Vida metropolitana

Aracaju-SE

A vida em uma região metropolitana é completamente desafiadora quando se tem a consciência de quê irá morrer, mas que esse é um evento que poderá muito. E é desafiador pela simples razão de que se tem uma gama extremamente diversificada de programas culturais à disposição, todos os dias, frente às opções de um futuro, cujo término já é conhecido, e que fazem com que a vida seja traduzida em simplórios números e linhas quentes de asfalto.

Falta à sede metropolitana a tranquilidade de um bucolismo bem vivido, mesmo que a qualidade de vida seja alta; falta a desimportância do urgente; faltam as paixões de festas sem luxo; faltam lendas campestres mescladas com as urbanas; falta a dificuldade de manter a elegância, mesmo quando não se pode ser charmoso; falta o espírito do movimento espontâneo de pesos, pessoas e situações.

Por outro lado, possui os recursos da agitação e da demasiada aglomeração de gente. Não seria exagero mencionar que os amores de uma metrópole são portadores de um quê falso, pré-fabricado, incapaz de durar o suficiente para ter uma boa história de domingo para contar. As distâncias são grandes, o trânsito é horrível e o trabalho possui exigências insanas e as opções de programas desfoca o sentido original de casal. Não que no campo (ou no interior) as situações e os fatos sejam mais brandos, mas lá o dito amor não é uma doença excessivamente ciumenta. E é relativamente mais tangível – pelo menos a paixão, coisa efêmera, pode até ser sentida.

Pôr-do-sol no Parque da Sementeira. Aracaju - SE

A vida, entre prédios, números de apartamentos e de ônibus, poeira e gente, nessas regiões é produzida em fábrica no exterior, com modelagens inadaptáveis ao cotidiano e não possui gosto, apenas alimenta o tempo que engole tudo o que é vivo para o sem fim do relógio. A cronologia da velhice é um desafio perdido, o quadro vívido do espelho ainda pode ser mudado se os programas metropolitanos tornarem-se auxiliares na calçada rumo ao fim do ar pulmonar.

Zélia Duncan - Tudo Sobre Você