Lá no instagram

O tempo passa e nossos espelhos insistem em nos dizer isso. Talvez a gordura continue a mesma, ou oscile tanto que não mostre grandes diferenças; talvez o cabelo, pintado, grande, mude pouco. Mas o tempo está, em nossos rostos, escorrendo, como uma maquiagem sendo deteriorada pela água - e não importa se são lágrimas ou a água do mar.
E essa passagem do tempo nunca foi tão notada quanto em um dia quando estava postando uma foto no instagram. Minha foto acabava de ser carregada quando, no feed, apareceu outra, logo abaixo, de alguém conhecida. Minha foto, banal, estranha de propósito; a outra, tão banal, tão nítida. O rosto exposto na outra foto denotava tão-somente a falta de risco, de ousadia em que o ser vivia.
Tanto tempo depois e lá estava, igual nas características gerais. Diferente apenas na chapinha mal aplicada.
A foto é isso: um retrato da alma que geralmente confundimos com exposição visual. O visual nada tem a ver com a fotografia.
O tempo, senhor dos corpos e da nossa validade, não perdoa ninguém.
Somente quando ocorre uma dessas estranhas coincidências é que notamos o quanto somos infantis em acreditar em uma eternidade com alguém; notamos o quanto somos infantis em restringir nossas vidas a meras fronteiras ideológicas e territoriais; o quanto somos limitados ao não aceitar defeitos e limitações.
Passou, não apenas o tempo. Junto com as rugas, as células mortas e todo o lixo produzido, o respeito e a admiração também foram esquecidos, desintegrados até não restar nada mais uma leve lembrança.

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