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Ultimátum

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View of South Street, from Maiden Lane, New York City. MET.   Aos poucos, sem alarde, sem mensagens dramáticas, sem olhos chorosos, em um estado de vívida depressão, vou me envenenando aos poucos, sendo imprudente aos poucos, sendo autodegradante ao extremo.  Morro aos poucos, de faltas imensas que foram transferidas, geração após geração, até chegar a mim, sempre com um requinte a mais. Falta o teto, o alimento, o lugar para a memória feliz e para a fotografia, faltam os sentimentos, falta a dignidade.  Morro aos poucos pelos excessos que a falta faz.  E, sendo um moribundo à beira da estrada da vida, marginal das próprias construções sociais, não é estranho querer deixar essa vida de serventia ao alheio. Não é.  Loucura indescritível é fazer diariamente o que outrem deseja e esperar conquistar-lhe sorrisos e palavras cálidas. De mim só quer a minha força para construir seus castelos e manter o cheiro de mofo das edificações erigidas em um passado sangrento. Po...

Vida metropolitana

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Aracaju-SE A vida em uma região metropolitana é completamente desafiadora quando se tem a consciência de quê irá morrer, mas que esse é um evento que poderá muito. E é desafiador pela simples razão de que se tem uma gama extremamente diversificada de programas culturais à disposição, todos os dias, frente às opções de um futuro, cujo término já é conhecido, e que fazem com que a vida seja traduzida em simplórios números e linhas quentes de asfalto. Falta à sede metropolitana a tranquilidade de um bucolismo bem vivido, mesmo que a qualidade de vida seja alta; falta a desimportância do urgente; faltam as paixões de festas sem luxo; faltam lendas campestres mescladas com as urbanas; falta a dificuldade de manter a elegância, mesmo quando não se pode ser charmoso; falta o espírito do movimento espontâneo de pesos, pessoas e situações. Por outro lado, possui os recursos da agitação e da demasiada aglomeração de gente. Não seria exagero mencionar que os amores de uma metrópole ...

Um desfile de atenção

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Sentado em um bar, em um dos lados de uma encruzilhada, estava a perguntar-me como, em nome da minha imaginação, um ônibus foi parar estacionado em um lugar muito esquisito e improvável quando, no encobrir do sol por uma nuvem cinzenta, começou um desfile quase de horrores, com modelos com expressões faciais que só podiam ser traduzidas como o de alguém que queria-atenção-de-qualquer-maneira. Aliás, há quem procure na atenção alheia aquilo que o seu amor próprio é incapaz de suprir. Nesses casos, quando se busca no outro o narciso que falta em si, é preciso muito mais que um relacionamento tendenciosamente fracassado.  É urgente que a criatura, não tendo mais como sustentar-se frente às dificuldades estéticas do mundo, tornar-se linda e inteligente, pois, assim, de um modo ou outro, terá o ego massageado, ou cultivado, por bajuladores ou por pretendentes cujo único objetivo acaba sobre um móvel de quatro pernas e uma superfície macia. Se, além disso, a criatura for despre...