Cachaça
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Presente em praticamente todas as
comemorações nordestinas, e brasileiras –
em escala menor, talvez-, e no dia a dia de viciados, a cachaça, e todas
as suas variantes, é o exemplo do domínio do homem sobre o homem por meio de um
objeto de satisfação quimérica de bem estar contínuo.
Apesar de ser altamente ofensiva
ao corpo, à alma e a espiritualidade, ela é a representação da força e da
fraqueza de um povo, ou de um grupo de indivíduos, que faz-se presente, senão
pelo berro d’água – como foi exemplarmente traduzido por Jorge Amado em A morte
e a morte de Quincas Berro D’água -, pela capacidade de desafiar os limites das
próprias faculdades mentais e da resistência do corpo nos momentos em que é
preciso coragem para viver em condições subumanas ou quando inexistem
perspectivas de futuro, geralmente geradas por um amor de cabaré, por um
relacionamento fracassado, por uma traição ou um passado impronunciável, dentre
muitas outras hipóteses – ou ainda pela falta do que fazer.
Há anos levando milhares para o
último refúgio terreno – a cova -, ela, a cachaça, é também o objeto de fortuna
e de estudo, quando consideramos que eleva homens à riqueza e subjulga outros
ao fundo do copo, e que pode ser reconhecida apenas por seu cheiro e
cristalinidade.
À parte os prós e contras, a
cachaça, e suas variantes, ainda é o elixir de quem procura coragem, força, morte e decadência. Se a
felicidade encontra-se no fundo de um copo ou dentro de uma garrafa, então se
precisa urgentemente reviver os mortos de pés inchados para descobrir qual a
dosagem diária correta dessa tal felicidade.
Vão dois dedos da branquinha?
Hino da Igreja Mundial do Bêbados de Deus
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