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Mostrando postagens com o rótulo Faith

A sífilis católica

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 Não é de hoje que se conhece os efeitos do catolicismo na vida cotidiana do povo brasileiro. Por meio dessa poderosa arma de dominação empregada pelos colonizadores da imensa área terrestre que se conhece como Brasil, o povo foi obrigado a aceitar figuras ditas sacras como suas; o povo foi obrigado a comer ou a deixar de comer em função de dogmas e "festividades" católicas; o povo, que construía as edificações católicas, sequer podia - e, de certa forma, ainda acontece - entrar nos ambientes católicos.  Para o povo, criaram igrejas católicas distintas, sem muito requinte ou cuidado, apenas o suficiente para manter sob domínio um povo colonizado e expropriado de sua cultura, de sua terra, de sua identidade.  O sangue que banha as paredes dos templos e edifícios católicos criaram os pentecostais e os neopentecostais. E o povo seguiu sendo colonizado, acreditando na ficção de um único deus, seletivo, opressor e imaginário. Um deus que não se manifesta diante da mais absurda...

Meia vida de domingo

 Entre sombras que abrandam o calor do sol em um inverno incerto e risos sapatônicos no fim do corredor há aplicativos que nos roubam de nós, amortecendo as atribulações que nos auto infligimos; há pensamentos que se escondem entre escombros de sonhos; há fragmentos de uma pessoa próxima da esquizofrenia.  Acabamos por deixar que algoritmos nos digam o que comer, como viver, de que forma trabalhar. Permitimos que nos ditem os passos da felicidade que, assim como o corpo perfeito, jamais atingiremos sem uma imensa equipe de marketing.  E seguimos sendo imperfeitos, moles, redondos, com o cabelo mal cortado, com a comida menos fotografável, adjetivando redes sociais e nos sujeitando ao segundo plano de histórias próprias e pessoais.  A igreja neopentecostal já terminou os trabalhos de lavagem mental dos pobres que a frequenta todo domingo de manhã. Agora os velhos e os animais podem sentar do outro lado da rua sem o incômodo de um deus ficcional a olhar-lhes por meio d...

Decolonialidade a serviço do colonizador

 Os países periféricos são periféricos por obra e domínio contínuo das suas antigas Metrópoles que mantém laços de poder cultural, político e econômico sobre os pobres dos países colonizados. Esses pobres, infelizes e condenados por nascença, sem direito a saneamento básico e sem renda suficiente para a promoção da qualidade de vida e da dignidade humana estão fadados a serem fantoches viciados em redes sociais. Isso não é novidade e os números de seguidores, que agora definem o sucesso profissional daqueles que se sentem amados e admirados pela irrealidade de uma rede de haters que os seguem, e do aumento de influenciadores digitais que se gabam de não conhecer nada além do alfabeto nativo e de pouco dominar a própria língua, são o retrato de uma paisagem complexa e que está além da compreensão desses pobres-diabos que mal acordam e se põem a rolar infinitamente uma tela de smartphone .  Agora, enquanto a educação continua sendo precarizada e a força de trabalho anestesiada ...

No vale de idiotismo

 Vamos crescendo e entre chibatadas "educadoras", chacotas "inocentes" e sonhos capitalizados acabamos tornando-nos insensíveis e avaliadores do outro com certa malícia necessária, embora muitos não consigam escapar das armadilhas sociais.  É assim que se reconhece o cretinismo senil dos evangélicos, aquelas mulheres que usam o útero como meio de vida por meio da geração de criaturas infelizes e dos homens que acham na toxicidade de comparações penianas disfarçadas de certos "sucesso".  E como escapar? Nem sempre dá. Às vezes só dá para escapar sendo bem cretino e em outras sendo patriarcalmente preconceituoso.  É isso ou se render às imbecilidades de um cotidiano deplorável.  Ali na frente mesmo, a múmia evangélica crê que se falar o nome de uma certa deidade ficcional poderá ser salva da lama do pós-vida que a espera. Confrontada com essa realidade, fica ofendida - mais com o fato de que vai servir como adubo do que com a negação da falsa deidade.  Na ou...

Dias infernais de Herege

 Algumas doutrinas cristãs (e daí já é possível ter uma bela ficção) levantam a hipótese doutrinária de que podemos ter escolhido nossos pais, nosso país e as condições materiais nas quais nos encontraríamos depois de nascer. Se isso for verdade ou tiver algum traço desta, precisamos amaldiçoar a nossa péssima capacidade de escolha.  Há dias em que nos encontramos em tão desagradável situação que só pode ser descrita, brandamente, como um inferno na terra e nem nos piores dias de pensamentos mais tenebrosos dos filósofos mais hereges teria ocorrido uma narrativa de uma personagem em dia tão terrível. Às vezes o dia é mais de um. E situações mais adversas, dentro e fora do próprio controle, leva-nos ao melhor autocontrole possível, que é não só não perder o réu primário como não parecer uma pessoa enlouquecida "sem motivos". E, se nesses momentos, alguém mencionar que foi escolha - certamente o réu primário será perdido. No fim, palavras brandas são enervantes e o sossego é a ...

O Mal

O mal, figura abstrata que dizem devorar a tudo e a todos, parece servir aos desejos de duas ou três pessoas em cada lugar onde quer que exista gente "feliz".  O mal que quer destruir a vizinha, o colega de trabalho, o pastor, o coroinha, um empreendimento, uma carreira. O mal encoleirado e que existe à mercê da humanidade está preso e faminto em cada habitação.  O mal, personificação do inimigo. Porém, qual inimigo? Inimigo de quem? O mal, generalista e onipresente, são os outros e nós mesmos; é a nossa vontade invejosa, o nosso mal disfarçado preconceito, nosso sexo amedrontado, nossas armas religiosas e nossa pouca profundidade.  O mal é a vergonha de si e a não aceitação dos caminhos e escolhas alheias. O mal, o mal mesmo, existe porque o bem existe e toda dualidade exige, por definição, dois lados antagônicos. O meu mal está aqui, babando, esperando para brigar com o seu.

Onde estará o refrigério?

Domingo. Na prova tinha uma história de mudança climática e o impacto na vida do brasileiro.  O que dizer sobre a vida do brasileiro?  O brasileiro que não come porque não pode e leva à boca tudo o que acha para que não se dobre em dois e faleça por inanição. O brasileiro que não tem o mínimo do refinamento em sua dieta e o que possui de culturalmente culinário ainda lhe é retirado no processo de colonização que chamam de goumertização (mais um dentre as dezenas de termos abrasileirados). A vida do brasileiro é tão controversa que ao meio-dia em ponto, com uma sensação térmica de 33°C e com algumas sombras possíveis, o brasileiro baiano prefere ficar sob o sol.  Não há protetor solar que ajude e não existe água suficiente para suprir uma desidratação nesse nível, em um semiárido que até os Deuses esperam o fim da tarde para sair de seus locais sagrados. É domingo. E no outro extremo, plena caatinga ( semiárido ainda) uma criança que só expurga suas escolhas pré-mortais pr...

Contradições nacionais

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Foto: Twitter/@oxeanso. Maceió-AL, 2022. Um país de veladas contradições que não nos sustentam no cotidiano. Redes de supermercados que nos ilude com promoções segmentadas são os mesmos que se orgulham em expansões agressivas para destruir os pequenos negócios e ser a preferência do consumidor. Afinal, sem escolha, o que o consumidor pode fazer? Nas melhores esquinas do Brasil, as redes de farmácias são tão vorazes que almejam substituir os mendigos que pedem nos semáforos. A diferença entre estes e aquelas é uma revista e não um doce ou flores de plástico.  Os políticos, servindo a grandes varejistas, ruralistas, líderes religiosos e corporações poderosíssimas, não estão dispostos a transformar contradições em coerências e o país segue sua marcha anti-povo rumo aos áureos tempos em que a fome e o desespero matavam à luz do dia e à queima roupa.  Somos contraditórios e cada dia mais dependentes de ultraprocessados, condenados e insustentáveis sistemas de sobrevivên...

Oração a Oxóssi

Senhor de uma flecha só                                           Apontai-me o caminho na mata escura  Senhor do silêncio caçador                                               Ajudai-me na arte de silenciar Senhor da abundância                                       Olhai por mim na adversidade Senhor dos caboclos                                     Sustentai-me nesse meu caminhar  Senhor Deus dos tambores e das peles de caça                                      ...

A banal oração

Nem havia aberto os olhos e o barulho já tinha entrado no quarto pelas frestas da porta.  Palavras proferidas em alto tom, parecendo uma briga, que vinha de algum lugar perto. Com o passar dos minutos e o sono se afastava, a voz parecia lamentar, depois pedir. Tudo, em menos o que ela mais queria - clamar. Era o pastor assembleiano, que anda na boca do povo por fazer coisas que o Livro condena, orando pela vitória da esposa em algo banal. Um dia, se esse Deus hebraico existir e eu topar com ele, irei perguntar se esses ministros não poderiam gritar mais baixo ao amanhecer ou se quanto mais alto mais chances de conseguir a banalidade pedida. Meus olhos abertos, vasculhando as mensagens urgentes de um trabalho fundamentado na decadência do corpo humano, tornaram-se despertos só pela gritaria.  A religião que embrutece e emudece os fiéis já tornou a sociedade doente. E só de doenças anda vivendo o brasileiro cristão.

Filho do Fogo e do Trovão

Eu sou o fogo que incendeia a lenha seca  Que provoca a fumaça  Que ilumina Eu sou o fogo que obscurece as luzes ao redor Amedronta Encanta Aquece Eu sou o raio que toca o chão  E transmuta em labareda E arde Eu sou da realeza do fogo Cordas que ecoam o brado Dele Metal e madeira do Machado Eu sou o fogo Eu sou a ferramenta Eu sou o filho O Leão caminha ao meu lado E rugi à menor ameaça  E eu sinto sua força a cada manhã  O Rei brada na pedreira  E eu sou o eco da sua justiça  Na mina Na rua No Palácio  Eu sou o brilho que nunca cessa O fogo que nunca apaga A alteza descalça 

A rotina da casa do lado

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Tela: Tempo de lazer em um ambiente elegante. Pieter de Hooch . Metmuseum   Quando a família tradicional virou o deboche público por ter seus segredos expostos, como o gay sigiloso, a moça cujos hábitos sexuais estremecem os pensamentos das carolas e a religião exposta como arma de dominação dentro e fora da família - além, obviamente, das preferências políticas questionáveis e, até certo ponto, tão irracionais quanto o fanatismo religioso -, a credibilidade da instituição familiar foi jogada no lixo, incinerada e as cinzas foram jogadas na privada da rodoviária.  Agora tenho vizinhos que remontam à velha estrutura familiar - ainda sem filhos, mas à base do catolicismo.  Às 18h tem o terço. Entre as 22h e o meio da madrugada tem um sexo contido. Durante a manhã tem entrevistas com religiosos e sessões de músicas gospel. E a tarde é uma preparação da mulher, jovem e sempre auto exilada, pela chegada do homem. O perfume dela, nem tão bom assim, chega a invadir a minha ...

Estúpidos e ignorantes fiéis de redes sociais

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Pintura: Tumba de Virgílio ao Luar, com Silius Italicus Declamando.  Joseph Wright. Metmuseum.   Como uma generalidade, as pessoas são estúpidas e ignorantes.  E a manifestação dessas duas qualidades depreciativas do ser humano, frequentemente, se tornam evidentes pelo uso da religião como meio de escape para as estupidezes cotidianas e para cometer ignorantes atos de crueldade.  Quem consegue compreender isso domina o outro e suas preferências, mantendo-se sempre no bom pensamento, e deturpado, dos pobres diabos crédulos.  Bom, e de onde vem essa minha reflexão sobre isso? Estava eu no Twitter, despretensiosamente, como sempre, quando me deparei com uma postagem de uma cantora brasileira - que há tempos abandonou as terras de Rondon- em que transcrevia um versículo da Bíblia. Seus seguidores, tão estúpidos quanto qualquer latinoamericano colonizado pelo poderia ideológico e militar do catolicismo, ressaltavam quão sábia era o ídolo virtual que seguiam. E para p...

Crônica de uma vida insuficiente XVII

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Aceitar a verdade que habita o outro tem sido um fator causador de problemas porque o outro tem convicções próprias, desejos e pensamentos que precisam ser validados em ações e no relacionamento com a sociedade e nós, individual e introspectivamente, almejamos estar do lado "certo", com as ideias e pensamentos "certos", no lugar "certo". Queremos ser irrepreensíveis sendo abjetos. E perceber que o "certo" compartilha facetas individuais e coletivas corresponde a admitir, tacitamente, que em algum momento, sob algum ponto de vista, estamos ou ficaremos fora do seleto grupo dos "certos". Querer estar na guerra sem sentido da dualidade certo-errado é perder o bem mais precioso que temos na encarnação - o tempo. Que os Deuses discutam e digladiem-se pela hegemonia estabelecendo quem é ou deixa de ser do bem ou do mal. A nós, encarnados, cabe a tarefa de observar e não lutar uma guerra alheia. Mas há quem esbraveje suas n...

Crônica de uma vida insuficiente XVI

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Ilustração de Gabriela Santos. Sempre seremos insuficientes se não nos bastarmos. Os empregos, os relacionamentos, as amizades, os médicos, os psicólogos, os bancos, os clientes, a sociedade - todos dirão e mostrarão continuamente que não somos suficientes. Sempre vai faltar um curso a mais; um pouco de atributos aqui; uma subserviência ali; uma fé cega acolá. Sempre vai faltar um degrau para a dignidade e para a salvação da alma. Sempre precisaremos de mais uma prova, moral ou acadêmica, para mostrar que somos o produto certo. Sempre teremos que ser o que o outro espera e não expressa. Sempre será assim a menos que tenhamos a coragem de quebrar a roda que nos oprime e ser o suficiente para nos bastar. Nossas falhas e desejos só dizem respeito a nós mesmos e provas não nos servirão quando nosso olhar crítico voltar-se para nossa vida, nossas escolhas, nosso estado da arte. Precisamos nos bastar para que possamos ter a consciência tranquila de quem viveu para si e po...