Crônica de uma vida insuficiente XVI
Os empregos, os relacionamentos, as amizades, os médicos, os psicólogos, os bancos, os clientes, a sociedade - todos dirão e mostrarão continuamente que não somos suficientes.
Sempre vai faltar um curso a mais; um pouco de atributos aqui; uma subserviência ali; uma fé cega acolá.
Sempre vai faltar um degrau para a dignidade e para a salvação da alma.
Sempre precisaremos de mais uma prova, moral ou acadêmica, para mostrar que somos o produto certo.
Sempre teremos que ser o que o outro espera e não expressa.
Sempre será assim a menos que tenhamos a coragem de quebrar a roda que nos oprime e ser o suficiente para nos bastar. Nossas falhas e desejos só dizem respeito a nós mesmos e provas não nos servirão quando nosso olhar crítico voltar-se para nossa vida, nossas escolhas, nosso estado da arte.
Precisamos nos bastar para que possamos ter a consciência tranquila de quem viveu para si e por si e não para satisfazer os desejos e mesquinharias do mercado, da religião e do outro.
Precisamos nos bastar para sermos seres humanos de verdade e não fantoches que tudo aceita, crendo em ilusões alimentadas pela artificialidade de quinquilharias físicas e virtuais.
Precisamos nos bastar para que entendamos que somos nossa própria definição.
Precisamos nos bastar.
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