No Condomínio

A vida em condomínio é uma ilusão da realidade que se reproduz ferozmente nas ruas que os muros escondem dos moradores. Seguindo a irrealidade de que por trás de muros, guaritas e câmeras o cidadão está mais seguro, a indústria da construção civil vende o sonho da casa própria empoleirada em uma nuvem de “segurança, conforto e qualidade de vida”.
Esses itens são questionáveis. Sempre.
Bloco do Condomínio Eucaliptos. Aracaju-SE
A segurança proporcionada pela administração do condomínio é paga pelo próprio morador, que faz o duplo papel de financiador da segurança pública. Duplo gasto. Duplo imposto.  Dupla forma de ilusão: a primeira é não cobrar da administração pública a segurança garantida pela Constituição de 1988 e financiada pelos cofres públicos através do recolhimento de impostos; a segunda é financiar uma segurança privativa incapaz de realmente proteger-lhe.
O conforto está muito aquém das propagandas belíssimas dos catálogos e da verbalização dos corretores. A maximização da ocupação do espaço e a consequente miniaturização da área dos apartamentos fazem com que haja mais gente morando em lugares cada vez mais apertados, com móveis grandes demais para caber na sala e no quarto. Se conforto significa casa de bonecas, então as construtoras estão de parabéns.
E como resultado desse conforto, a qualidade de vida dos condôminos é veladamente renegada ao adaptável dentro do círculo delimitado pelos muros. Qual é a qualidade de uma vida que se restringe a poucos metros quadrados, sem privacidade total garantida, sem o poder de liberdade para criar bichos de estimação e sem a capacidade de ouvir música e até praticar o ato sexual sem que alguém controle o volume?
 Dos condomínios pobres aos ricos a situação é a mesma e as confusões são muito semelhantes, com pouquíssimas diferenças. E o que precisa ser mudado nas novas construções é o simples e não menos complexo desafio de garantir o real conforto do ocupante do imóvel aliado ao prazer de morar em um lugar que realmente se diferencie das ruas. Os condomínios precisam de inovação das paredes à instalação elétrica; precisam deixar a receita de bolo para o lado e começar a colocar em prática o exercício das possibilidades e de tudo o que é necessário fazer para criar novas maneiras de morar.

Enquanto isso não acontece, algumas vidas infelizes seguem o curso natural até o único lugar onde a opressão da terra é gratuita e a segurança garantida, o túmulo.

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