Nossa solidão, de estirpe


From My Window at An American Place, Southwest
Foto: From my window at an American Place, Southwest. Alfred Stieglitz


"Era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra."
Cem anos de solidão
Gabriel García Márquez


Fico pensando nas imensas possibilidades que alguém teria em passar a marca dos cem anos e chego a conclusão de que é uma completa perda de tempo viver tanto se o corpo caminha para o pó desde o momento em que se nasce.
A solidão, por outro lado, não tem nada de triste - se é que alguém a considere mesmo assim. É um estado tão íntimo, pessoal, incondicionalmente humano que seria capaz de alguém voltar do túmulo para readquiri-la? Quem sabe...
O que é possível ter certeza é que se pode viver entre multidões e estar completamente só. Amar alguém e viver em um eterno vórtice de pequenas solidões do dia a dia - quem disse que o amor resolve tudo?
A solidão das estirpes, formadas mais pela pré-disposição de desenvolvê-la e canalizá-la, talvez seja algo que não saibamos direito o que é quando estamos mergulhados na transmissão de dados das redes sociais ou quando estamos isolados em ilhas de trabalho; talvez alguns jamais saibam o que é estar completamente só, em uma solidão palpável. E, mesmo quando procuramos fugir de nós e de alguns itens indesejados de nossa lista íntima, a solução para achar o caminho das pedras, nem sempre tão preciosas, está justamente em aceitar aquilo que é intrínseco de nós, humanos, a solidão.
Pensando sobre isso e sobre como ficamos atados ao que é moda etária concluo que somos mais sós do que imagiamos - só não nos demos conta, ainda.

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