O que (não) existe

Père Romeu - Pablo Picasso (Spanish, Malaga 1881-1973 Mougins, France)

É claro que existe uma corrente paralela ao Dia dos Namorados e que é ainda mais forte e implacável que presentes, data e estado de espírito comerciável. E o que existe atravessa os anos e durante todo o inverno junino, ou aquilo que se chama inverno junino no nordeste, paira uma nuvem de elementos não ditos ou ditos e esquecidos entre tantos desencontros durante o pró e pós-junho.
É o movimento das paixões que são guardadas em casa na forma de cartas, de objetos e fotografias. Umas tantas paixões que os cheiros acabam em mistura com cores e sons e no fim o que resta é a melancolia, ou de um sorriso ou de uma lembrança.
E mais importante que a paixão em si é a expectativa da existência de que ela existe; é a certeza de que a pessoa existe e que você está a um querer dela; que nada importa, nem que seja por uns instantes.
Importa a reciprocidade?
Depende muito: da dor que você pode suportar, das cartas que consegue escrever, do quanto está disposto(a) a ganhar e a perder para tentar valer a pena.
É essa forma de viver, de estar encoberto(a) que faz de junho com todas as suas fogueiras e declarações um período simbólico cujo maior altar está dentro de cada um, acompanhado ou não, sorridente ou melancólico(a). 

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