Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Alfred Stieglitz

Nossa solidão, de estirpe

Imagem
Foto: From my window at an American Place, Southwest. Alfred Stieglitz "Era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra." Cem anos de solidão Gabriel García Márquez Fico pensando nas imensas possibilidades que alguém teria em passar a marca dos cem anos e chego a conclusão de que é uma completa perda de tempo viver tanto se o corpo caminha para o pó desde o momento em que se nasce. A solidão, por outro lado, não tem nada de triste - se é que alguém a considere mesmo assim. É um estado tão íntimo, pessoal, incondicionalmente humano que seria capaz de alguém voltar do túmulo para readquiri-la? Quem sabe... O que é possível ter certeza é que se pode viver entre multidões e estar completamente só. Amar alguém e viver em um eterno vórtice de pequenas solidões do dia a dia - quem disse que o amor resolve tudo? A solidão das estirpes, formadas mais pela pr...

Medíocres adoradores do medo

Imagem
Two Mens Playing Chess. Alfred Stieglitz. Não é impressionante que a maioria das pessoas prefira o medo à claridade da coragem e de seus frutos. Não é raro que se encontre indivíduos que demonizam pessoas e processos numa tentativa desesperada de justificar algo ou com o objetivo apenas de "valorizar" algo, alguém ou agum processo. Em geral gostam de tornar um ser humanamente frágil em alguém com um poder incrível que está, em uma pirâmide imaginária, longe de críticas e de suspeitas quanto à sua capacidade de apreender quem o rodeia. E esse super-humano pode possuir uma beleza incrível, uma inteligência razoável ou ser só outro humano. Esse artifício de endeusar alguém, por exemplo, é meramente uma forma da maioria dizer "sou incapaz, sou irrelevante e medíocre e minha única justificativa é que esse(a) é muito melhor". Os indivíduos estão acostumados com o menosprezo por si mesmo, com a inacessibilidade entre si, com os preconceitos em suas mentes e...

Dia desnecessário dos mortos

Imagem
Shadows in like. Alfred Stieglitz. O dia dos mortos é uma invenção de quem gosta de sofrer desnecessariamente e que, por maioria e sob a convenção de que devemos saudar a memória de outrem, acaba sendo uma chateação aos menos sensíveis com os nem-tão-santos-mortos. A mania de creditar aos mortos as características mais beatíficas que se possa imaginar torna os ossos enterrados, ou queimados, relíquias sagradas para que não conheceu pessoalmente a peste que outrora foi de carne e ossos. Uma mania feia e muito mentirosa - e olhe que mentir é pecado, se o que dizem for verdade. Os mortos podem, igual aos vivos, serem separadas, classificados e etiquetados de acordo com suas bondades e perversidades, sem cair no vórtice mentiroso de santidade inata aos desencarnados. A doce ilusão que em vida tudo foi um mar de rosas. Às vezes dois palavrões à beira do caixão é mais sincero que choros intermináveis. E aí a cultura continua: flores baratas e fedorentas sendo vendidas nas por...

Rotina e tormenta

Imagem
The Hand of Man. Alfred Stieglitz. A rotina acaba, invariavelmente, destruindo a graça e a beleza que existe naquilo que lutamos para conseguir - seja um Porsche ou um romance. E o que acabamos fazendo sem perceber é justamente ser mais um numa multidão que só baixa a cabeça e segue a onda, sem ao menos perguntar para que lado fica a praia. Nem tão de repente assim, então, aparece, vez ou outra, alguém que nos arranca do ostracismo e leva-nos a querer estar em tal lugar, fazendo tal coisa, de tal maneira e olhando tal rosto. Nos muitos "tals" não nos damos conta que mudamos milímetros suficientes para transbordar rios e mares e passamos a ser aquilo que não conseguíamos 10 minutos atrás: vivos, efetivamente. E a pergunta que resta é - sabemos o que fazer quando as luzes apagam e a mente continua trovejando, ventando e relampeando sal e espinhos sobre a brandura do novo? A vida é engraçada, já escrevera Guimarães Rosa. E será que tanta graça, misturada à rotina...

Você entende, né!?

Imagem
                 Rain Drops - Alfred Stieglitz (1864-1946) Você entende, né!? Já notou que quando alguém usa essa frase o que na realidade ela está querendo dizer é: Estou subestimando sua inteligência e você vai fingir que não entende, certo? Algumas expressões são completamente absurdas, cujo sentido leva o ouvinte a uma aceitação eventual e que nem sempre reflete o real pensamento deste, e leva a decisões estranhas e equivocadas. Imagine se toda vez que alguém ouvisse a expressão “Você entende, né!?” a reação fosse de não aceitação da proposição os proponentes iriam pensar duas vezes em usá-la.  O que se entende não necessariamente se aceita. E o que se aceita precisa ser muito bem entendido para que não haja sentidos dúbios e prejudiciais no presente e no futuro. A inteligência alheia nem sempre está pronta para essa pergunta-afirmação que pode ser comparada a um assalto intelectual. Cuidado com o que anda indagan...