Solidão alheia
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Foto: Manoel de Barros, em Menino do mato |
A solidão alheia preocupa-me. E muito. A minha não - eu leio, escrevo, estudo, ouço álbuns, reflito, planejo, estabeleço e destruo metas, meço o cabelo e por aí; acaba que nem lembro dela, apesar dela estar sempre quietinha na cadeira ao lado.
Já a alheia é perigosa. Fatal. Terrível.
Os outros buscam outras solidões para sobreviver aos dias, às lembranças, às manias, aos achismos. O problema é que é uma solidão como remédio para outra. É quase como tratar um doente do fígado com cachaça - não sai nada de bom.
E o pior: conformam-se com pouco, com maus-tratos, com grosserias apenas para não encararem a realidade inevitável - a solidão não se trata, convive-se com ela.
Daí, os resultados imediatos são casamentos frustados, negócios fracassados, discussões drogas, agressões, fofocas, religiões ridículas.
A solidão alheia é perigosa porque causa destruição por onde passa. Prefere ferir a sorrir. É motivo e combustível de intrigas. É o demônio encarnado na mente.
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