Um desfile de atenção
Sentado em um bar, em um dos lados de uma encruzilhada, estava a perguntar-me como, em nome da minha imaginação, um ônibus foi parar estacionado em um lugar muito esquisito e improvável quando, no encobrir do sol por uma nuvem cinzenta, começou um desfile quase de horrores, com modelos com expressões faciais que só podiam ser traduzidas como o de alguém que queria-atenção-de-qualquer-maneira.
Aliás, há quem procure na atenção
alheia aquilo que o seu amor próprio é incapaz de suprir. Nesses casos, quando se
busca no outro o narciso que falta em si, é preciso muito mais que um
relacionamento tendenciosamente fracassado. É urgente que a criatura, não tendo mais como
sustentar-se frente às dificuldades estéticas do mundo, tornar-se linda e
inteligente, pois, assim, de um modo ou outro, terá o ego massageado, ou cultivado,
por bajuladores ou por pretendentes cujo único objetivo acaba sobre um móvel de
quatro pernas e uma superfície macia.
Se, além disso, a criatura for
desprevenida de beleza, ainda que minimamente, faz-se necessário que seja, ao menos,
simpática para que se a atenção alheia não for linda (ou regularmente bonita)
seja interessante ao ponto de ser charmosa e interesseira ao nível de querê-la.
De uma maneira ou outra, é
preciso que se tenha um pouquinho de dignidade nesse convívio comunitário e que
a mediocridade de uns tantos espécimes sejam maximizados apenas como maneiras
de obtenção de atenção, que também é dita comumente de amor para não parecer tão deprimente a situação.
Entre um corredor e outro, entre
uma porta de entrada e a saída de uma monotonia sempre existem aqueles
indivíduos carentes da atenção alheia.
Cantadas na resolvem o dilema.
Abraços não solucionam a solidão.
Atenção não resolve a falta de
amor próprio.
Ah se o mundo fosso como é, mas
com pessoas autossuficientes de atenção – principalmente as desprovidas ou de
inteligência ou de beleza.
Quem tem autoestima, cuide-se!
Pois existe sempre um carente perto de você.
Mart´nália - Chega
Belas palavras, alertas cruciais... Incrível como consegues descrever a busca pelo nada, que há em tantas pessoas... Não sei, mas poderia ser dito o mal do século... "Busca por nada".
ResponderExcluirRafaela França. Abraço, querido.