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Condomínios sempre são favelas

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Obra: 1886. Perkins Harnly. Metmuseum.  Prédios, por mais sofisticados que possam parecer, é apenas uma releitura dos barracos de papelão e sucata que outrora fizeram os morros ocupados indevidamente serem chamados de favela. Se nos barracos de tijolos, papelão e sucata que vemos nas periferias de grandes metrópoles não há privacidade, dignidade e vida digna não é em sofisticados barracos que esses critérios de sobrevivência são encontrados.  É bem verdade que quanto mais você gastar em um barraco sofisticado, comumente chamado de apartamento, mais terá um distanciamento do seu vizinho da frente, de cima e de baixo e poderá viver em um submundo psicodélico em que quanto mais alto for o seu barraco mais "rico" será entre os seus pares. Doces ilusões criadas pelas imobiliárias e incorporadoras para justificar o empilhamento de seres humanos a preços altíssimos e com pouquíssima liquidez do dito imóvel. Nas favelas os vizinhos se conhecem, sabem o que acontece nas imediações...

Ratinho do poder

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Foto: crédito na imagem Noite dessas Jade ia chegando no cortiço Eucaliptos, cambaleando pelo estacionamento, quando, ao longe, viu um gato estranho andando para lá e para cá entre os carros. Chegando mais perto Jade viu que o seu gato na verdade era um gabiru que rondava o estacionamento e as vielas do cortiço em busca de comida. Manter um corpinho gigante daqueles dá muito trabalho e precisa de muito lixo orgânico para suprir as necessidades. A sorte é que Jade não tem medo de ratinhos geneticamente incentivados – mas é sempre bom dar espaço para esses bichos e Jade foi embora, deixando-o em paz. Não é de estranhar que, além das baratas cascudas que entram pelas janelas dos prédios velhos e decadentes, ratos se criem por entre as lixeiras impróprias de cada conjunto de blocos. Esses depósitos, que dão muito trabalho para o pessoal da manutenção, é o exemplo eficaz de lixão adaptado para condomínios. Daqui a pouco as baratas vão entrar pela janela aberta, comer a pele morta ...

A bêbada do outro prédio

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Quadro: Square House, Amsterdam. James McNeill Whistler. 1889. Às 15h a bêbada do outro prédio liga o aparelho de som e programa-o em três músicas, da Elis Regina e da Alcione (de vez em quando aparece também o Belchior), e começa, então, o suplício dos moradores do cortiço vermelho. As mesmas músicas são repetidas indefinidamente enquanto a bêbada consegue andar ou ter consciência e isso pode durar até dois dias, considerando as noites. A bêbada não tem muita noção de tempo quando se entrega à depravação, à bebida e ao ócio. Tudo o que ela quer é ouvir as mesmas músicas, no último volume, e incomodar os vizinhos avisando-os, por meio de sinais diversos, que ela não está nem aí para as convenções sociais. Não demora muito, a partir do momento em que o som é ligado, e ela começa a ter discussões ferrenhas com o marido (se for realmente marido). Palavrões e xingamentos dos mais vulgares saem pela janela dela e entram nas dezenas de janelas vizinhas. Uma forma muito interessante...

-ismos do cotidiano

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Não é difícil ouvir reclamações sobre individualismo, egoísmo e todos os -ismos que promovem a vida solitária, apesar do grande esforço das redes sociais em criar ambientes comuns e de "boa convivência". E a grande ironia é que quando o contexto em que a crítica é feita situa-se em cidade metropolitanas são os próprios críticos quem promove a segregação, em seus mais variados níveis. Um exemplo irrefutável da promoção do individualismo e combate à vida coletiva são os condomínios.  Há condomínios pedantes onde é expressamente proibido dividir a churrasqueira e o salão de festas com pessoas diferentes (ainda que morem no mesmo edifício) àquelas que os reservaram; em outros é proibido, igualmente, o som musical; em outros existe o cúmulo da etiqueta que diz que é falta de educação ou indelicado não possuir carro e, assim, ter que cumprimentar o porteiro. Quando não é esse extremo elitista, os condomínios são a representação do descaso dos moradores com suas áreas comuns...

Sol e chuva no lombo

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Av. Presidente Tancredo Neves. Aracaju - SE Esse é o ponto em frente ao Condomínio Eucaliptos. O único para muitos metros à esquerda e à direita desse ponto. E parece que é o único em anos que não recebe a atenção da Governança municipal. E deve-se culpar apenas a Governança? É evidente que não! Um conjunto de quatro condomínios, milhares de pessoas transitando para lá e para, acrescida de ser quase vizinho da Prefeitura, teria força suficiente para requerer a melhoria do ponto de ônibus. Entretanto, ninguém parece ligar... Eu, mais os trabalhadores da Vale, da Petrobrás, os outros estudantes da UFS, UNIT, PIO DÉCIMO, os vagabundos e demais classificações que esperam, seja no sol ou na chuva, parecemos estar com o couro endurecido pelos dias e meses fazendo as mesmas coisas e levando as mesmas intempéries nas costas. Falta atitude, dos usuários, dos condôminos ainda mais, para mudar essa inclassificável vergonha. Hoje, ao menos, os 10cm de lixo costumeiros não es...

No Condomínio

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A vida em condomínio é uma ilusão da realidade que se reproduz ferozmente nas ruas que os muros escondem dos moradores. Seguindo a irrealidade de que por trás de muros, guaritas e câmeras o cidadão está mais seguro, a indústria da construção civil vende o sonho da casa própria empoleirada em uma nuvem de “segurança, conforto e qualidade de vida”. Esses itens são questionáveis. Sempre. Bloco do Condomínio Eucaliptos. Aracaju-SE A segurança proporcionada pela administração do condomínio é paga pelo próprio morador, que faz o duplo papel de financiador da segurança pública. Duplo gasto. Duplo imposto.  Dupla forma de ilusão: a primeira é não cobrar da administração pública a segurança garantida pela Constituição de 1988 e financiada pelos cofres públicos através do recolhimento de impostos; a segunda é financiar uma segurança privativa incapaz de realmente proteger-lhe. O conforto está muito aquém das propagandas belíssimas dos catálogos e da verbalização dos corretores. A...