Quando a Classe Média encontrou a Classe Residente
Semana passada estava mais uma
vez, como se fosse uma festividade, em uma fila em um dos supermercados de
Aracaju. Ladeado por produtos que podem entrar na última hora na lista de
utilidades indispensáveis à alimentação diária, estava refletindo nas
impossibilidades de quem não tem dinheiro para luxar com as futilidades
alimentares quando meus olhos decaem do monitor de compras para o carrinho da
frente.
E na minha frente estava a Classe
Média de Aracaju, com seus carrinhos cheios de biscoitos recheados, danones,
refrigerantes e caixas de bombons; a Classe Média era loira, sobre um salto
alto e com a maior preocupação do mundo: é melhor comprar caixas de uma vez a
ter que ir ao mercado toda hora comprar um bombom. E concordo com ela. Ninguém
gosta de filas. E simpatia é uma coisa que está reservada aos que estão de bem
com a vida e com o bolso.
A ironia de fazer compras está na
igualdade de reclamar por direitos. Enquanto a bela Classe Média finalizava
suas compras e pagava, no cartão, seus trezentos e oito reais em produtos que
só fará mal à sua saúde, e que gera um prazer imenso mesmo assim, atrás,
comigo, estava a Classe dos discentes residentes que contavam moedas para
passar o mês, pois a Universidade considera café da manhã fútil e almoço e
jantar muito superficial para ser servido em todos os finais de semana.
A Caixa do Supermercado tem uma
vida igual a nossa, com centavos contados no fim do mês e talvez tenha uma alimentação
escassa, ou nem próxima daquela que a Classe Média fez. Mas todos estão ali, em
pé, contando números e calorias que acabam mal distribuídos, assim como a
distribuição de renda atual. A diferença é que nós, estudantes, podemos ser
tudo ou nada no futuro - depende apenas do rumo corrente da vida. A caixa, quem
vai saber? A Classe Média, bem, essa terá uma vida longa e com desejos saciados.
Resta ao pobre, de fato, viver
olhando o que não tem ou pisar no terreno da certeza e fazer escolhas com o que
tem, mudando a virtude dos fatos.
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