Entrevista com Ivan de Almeida
![]() |
Ivan de Almeida |
Rafael Rodrigo Marajá: Por que escrever?
Ivan de Almeida: É uma forma
de deixar algo para as futuras gerações. Descobri minha inclinação para a
poesia em 1996 e hoje como jornalista e pesquisador tenho a escrita não somente
como arte mas também como instrumento para o relato histórico de coisas,
lugares e pessoas.
R.R.M.: O jornalismo abre muitas portas para o profissional. Alguns acabam
reunindo uma vida inteira e escrevem um livro. Qual sua motivação para escrever
e organizar várias obras?
Almeida: Do ponto de vista
intelectual o jornalismo pode abrir novas possibilidades, mas para quem busca
além do trivial e está disposto a “nadar contra a maré” nessa sociedade
pragmática. O que vemos atualmente são muitos profissionais medíocres, se
vendendo ao sensacionalismo dos jornais e emissoras de Tv. Existem muitos
jornalistas sem muita capacidade de reflexão, sem hábito de leitura, sem
participação social, sem ideologia, mas também tem aqueles que são verdadeiros
exemplos de profissionais, cito dois dos quais tive a satisfação em conhecer:
Fernando Coelho e Sérgio Mattos, escritores, pesquisadores, poetas,
intelectuais de valor. Para mim o jornalismo me ajudou a ser um editor de
livros mais capacitado, também não me limitei a graduação, busquei me
aperfeiçoar com cursos técnicos de editoração, design, fotografia e uma
pós-graduação em marketing digital com a intenção de agregar valor a minha atividade. Além da
poesia, hoje busco também focar em trabalhos de pesquisa e o mestrado será um
caminho natural. Também começo a escrever biografias.
R.R.M.: Em 2009, fundou a Cogito Editora, onde, entre outros cargos, é Editor.
Como analisa os escritores da “era facebook”?
Almeida: A internet surgiu
como importante ferramenta para divulgação dos novos autores, mas hoje a
superficialidade em geral, inclusive na literatura preocupa. Vejo autores
publicando textos de má qualidade em sites, blogs e nas redes sociais. É visível a falta de cuidado para com seu
trabalho, talvez seja fruto de uma época em que o instantâneo tem lugar de
destaque. Já publiquei dois poemas no Facebook e penso que quando isso é feito
com bom senso, respeitando sobretudo seus escritos, sua arte, bem revisado e
trabalhado, não vejo problema. O complicado em minha opinião é a perda do
ineditismo do texto, sobretudo no que se refere a poesia, sem contar que muitos
tem o hábito de “curtir” mas são poucos os que leem, sentem e entendem o poema,
não que não tenham capacidade para isso mas é do tempo da própria internet fazer com que
coisas perenes percam o valor. Eu não abro mão de publicar meus poemas inéditos
em livro, depois podem vir as outras formas de divulgação do trabalho por meio da
internet.
R.R.M.: Do ponto de vista da Editora, como vê a produção literária do nordeste?
Continua criativa ou caiu no esmaecimento de copiar grandes obras?
Almeida: O nordeste tem a
tradição de apresentar grandes escritores e poetas, haja vista Castro Alves,
Gregório de Matos na poesia como maiores representantes da poesia baiana,
Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto em Pernambuco, Jorge de Lima em
Alagoas, Lima Barreto em Sergipe, Aluísio de Azevedo, Gonçalves Dias e Ferreira
Gular do Maranhão, Rachel de Queiroz e Patativa do Assaré do Ceará e tantos outros grandes nomes a perder de
vista. Na prosa temos figuras de imenso destaque como Graciliano Ramos, Jorge
Amado, José Lins do Rêgo, Ariano Suassuna, José de Alencar,
João Ubaldo Ribeiro e Antonio Torres. Uma literatura que já produziu autores de
valor como a nordestina jamais vai se esmaecer até porque os autores do
nordeste sempre tiveram que ser criativo para sobressair e obter valorização.
R.R.M.: Como Editor, acredita que a Poesia assume o lugar da Prosa (Crônica e
Conto) por falta de incentivo à produção de livros densos?
Almeida: Cada linguagem tem
sua importância e nenhum desses gênero pode ter a pretensão de assumir o papel
de protagonista. Eu particularmente vejo
que a poesia tem mais capacidade para explicar o mundo e esse pensamento eu
compartilho com grandes pensadores a exemplo de Heidegger, Schopenhauer,
Nietzsche, Pound, só para citar alguns. A falta de prosas mais densas como já
foram escritas em outras épocas a exemplo dos obras marcantes como Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski, O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde,
Em busca do Tempo Perdido e Marcel
Proust, A Montanha Mágica de Thomas
Mann, talvez seja porque vivemos em uma época superficial. O pior é que quando
se trata de Brasil essa situação é mais grave. Vivemos em um pais de não
leitores e isso é angustiante.
R.R.M.: É de sua autoria o recente Mídia e Carnaval: Uma representação
midiática do Bloco Mudança do Garcia em 1930. Qual sua intenção ao escrevê-lo:
torna-lo crítico ou histórico?
Almeida: Considero este livro
uma nova vertente dos meus escritos. Pretendo trabalhar com pesquisa, sobretudo
histórica pois sempre tive essa inclinação para relatar fatos, talvez se não fizesse
comunicação social, certamente faria história. O conhecimento que obtive com a
minha formação em jornalismo de certa forma me proporcionou a oportunidade de
ser um historiador e biografo com um olhar maios objetivo e coeso.
R.R.M.: Tem alguma aproximação com o Bairro Garcia?
Almeida: Nasci e fui criado
no local, portanto, o meu relato também tem algo de pessoal. Independente
disso, o tradicional bairro do Garcia tem papel importante na história de
Salvador devido às suas marcantes manifestações culturais, sobretudo as
carnavalescas como o bloco sem cordas “Mudança do Garcia”.
R.R.M.: Como definiria o carnaval e a relação deste com a mídia?
Almeida: Em minha pesquisa
fiz questão de mostrar que em 1930 a relação da mídia com o carnaval era
infinitamente menor, hoje é completamente diferente. Temos uma festa pautada no
lucro, uma grande indústria. O que não mudou foram os padrões socioeconômicos,
os negros e pobres continuam marginalizados enquanto os brancos que antes
estavam nos clubes carnavalescos e carros alegóricos hoje estão nos luxuosos
camarotes e nos caríssimos blocos. Assim como no Rio, em Salvador o carnaval é
uma festa para o estrangeiro ver e curtir, enquanto isso continuamos tendo a manifestação momesca como vitrine da
desigualdade social que existe no dia-a-dia do nosso país seja nas capitais ou
no interior do Brasil.
R.R.M.: Quais as novidades deste ano da Cogito Editora?
Almeida: Lançaremos em
Salvador a nossa antologia resultante do Concurso Internacional de Poesia
organizado pela Cogito. Já lançamos no Rio de Janeiro e agora em maio será a vez
de Salvador, na ocasião divulgaremos o edital do segundo concurso. Também já
está em curso os projetos editoriais: a Solilóquio, em parceria com Blog da
Gaivota e o segundo volume da Mundo – Antologia poética Também estamos nos
preparando para lançar a biografia de nossa autoria Argeu – Uma vida de Trabalho, Coragem e Ternura. Além destes temos
muitos outros lançamentos no segundo semestre e no final do ano a nossa mais
tradicional antologia Focus.
Obrigado pela entrevista, Ivan!
Essa entrevista foi concedida por e-mail.
Obrigado pela entrevista, Ivan!
Essa entrevista foi concedida por e-mail.
Comentários
Postar um comentário
Após análise, seu comentário poderá ser postado!