Anístico*
A madrugada tem os pelos que voaram das brincadeiras alheias de cães e gatos, muitas das quais o perigo de uma morte fez-se presente nos mais elementares momentos inesquecíveis. O perigo não é o de uma morte sem presença de palco em uma vida completamente banal, tão igual a um infarto na hora gloriosa do recebimento de um prêmio, mas de uma vida na qual somente os olhos humanos a viram. Com olhos de lince, que mesmo nunca tendo visto um sabe da agilidade daquelas retinas, os felinos vêem, no espectro azul, a cor do que importa e corre, entre perigos e cães, a linha tênue que leva à cama nessa madrugada fria. O mesmo início de dia que acomete de infortúnios diversos seres pelo mundo ainda escuro é o mesmo que incide sobre a cômica tragédia que é não sorrir frente às ironias trazidas logo mais pelo sol. Se é mais divertido escarnecer dos percalços do dia, por que teria que chorar sob a lápide de desimportantes fatos? E, sorrindo das tragédias pessoais que quase ninguém acreditaria ...