Com a sabedoria do Raio
Há dias em que tudo está normal,
com os livros no mesmo lugar, os CD’s na mesma disposição, a vida com a leve
poeira do tempo sobre tudo, inclusive sobre sua própria vida – tão frágil, tão
rápida, tão desgraciosa.
Há momentos em que você olha para
seus livros e seus CD’s e entre eles vê o óbvio: falta tudo e sobra lixo. Falta
uma saída rápida ao prostíbulo familiar de uma amiga, o estudo profundo da vida
alheia em uma mesa de bar ao som de um brega e na companhia daqueles que o
consideram um irmão desde sempre, as histórias sobre aquela velha beata que
hoje fala mal dos jovens e que no passado foi uma proeminente “mulher do povo”.
Falta o movimento para tirar a poeira sobre a cabeça virtual.
Sobram coisas demais: lembretes
de pessoas que não gostam de você, eventos que precisará ir, leituras, músicas,
ociosidades. Imbecilidades. Inutilidades.
Então, como se o raio de Iansã
caísse aos pés, a força para mudar começa a fluir dentro do corpo, junto com o
sangue, e coisas úteis vão parar no lixo, anotações são amassadas e rasgadas,
fotografias são guardadas, roupas são cortadas, a tecnologia é ignorada e uma
nova visão começa a surgir em meio a obsolescência de uma vida sem graça.
A vida começa quando termina a
mesmice de um mundo conhecido e o novo se abre novamente.
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