Decolonialidade a serviço do colonizador
Os países periféricos são periféricos por obra e domínio contínuo das suas antigas Metrópoles que mantém laços de poder cultural, político e econômico sobre os pobres dos países colonizados. Esses pobres, infelizes e condenados por nascença, sem direito a saneamento básico e sem renda suficiente para a promoção da qualidade de vida e da dignidade humana estão fadados a serem fantoches viciados em redes sociais.
Isso não é novidade e os números de seguidores, que agora definem o sucesso profissional daqueles que se sentem amados e admirados pela irrealidade de uma rede de haters que os seguem, e do aumento de influenciadores digitais que se gabam de não conhecer nada além do alfabeto nativo e de pouco dominar a própria língua, são o retrato de uma paisagem complexa e que está além da compreensão desses pobres-diabos que mal acordam e se põem a rolar infinitamente uma tela de smartphone.
Agora, enquanto a educação continua sendo precarizada e a força de trabalho anestesiada pelos algoritmos das Big Techs e suas práticas antiéticas, o movimento pela decolonialidade segue ampliando seu domínio na Academia. É lindo observar discursos contra culturas colonizadoras que destruíram, e continuam a fazê-lo, o saber e o cotidiano dos povos dominados com o aval de uma Academia que se supõe ser vanguardista e resistiva.
A decolonialidade é necessária e precisa ser do conhecimento geral para que os povos escravizados pelas nações colonizadoras possam quebrar as poderosas correntes invisíveis que substituíram as correntes físicas, tão frágeis se comparadas com as atuais.
Resistir é preciso e a decolonialidade é um caminho.
No entanto, esse movimento acadêmico pela decolonialidade acaba, como quase tudo que entra em contato com essa gente acadêmica, sendo contaminado pelos excessos dessa casta social e se reflete em hipocrisia. Dentre as várias barreiras que a Academia não ousa enfrentar no processo de decolonialidade está a religião.
Como podem discursar contra os povos colonizadores e propor meios de enfrentamento se, na prática, quando precisam executar o discurso simplesmente, fazem o oposto?
Como ser decolonial seguindo a religião do colonizador (o cristianismo) de forma cega e desvairada?
O cristianismo que tanto provocou, e continua provocando, atrocidades físicas, emocionais, psicológicas, patrimoniais e culturais em povos e nações segue como o bibelô dos povos colonizados e uma arma dos colonizadores para manter o atual status quo dos seus domínios.
Simplesmente não é possível que haja libertação sem que a religião do colonizador seja não apenas repensada como, assim como acontece com as demais, também seja restringida em seu sentido mais estrito - o da obrigatoriedade de adesão ao nascimento e de manifestação obrigatória e incriticável, mesmo quando afeta a liberdade de ser dos indivíduos.
Ser cristão e ser decolonial é uma impossibilidade que a ética e o bom senso, da forma mais superficial possível, explicam.
Agora, com a virtualização em massa de sentimentos, empregos, prestígio e vida social, há ainda mais perigos em se manter aspectos culturais colonizadores. Mantê-los, ainda mais para aqueles que lutam contra a colonização e seus efeitos nefastos ainda vigentes, é tudo aquilo o que os colonizadores querem - apenas uma anestesia capaz de iludir os pobres-diabos colonizados que fingem possuir uma Academia combativa.
Comentários
Postar um comentário
Após análise, seu comentário poderá ser postado!