Anestésico musical

Warrior and Attendants. Séc. 16-17. Metmuseum.

 

O plano de destruir a cultura popular, não exclusiva apenas dos governos de centro e extrema direita, parece estar seguindo o caminho do sucesso. Entre músicas fáceis de decorar e reproduzir e subcelebridades instrumentalizadas no desmonte institucionalizado, nos diversos níveis de governança, não há mais letristas que retratem a vida do pobre e a hipocrisia de uma sociedade doentemente religiosa, como se sabe em Construção e Geni e o Zepelim de Chico Buarque ou Faraó, eternizada na voz potente de Margareth Menezes. 

Não querem que o pobre pense e reflita sobre si e suas condições de vida. Não é interessante para os políticos que se mantém no poder no planalto central ou nas casas de poder "popular" dos governos subnacionais. Não se ouve mais nada semelhante a 2 de junho, de Adriana Calcanhotto, Bichos Escrotos, dos Titãs, ou O tempo não para, do Cazuza, nos meios de comunicação e na boca do povo.

Em meio a tragédias ambientais, pseudotragédias ambientais e cataclismos sociais, o Brasil tem perdido sua forma mais incisiva e altamente disseminadora de ideais e de resistência - a música. Esta tem sido usada para vender bebida, vender figuras que se tornam públicas, vender quinquilharias, vender o anestesiamento da intelectualidade. Ela só não tem sido usada para fazer o básico - ser arte e representar as classes, o povo, o território.

É um momento sombrio que torna o povo ignorante e esquecido dos seus talentos. 

Como canta os Titãs, "A gente não quer só dinheiro, A gente quer inteiro e não pela metade".

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