuns perfeitamente elaborados para impressionar os outros, quase nunca a si e à pessoa amada. Muitas pessoas precisam que o “amor” seja reconhecido. Esse sentimento, no entanto, pode surgir nas urgências juvenis, suportar as distâncias, quebrar as barreiras sociais e físicas, ferir o tempo e chegar ao seu apogeu, ainda que em corpos velhos e encarquilhados pelas experiências, mais de cinquenta anos depois de sua origem. O Amor nos tempos do Cólera , de Gabriel García Márquez, é um relato de um sentimento amoroso que sobreviveu às intempéries, calou-se na publ...

Ninguém escreve ao coronel

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A solidão nem sempre acontece quando se está só, fisicamente. Pode acontecer em companhia, por longos e tormentosos anos, pode estar de mãos dadas com a fome ou a guerra, sob a chuva e em meio à lama ou sob o sol e o mormaço delirante. Ninguém escreve ao Coronel , do Nobel de literatura Gabriel García Márquez, é uma novela digna dos elogios que recebe. Um retrato do homem que lutou por seu país e acabou esquecido entre a burocracia e o “deixa para amanhã” do Governo, que militou por ideais políticos e acabou à margem da própria sociedade, um pai que ficou órfão de si e do filho. O Coronel é um homem que nada conseguiu da vida, a não ser a fome, uma carta durante quinze anos – que nunca chegou -, e uma esposa que nunca o abandonou apesar das adversidades. Esse foi o segundo livro de García Márquez e demorou três anos para ser publicado, recusado por editores, e que valeu a pena a luta do autor para levar ao mundo tão intensa obra. O realismo de Gabriel torna o livro uma expressão ...

Nossa solidão, de estirpe

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Foto: From my window at an American Place, Southwest. Alfred Stieglitz "Era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra." Cem anos de solidão Gabriel García Márquez Fico pensando nas imensas possibilidades que alguém teria em passar a marca dos cem anos e chego a conclusão de que é uma completa perda de tempo viver tanto se o corpo caminha para o pó desde o momento em que se nasce. A solidão, por outro lado, não tem nada de triste - se é que alguém a considere mesmo assim. É um estado tão íntimo, pessoal, incondicionalmente humano que seria capaz de alguém voltar do túmulo para readquiri-la? Quem sabe... O que é possível ter certeza é que se pode viver entre multidões e estar completamente só. Amar alguém e viver em um eterno vórtice de pequenas solidões do dia a dia - quem disse que o amor resolve tudo? A solidão das estirpes, formadas mais pela pr...

Eu não vim fazer um discurso

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Fazer um discurso não é algo fácil. Nem uma tarefa que todos sabem, naturalmente, realizar sem tremores e com o poder de cativar o público. Um discurso é um texto com vida própria e pode cativar, fazer amar, construir países ou destruir nações – tudo depende do objetivo de quem está à frente da plateia. Gabriel García Márquez , escritor de sucesso, Nobel de literatura, não gostava de discursar. E não gostando cativou plateias, da Colômbia à Suécia, compostas de jovens ou ministros e presidentes. Em seus discursos, García Márquez retratou a América Latina e o Caribe, evidenciou problemas e soluções, imortalizou amigos e dificuldades, provou – mesmo  não sendo necessário – que o medo de discursar não impede a genialidade do discurso. Eu não vim fazer um discurso reúne os discursos do Nobel ao longo de sua vida e que se mostram atualizadíssimos à realidade da América Latina e Caribe, sempre com o tom de valorização regional através da autocrítica latina e caribenha. Uma obra...

O amor de conveniência

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Portrait of faase, the Taupo, or Official Virgin, of Fagaloa Bay, and Her Duenna, Samoa. John La Farge (American, New York 1835 - 1910 Providence, Rhode Island) El amor se hace mas grande y noble em la calamidad , imortalizou o nobel Gabriel García Márquez uma vez. E talvez seja verdade. E talvez seja essa única a forma de verificar se é realmente amor ou um passatempo que serve apenas para distrair da monotonia dos dias. Não raro encontro casais, em ônibus, nas ruas ou em salas de aula, que dão a impressão de que só estão juntos por uma conveniência. Para que ninguém os incomode. Nesses momentos penso: bem que poderia haver nas lojas de conveniência de postos de combustíveis o produto “romance temporário” – sem querer menosprezar os romances temporários. É compreensível o medo das pessoas de estarem sós, de não suportarem o peso das verdades irrefutáveis que permeia a mente dessas pessoas, porém isso não justifica serem tão banais, tão sem graça e inexpressivas. O mund...

Cem anos de Solidão

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A solidão é o pilar das ações, da vida comum e das extraordinárias façanhas que o homem já fez, e continua realizando. Solidão que constrói histórias, casos, amores, dissabores, hierarquiza o tempo e os acontecimentos e nos governa com mãos de ferro, braço nostálgico e muita força de vontade de criar raízes em lugares, mentes e corações. O sentimento de solidão é cortante e opressor nos Aurelianos e Josés Arcádios durante os Cem Anos de Solidão . Gabriel García Márquez registrou em papel e tinta como o homem parte para uma jornada sem retorno, ainda que volte ao ponto inicial, em que o amor, o desejo, a loucura e a determinação que move os indivíduos a resistirem, ou não, ao tempo e às aspirações são elementos oriundos da casualidade que serve à solidão. Uma obra que marca a solidão do próprio autor é também o marco na vida dos leitores quando suas emoções passam dos olhos ao papel e reflete o isolamento íntimo e fatal que o persegue. Talvez Macondo exista em todos os lugares e...