O Dianho




Folhas e flores do jasmineiro do IFAL - Palmeira dos Índios
Sabe, às vezes o amor bate à porta, dorme na horta e nunca está acordado quando se precisa dele. Às vezes vemos uma figura e pensamos que é o amor dormindo, de braços cruzados sobre os olhos. E quando chegamos perto - buuuum - é só um reflexo do desassossego.
O amor tem pilantragens estranhas - gosta de cuspir na comida alheia, de sorrir em velório, de criar raízes em pés de gente. O amor é ladino!
Cá para mim, esse tal de amor é espécie de dianho que morde o calcanhar da gente e espera nosso choro; e quando sequer o olhamos, ofende-se, grita com a gente, fica vermelho de raiva e diz 'destá!'.
Outro dia ia passando sob o jasmineiro e o vi contando uma história - coisa mais estranha. De outra feita, os jambos estavam querendo cair - já não aguentavam mais tanta gente dizendo que eram vermelhos como o amor e do formato certinho de um coração. 
O amor dá para endoidar até as plantas, quanto mais nós, que adoramos um romance de beira de estrada.
E uma hora aquele destá faz sentido; arapuca que pega alados pega gente grande e ente de espíritos. Aí não tem jeito: qualquer sorriso é o melhor do mundo, qualquer 'oi' tem cheiro de 'quero mais' e o mundo gira num ritmo descompassado, na batida do coração - e quase sempre é do coração errado.
E quando o amor toca a aorta, gira a porta e entra, não tem reza para santo macho que dê jeito!
Então sossega que o eu desespero é coisa de dianho com raiva, é vaidade não satisfeita. Já já passa.
E enquanto passa, aproveita, porque todo olho que chora ri e nem todo coração que bate ama.





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